Onde eu me meti?

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Valentina

Eu não conseguia dormir. Não importava o quanto eu tentasse, não conseguia cair no sono.

Eu estava exausta mental e fisicamente, mas não conseguia relaxar. Os eventos estranhos dos últimos dias se agitavam em uma constante em minha mente. A oferta inesperada de Juliana, minha resposta mais inesperada ainda, e a reação dela em relação ao local onde eu estava morando. Eu fiquei enojada e furiosa, com seu comportamento autoritário e comum. Antes de eu poder piscar, minhas poucas coisas estavam no porta-malas de seu carro grande e luxuoso, e eu estava de volta em sua casa... de forma permanente ou até acabar aquela farsa. A farsa na qual agora eu estava totalmente envolvida tanto quanto minha chefe.

O apartamento era silencioso. Não havia literalmente nenhum barulho. Eu estava acostumada com os sons que me rodeavam à noite; tráfego, outros inquilinos andando para lá e para cá, gritando, e o som constante de sirenes e violência do lado de fora da minha janela.

Eram esses ruídos que me mantinham acordada, algumas vezes com medo, e mesmo agora que não tinha nada, eu não conseguia dormir. Sabia que estava segura. Aquele lugar era cem, não, mil vezes mais seguro do que o quarto horrível em que morei no último ano. Eu deveria conseguir relaxar e adormecer tranquilamente.

A cama era enorme, alta e macia, os lençóis de seda eram macios e chiques, e o edredom parecia uma pluma quente flutuando sobre meu corpo. No entanto, o silêncio era muito grande.

Saí da cama e fui até a porta. Eu a abri, estremecendo pelo barulho baixo que as dobradiças faziam. Estiquei minhas orelhas, mas não consegui ouvir nada. Estávamos muito alto para ouvir o tráfego, e as paredes eram bem isoladas, então não se ouvia nenhum barulho dos vizinhos no prédio.

Andei na ponta dos pés pelo corredor, parando na frente da porta do que eu sabia que era o quarto de Juliana. Ela estava entreaberta e, corajosamente, abria-a um pouco mais e enfiei a cabeça na abertura. Ela estava dormindo no meio da cama gigantesca, maior que a do meu quarto. Ela usava apenas um top e uma boxer, sua mão descansava no peito. Obviamente, os acontecimentos dos últimos dois dias não a estavam incomodando. Seu cabelo brilhante refletia contra a cor escura dos lençóis e, para minha surpresa, ela roncava. O som era sutil, mas constante. Relaxada, e sem o olhar de raivoso no rosto, ela parecia mais jovem e menos tirana. Na luz silenciosa da lua, ela parecia quase tranquila. Não era uma palavra que eu associaria a ela, e ela não pareceria assim se acordasse e me visse em sua porta.

No entanto, eu precisava ouvir o som de sua respiração regular e seu ronco ressoante. Para saber que não estava sozinha naquele lugar amplo e desconhecido. Ouvi por alguns minutos, deixei a porta dela aberta e voltei para meu quarto, deixando a porta entreaberta também.

Deitei de volta na cama e me concentrei. Estava baixo, mas eu conseguia ouvi-la. Suas bufadas esquisitas me ofereciam um pouco de conforto, um cordão salva-vidas do qual eu precisava desesperadamente.

Suspirei percebendo que, se ela soubesse que estava me confortando, provavelmente ficaria acordada a noite toda para me negar a segurança que me trazia.

Enterrei meu rosto no travesseiro e, pela primeira vez em meses, chorei.

Ela estava quieta pela manhã quando entrei na cozinha. Bebia de uma caneca grande e indicou que eu podia ficar à vontade com a máquina de café no balcão.

Em um silêncio bizarro, fiz um café, sem saber o que dizer.

— Não esperava companhia. Não tenho creme.

O AcordoOnde histórias criam vida. Descubra agora