31. Sobremesa antes do jantar.

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Tobias Bernstorf

A inquietação invade-me enquanto vejo Nihara sair para jantar com Harrison. Conheço bem a sua reputação de mulherengo e a sua falta de confiabilidade, mas não quero parecer controlador ou possessivo perante ela. Enquanto apresento uma ideia de parceria para os executivos estrangeiros numa reunião que já se estende por várias horas, sinto o meu aparelho vibrar sobre a mesa. Peço desculpas aos presentes e verifico a notificação. Fiorela enviou-me imagens.

Enrugo a testa, sentindo uma pontada de ciúmes.

    As imagens mostram Nihara e Harrison juntos. Até aí, tudo bem; eu sabia que eles tinham esse encontro marcado. No entanto, o local das fotos não é apropriado para a discussão que deveria ocorrer. Fico perplexo e confuso com o motivo de terem saído da empresa. Como mencionei, Harrison não é alguém em quem se confia, e isso é evidente na imagem em que ele segura a mão da minha namorada como se fossem um casal.

Minha contemplação nas fotos, é interrompida pela ligação de Nihara, antes mesmo que a fúria me domine por completo. Preocupado, atendo no segundo toque.

    — Niah...!

    — Meu amor, podes vir buscar-me, por favor? — sua voz está estranha.

    — Aconteceu alguma coisa? Pensei que voltariam juntos? — a minha preocupação se mistura com a desconfiança. O que esse otário fez? Questiono-me no íntimo.

    — Não se preocupe com isso agora, só não quis continuar. Houve um mal-entendido da parte dele. Por favor, vem logo, estou com frio e sinto que estou sendo vigiada..

    — Claro, meu amor. Chego aí em 10 minutos. Amo-te.

Desligo o telefone, sentindo um misto de irritação e inquietação. Eu entendo muito bem a que mal-entendido ela se refere. Acelero o carro, ansioso para chegar até ela, para mostrar a esse sujeito que essa mulher incrível é minha, e que ele deveria considerar-se sortudo por eu ser um profissional capaz de separar questões pessoais do trabalho. Caso contrário, eu não hesitaria em agir contra a competência dele e expulsá-lo da minha empresa.

    Estaciono o carro defronte ao restaurante, ignorando o sinal de proibição que indica tal ato. Saio do veículo e aproximo-me de Nihara, sentada nas cadeiras do lado de fora. Cubro-a com o meu casaco para afastar o frio. Quando me preparo para ir atrás de Harrison, ela segura o meu braço, pedindo para irmos embora.

Agora estamos no seu apartamento. Sempre que entro aqui, sinto-me acolhido. O ambiente é inspirador, organizado, banhado por uma luz suave e repleto de detalhes cuidadosos. Nihara assume a cozinha enquanto prepara o jantar, e eu ponho a mesa. Enquanto trabalhamos, conversamos animadamente, desvendando mais detalhes um do outro. Por vezes, pego-me admirando-a em silêncio, sorrindo, perdido na minha própria contemplação.

    — Tobias!

    — Sim?

    — Eu perguntei, o que preferes: viajar incessantemente sem criar raízes em lugar algum ou passar a vida inteira num único local?

    — Contanto que esse lugar tenha você, escolho a segunda opção — respondo, aceitando os utensílios que ela me entrega. Coloco-os na mesa e, em seguida, puxo-a para mim, beijando os seus lábios. Ela protesta entre risos, mas não consegue resistir-me e quem poderia?

    — Tobias, para. A sobremesa só depois do jantar — ela informa o seu sorriso aliciante.

    — Que tal invertermos a ordem e começarmos pela sobremesa? — sugiro, erguendo-a do chão e carregando-a nos braços. 

NÃO POSSO TE AMAR [Revisando]Onde histórias criam vida. Descubra agora