Duas opções

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Juliana

Acordei confusa. Depois de um instante, percebi que estava no sofá. Sentei-me, fazendo careta, segurando minha cabeça dolorida. Eu merecia, mas ainda era uma merda. Com cuidado, ergui meus olhos, surpresa em ver uma garrafa de água e Tylenol na mesa diante de mim. Pegando-os, engoli dois comprimidos e bebi toda a água. Quando me levantei, o cobertor que estava sobre meu peito caiu no chão. Ao me abaixar para pegá-lo, lembrei com meu pensamento lento.

Depois que Valentina saiu, peguei mais uísque, suas palavras rodopiavam em minha cabeça. Em algum momento, devo ter desmaiado, e ela, obviamente, veio e me cobriu, deixando o remédio e a água, sabendo que eu sofreria ao acordar.

Apesar de ter sido bem mais imbecil com ela do que o normal, ela ainda cuidava de mim. Minhas pernas estavam tremendo, então me sentei, relembrando-me das palavras que ela jogara em mim na noite anterior... por que concordara em me ajudar. Por que ela passou por perrengues... para cuidar da mulher que a pegou e lhe deu um lugar seguro e um lar. Eu fechei os olhos e a depreciei por isso, sem nunca me incomodar perguntando os detalhes. Sem realmente vê-la como a boa pessoa que era por dentro.

Uma onda de náusea me atingiu, subi correndo, esvaziando o estômago da quantidade estrondosa de uísque que ainda fazia efeito. Depois, tomei um banho e mais Tylenol. Não parava de ouvir suas palavras, e a dor por trás delas. Meu comportamento do último ano se repetia em minha mente. Minhas piadinhas cruéis, minhas palavras duras e meu jeito ignorante. Apesar de como eu a tratava, ela colocara as necessidades de outra pessoa à frente e manteve a cabeça erguida. Fazia seu trabalho, e eu tinha de admitir que fazia bem, com orgulho e zero incentivo positivo de mim.

Analisei meu rosto no espelho, pela primeira vez na vida, senti o calor da vergonha me queimar, e baixei o olhar.

Eu tinha duas opções.

Ignorar o que aconteceu na noite anterior e torcer para Valentina continuar com nosso acordo. Eu sabia que se não tocasse no assunto, ela também não o faria. Ela presumiria que eu não me lembrasse do que aconteceu. Ou agir como uma adulta madura e procurá-la, pedir desculpas e tentar seguir em frente. A fim de fazer isso, eu precisava fazer um esforço e, no mínimo, compreendê-la. Eu não tinha dúvida de que, agora, o casamento estava fora de cogitação, mas ainda poderíamos continuar como noivas.

Saí do balcão, ignorando o martelar em minha cabeça.

Era hora de descobrir mais sobre minha noiva.

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— Juliana, eu não esperava vê-la hoje. Ou pelo menos não tão cedo.

Olhei para cima, tirando o olho da tela do computador.

— Ah, León. _arrumei meu cabelo e passei uma mão no pescoço de forma nervosa.
— Havia algumas coisas que eu queria pegar e, ahn, pegar meu carro.

Ele entrou no meu escritório, sentando-se diante da minha mesa. Juntei as mãos sobre a madeira escura, tentando impedir que meus dedos se mexessem.

— Preciso me desculpar por ontem à noite, bebi demais. Acredite, aquele não é um comportamento normal para mim.

Ele riu e acenou.

— Todos já passamos por isso, Juliana. Depois de tudo pelo que passou e agora começou conosco, é compreensível. Além do mais seu grande dia é hoje, acho que você merecia relaxar.

O AcordoOnde histórias criam vida. Descubra agora