Juliana
O prédio onde ficava o Grupo Smith era o extremo oposto de Hamilton Inc. Diferente do arranha-céu de aço e vidro no qual eu trabalhava diariamente, aquele edifício era de tijolos, tinha apenas quatro andares, e era rodeado por árvores. Estacionei meu carro depois de passar pelo guarda da entrada, que sorriu para mim agradavelmente e me entregou um crachá de visitante. Entrando no prédio, outro guarda me cumprimentou e me disse que o escritório de Léon Smith ficava no último andar, depois me desejou um bom-dia.
Minutos depois, uma secretária me levou a uma sala de reuniões, me deu uma xícara de café fresco e me disse que Léon estaria comigo em um instante. Aproveitei o tempo para observar os detalhes da sala em que estava, mais uma vez impressionada pela diferença entre
as duas empresas.
Hamilton Inc. era toda moderna. Os escritórios e a sala de reuniões eram decorados com arte, branco e preto era a paleta predominante. Até a arte era monocromática com bastante metal por todo lugar. Cadeiras duras e modernas, mesas com tampo de vidro e piso laminado, tudo frio e vago. As paredes do grupo Smith eram decoradas com painéis de carvalho, havia uma mesa de reunião oval de madeira rodeada por cadeiras de couro acolchoadas, e tinha um tapete alto e macio no chão. Uma área aberta à direita abrigava a cozinha eficiente. As paredes mostravam muitas campanhas bem sucedidas, todas emolduradas e apresentadas de forma graciosa. Muitos prêmios decoravam as
prateleiras.
Em um canto da sala estava o quadro de idéias. Havia rabiscos e idéias esboçadas nele. Aproximei-me, analisando os desenhos, rapidamente absorvendo a estrutura da campanha que
eles estavam criando para uma marca de sapato. Estava tudo errado.
Uma voz profunda me tirou das minhas reflexões.
—Pela sua expressão, eu diria que não gostou do conceito.
Meu olhar encontrou uma expressão divertida de Léon Smith. Havíamos nos encontrado por causa da indústria algumas vezes, sempre foi educado e distante , um aperto de mãos profissional e uma conversa breve eram as únicas interações. Ele era alto e confiante, com
muitos cabelos grisalhos que brilhavam sob as luzes. Mais de perto, a cordialidade em seus olhos e o baixo tom de voz me atingiram.
Pensei se o quadro de idéias não tinha sido deixado de propósito, algum tipo de teste.
Dei de ombros.
—É um bom conceito, mas não é novo. Uma família usando o mesmo produto? Já foi feito.
Ele encostou o quadril na beirada da mesa, cruzando os braços.
—Foi feito, mas foi bem-sucedido. O cliente é Kenner Shoes. Eles querem conquistar mais clientes.
Assenti.
— E se você fizesse isso, mas só destacasse uma pessoa?
— Gostaria de ouvir mais.
Apontei o desenho da família, batendo o dedo no caçula.
— Comece aqui. Foque nele. A primeira aquisição deles: sapatos comprados por seus pais. Siga-o ao crescer, enfatizando alguns pontos pertinentes na vida conforme os usava: primeiros
passos, primeiro dia de aula, escalar com amigos, praticar esportes, ir a encontros, formatura, casamento... _minha voz sumiu.
Léon ficou quieto por um instante, então começou a assentir.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Acordo
FanfictionJuliana Valdez é uma executiva tirana que trabalha para uma empresa que visa apenas lucros. Após ser passada para trás por um colega de trabalho, acabou não conseguindo fazer parte da sociedade que tanto queria. Assim, com um plano de se vingar do c...