Juliana
Acordei sozinha, com minha mão nos lençóis frios e vazios. Não fiquei surpresa. Valentina estava mais inquieta do que o normal nas últimas noites, na noite anterior parecia pior. Tive de puxá-la de volta para mim mais de uma vez, sentindo os soluços que ela tentava esconder. Eu a abracei durante toda a noite, permitindo que ela aliviasse todas aquelas emoções.
Passei a mão no rosto e me sentei. Eu tomaria um banho, depois a encontraria na cozinha. Tinha que conversar com ela. Havia muito para ser esclarecido, uma imensidão de coisas pelas quais tinha de me desculpar para que pudéssemos seguir em frente... juntas.
Joguei as pernas para fora da cama, peguei meu robe e me levantei. Comecei a andar até o banheiro e parei. A porta do meu quarto estava fechada. Por que estava fechada? Valentina estava preocupada em não me acordar? Balancei a cabeça. Ela era a pessoa mais silenciosa que eu conhecia, principalmente de manhã.
Cruzei o quarto e abri a porta. O silêncio reinava. Meus ouvidos não encontraram nenhuma música ou som da cozinha. Olhei para o quarto de Valentina. Sua porta estava aberta, mas não havia sons vindo do quarto também. Algo se contorceu em meu estômago, e eu não conseguia me livrar da sensação. Atravessando o corredor, olhei para dentro. A cama estava arrumada, o quarto, impecável e limpo. Parecia vazio.
Fui para as escadas, descendo dois degraus por vez, seguindo direto para a cozinha, chamando por Valentina. Ela não respondeu, e o cômodo estava deserto.
Fiquei parada, em pânico. Ela devia ter saído, talvez ido ao mercado. Havia muitos motivos para ela sair do apartamento. Corri para a entrada. As chaves de seu carro estavam no chaveiro.
Ela deve ter saído para caminhar, disse a mim mesma.
Voltei para a cozinha em direção à máquina de café. Ela tinha me mostrado como usá-la, então, pelo menos, eu poderia fazer uma xícara de café. Estava nublado lá fora, as nuvens estavam baixas e pretas. Ela iria precisar de uma bebida quente quando voltasse.
Só que, quando peguei o pote de café, vi seu celular no balcão. Ao lado dele, suas chaves do apartamento. Minha mão tremeu ao pegá-las.
Por que ela iria deixar suas chaves? Como entraria no apartamento?
Olhei de novo para o balcão. Estava tudo ali. Os cartões e o cheque que eu lhe dera. A cópia de seu contrato. Ela deixara tudo porque havia me abandonado.
Uma luz reluziu em meus olhos, e me inclinei para pegar seus anéis.
Minha memória foi atingida por flashes de imagens de Valentina. Quando eu entreguei a caixinha a ela e lhe disse que eu não iria me ajoelhar. O olhar em seu rosto quando coloquei a aliança em seu
dedo no dia em que me casei com ela por necessidade e não por amor. Ela estava maravilhosa, mas nunca falei para ela. Havia muitas coisas que eu nunca tinha lhe dito.
Tantas coisas que nunca teria a chance de lhe dizer... porque ela tinha ido embora.
Eu sabia que ela não estava lá, mesmo assim, verifiquei cada centímetro do apartamento. Quando olhei em sua cômoda e no closet, a maioria das roupas novas que eu comprara para ela ficaram, mas algumas haviam sido levadas. Suas duas caixas
ainda não desempacotadas estavam no closet, alguns de seus produtos estavam no banheiro, mas a mala havia sumido. Eu me lembrei de ter ouvido gavetas se abrindo e fechando na noite anterior. O que achei que fosse ela organizando e mudando as coisas de lugar, na verdade, era ela se preparando para ir embora.
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O Acordo
FanfictionJuliana Valdez é uma executiva tirana que trabalha para uma empresa que visa apenas lucros. Após ser passada para trás por um colega de trabalho, acabou não conseguindo fazer parte da sociedade que tanto queria. Assim, com um plano de se vingar do c...