Estou com você

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Juliana

Olhei para Penny com a testa enrugada. Eu estava empolgada que o mesmo trio de jazz que vimos antes estava fazendo uma apresentação extra naquela noite, mas ela havia ficado estranha toda a noite. Mais de uma vez, ela ergueu a mão, secando uma lágrima que rolava pela sua face. Quando, preocupada, perguntei se estava tudo bem, ela abanou a mão impaciente.

— Estou bem.

Porém, ela parecia tudo, menos bem.

Eu a levei de volta para seu quarto, torcendo para que a surpresa que eu estava guardando animasse seu espírito.

Valentina mencionou que Penny não estava comendo bem nos últimos dias e parecia cansada. Naquela noite, sua cuidadora me disse que ela mal tocou no jantar e que só almoçou porque Valentina lhe deu na boca.

Eu sabia que Valentina estava preocupada. Ela pensara em cancelar a aula de ioga, mas a encorajei a ir. Eu a lembrei que só faltavam duas aulas, então ela poderia se juntar a nós toda terça. Eu passaria menos tempo sozinha com Penny, mas as aulas recomeçariam um mês depois, então voltaríamos a ser só nós duas. Minha parte favorita da noite era escutar as histórias de Penny sobre Valentina. Havia tantas... algumas que Valentina se esqueceu completamente. Sempre tinham momentos engraçados e embaraçosos que me faziam rir.

Sentei-me ao lado de Penny, pegando uma caixa de pizza com um sorriso.

— Voilà!

Quando descobri que, depois de cheeseburgers, pizza era sua comida preferida, comecei a trazer para ela com regularidade. Estava autorizada pelo asilo e eu me certificava de ter para todos os funcionários. Um dia, trouxe pizza suficiente para cada morador que quisesse comer.

Fui uma heroína naquele dia.

Hoje, no entanto, era apenas para Penny.

Ela pegou uma fatia, mas não mexeu um dedo para comer. Com um suspiro, peguei sua fatia de volta e devolvi a caixa. Envolvi minha mão em seu punho frágil, acariciando a pele delicada da palma de sua mão.

— Penny, o que foi? O que há de errado?

Soltou um suspiro profundo, parecia esgotada e resignada.

— Estou cansada.

— Quer que eu chame Connie? Ela pode te ajudar a se deitar.

Tami não estava naquela noite, mas ela gostava de Connie também.

— Não. Não quero dormir.

— Não entendo.

Tirando sua mão, ela esfregou seu rosto de uma maneira exausta.

— Estou cansada de tudo isso.

— Seu quarto? _se ela quisesse um diferente, eu pagaria para ela.

— De ficar aqui. Nesta... vida, se é que pode se chamar disso.

Eu nunca a tinha ouvido falar desse jeito.

— Penny...

Ela esticou o braço e me deu a mão.

— Eu esqueço as coisas, Juliana. O tempo passa e não sei se é o mesmo dia que foi há um minuto. Valentina vem me visitar e não consigo me lembrar se ela esteve aqui há horas, dias, ou se acabou de sair. Alguns dias, não reconheço nada, e fico com medo. Sei que há dias que não a reconheço. _sua voz tremeu, seus olhos brilharam com lágrimas.

O AcordoOnde histórias criam vida. Descubra agora