O Amor para Min. II

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A página aberta mostrava os galhos que levavam aos rostos de homens e mulheres, avós, tataravós: a árvore genealógica da família Real.

— Você sabe por que tenho que me casar? — na escrivaninha, JiSung se arrastou da cadeira. — Porque a linhagem precisa ser continuada.

Foi para a cama, onde o fantasma ocupava o outro lado: as costas estavam encostadas na cabeceira e tinha um livro nas mãos, lendo incessante, fixamente.

— Se eu tiver uma criança, o Conde vai o levar para uma sala espelhada... Na torre mais alta… Os espelhos refletirão em seu corpo e a cor azul estará no espectro… —  se estivesse, é claro. Tal coloração indicava que ele estaria propenso a se tornar o rei.

— Por isso dizem "sangue azul". Eu estive lá uma única vez.

No colchão macio, JiSung esticou os braços e as pernas. Deu um bocejo alto. Como único herdeiro, ele deveria se casar. Ter filhos. Mas não seria o que realmente desejava: passar sua vida ao lado de uma mulher. Não sabia… Era jovem demais para estar pensando sobre a linhagem, e casamentos.

— Eu não sei se quero tanto voltar para o castelo, e também…

Olhou para Min. Estava falando com o vazio, pois claramente, ele o ignorava. E JiSung ficava aborrecido quando se sentia falando às paredes.

— O que você está lendo, ehm!? — a cabeça se inclinou e deu uma olhadela no livro aberto.

O fantasma segurava um dos livros da biblioteca, da Casa dos Magos…

O príncipe reparou no comportamento atípico do fantasma, na pilha de romances acumulados sobre a escrivaninha. Min estava tendo um interesse repentino em histórias épicas.

JiSung raramente o via tão entusiasmado e por isso buscou algo novo, mais livros, que Min pudesse ler.

JiSung sorriu ao ver o outro concentrado. Ficou contente e concluiu que ele gostava do presente - embora não fosse um de verdade, e tivesse que, eventualmente, devolvê-lo.

O príncipe encostou a cabeça no travesseiro. Satisfeito. Fechou os olhos.

Min lia com extrema atenção as palavras. Na última semana usufruia obsessivo romances épicos e novelas de cavalaria. Investigava narrativas que exprimiam aquilo que sua alma era impedida de sentir.

"... deu-se conta do doce cheiro, da primavera em seus pulmões, daqueles cabelos…"

O livro fechou, foi posto sobre as penas. Min olhou para Ji Sung. Para o movimento do peito. Inspirando. Respirando. Os olhos indiscretos flutuaram sobre aquele corpo, para o cabelo, sobre as linhas dos fios no rosto do jovem deitado.

Cauteloso, o fantasma aproximou seu rosto ao do príncipe. A ponta do nariz tocou nos cabelos de JiSung. Mas sentiu o nada, não havia aroma, cheiro. Frustrou-se, ainda que tivesse conhecimento, que nem mesmo a primavera estaria naqueles cabelos, em Ji Sung.

Mas para JiSung, a primavera estava em HyunJin. Nas flores amarelas. E ao lado do loiro, agora, o príncipe caminhava sobre a trilha de terra. Ambos tinham suas mãos para trás, apreciavam o trajeto em meio às árvores e aos sons dos pássaros cantantes.

— Sempre tive curiosidade em conhecer a biblioteca de sua casa, da família Bang.

— Biblioteca?

JiSung tinha certeza: não havia uma biblioteca em sua casa. Na de Bang Chan. A menos que Hyun Jin falasse das grandes estantes de livros, dos aposentos de Bang. JiSung se lembrava bem de como eram grandes. Se lembrava das noites em que Min revirava aquele cômodo procurando os romances.

— Sim. A biblioteca de Bang… — os passos pararam. Hyun Jin viu a incerteza no rosto de JiSung.

O príncipe desconhecia o que dizia existir.

— Bang Chan não mostrou para você?

HyunJin baixou a cabeça. Os olhos andavam sobre o chão, pensava. Mas resolveu esquecer, por ora. Afinal, JiSung estava atrás de outros tipos de histórias.

Minsung - Espectro VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora