O Almoço

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Valentina

Tive dificuldade de novo para dormir, então andei na ponta dos pés pelo corredor, abrindo a porta de Juliana. Naquela noite, ela estava de bruços, abraçada com o travesseiro com um braço e o outro estava pendurado na cama gigante. Ela ainda estava

Roncando, um barulho baixo e rouco que eu precisava ouvir.

Analisei o rosto dela na luz da lua. Contornei meus lábios com o dedo, ainda chocada por ela ter me beijado, me segurado nos braços e dançado comigo. Eu sabia que tudo fazia parte de um grande plano, mas havia momentos, vislumbres, de uma mulher diferente a que eu estava acostumada a ver. O flash de um sorriso, um brilho em seu olho, até uma palavra gentil, tudo isso me pegou desprevenida naquela noite. Queria que ela deixasse mais vezes essa sua característica aparecer, mas ela guardava seus sentimentos bons a sete chaves. Eu já tinha percebido isso. Sabia que, se dissesse alguma coisa, ela se fecharia ainda mais. Então, permaneci em silêncio, pelo menos por ora. Tinha de admitir, no entanto, que beijá-la não foi nada ruim. Considerando o veneno que sua boca podia produzir, seus lábios eram quentes, macios e carnudos, e seu toque era gentil.

Ela resmungou e se virou, levando os cobertores com ela, seu tórax comprido e esguio agora ficara exposto. Engoli, parcialmente me sentindo culpada por encará-la, parcialmente maravilhada. Ela era um mulher linda, pelo menos por fora. Ela murmurou alguma coisa incoerente, e eu recuei, saindo da porta, voltando para meu quarto.

Ela estava um pouco mais feliz naquela noite, mas duvido que reagiria bem se me visse encarando-a enquanto ele dormia.

Ainda assim, seus roncos baixinhos me levaram para um sono tranquilo.

Saí cedo e fui visitar Penny. Ela estava bem acordada e com bom humor. Ela me reconheceu, espremeu meu nariz e nós conversamos e rimos até ela cair no sono. Bebi meu café enquanto ela dormia, olhando alguns dos quadros que ela estava pintando. Escolhi um que estava gostando particularmente de algumas flores selvagens, e o estava admirando quando ela se agitou. Ela me observou, depois virou sua cadeira e apontou para a pintura.

— Gosto deste. _sorri.
— Me lembra de quando saíamos para colher flores no verão.

Ela assentiu, parecendo distraída.

— Vai ter de perguntar à minha filha se está à venda. Não sei onde ela está.

Minha respiração parou na garganta. Ela havia desaparecido de novo. Os instantes de lucidez estavam ficando cada vez mais raros, e eu sabia que era melhor não chateá-la.

— Talvez eu possa pegá-lo e tentar encontrá-la.

Ela pegou o pincel, virando-se para seu cavalete.

— Pode tentar. Ela deve estar na escola. Minha Vale é uma menina ocupada.

— Obrigada pelo seu tempo, sra. Johnson.

Ela apontou para a porta, me dispensando. Saí do quarto, agarrada à pintura, sufocando as lágrimas. Ela não me reconhecia, mas, lá no fundo do coração, ela ainda pensava em mim como sua filha. Da mesma forma que eu pensava nela como minha única família.

Era um lembrete do motivo pelo qual estava fazendo aquilo com Juliana. Fingindo ser quem eu não era. Era por ela.

Sequei meus olhos e voltei para o apartamento.

O AcordoOnde histórias criam vida. Descubra agora