A Ausência de Min. III

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JiSung tentou dormir, mas já não conseguia e não mais pelo sonho ruim. A noite toda o peito latejava, desejando saber onde estava Min.

Quando saiu da cama, também pelo sol que iluminava o quarto, arrumou-se rapidamente e ainda que cansado, sentindo-se sonolento, percorreu pela casa mais uma vez.

— Você está procurando algo? — a velha criada havia notado como JiSung se movimentava, observando e entrando pelos quartos.

JiSung ficou surpreso. — Ah, bem... — encarando a mulher, pensando no que responder, questionou-se se talvez, apenas talvez existisse a possibilidade de:

— Por acaso, você... — Han coçou as bochechas — Você viu uma pessoa, maior que eu... — gesticulava erguendo o braço acima da altura de sua cabeça. — Com roupas pretas...

A criada arregalou os olhos. — Um ladrão?! Alguém invadiu a casa!?

— O quê? Não, não, não — desesperado balançava as mãos. — Ele tem cabelos pretos.

— Cabelos pretos?

Ela sabia: existiam poucos daqueles que tinham cabelos escuros, aqueles que descendiam a Yang, ainda mais poucos dos quais JiSung possuía aproximação. — Você está procurando JeongIn? — indagou a mulher de braços cruzados.

— Bem, na verdade não...

A pobre criada não parecia entender. Quem exatamente JiSung procurava? — Ah querido, eu não sei sobre quem você fala, mas já perguntou para eles?

Para eles: os criados da casa. E adiantava perguntar aos criados, quando eles estavam encolhidos, apreensivos e agiam estranhamente em sua presença?

— Irei conversar com eles sobre essa atitude. Mas não custa você perguntar.

Persuadido pela mulher, JiSung tentou conversar com os criados, questionando-os, usando das mesmas descrições. E todos tinham uma resposta semelhante, balançando suas cabeças de um lado ao outro, negando-se a falar muito. A resposta de que nunca viram alguém com tais cabelos pretos, de que nunca haviam visto Min.

Pois claro, ninguém além de JiSung poderia o ver.

E por JiSung conseguir vê-lo, existia ao menos a certeza de que Min não se encontrava na propriedade dos Bang.

Era difícil de se imaginar que ele poderia ter saído, pois se quer Min havia pisado, cruzado a linha para fora daquele lugar. Min parecia não gostar da ideia de se aventurar pela cidade, mas também uma espécie de medo.

Entanto ali, o fantasma não estava...

Insana dúvida que tomara JiSung o fez sair para as ruazinhas novamente, para se aproximar timidamente de algum grupo de moradores, perguntando se, porventura, haviam se deparado com um rapaz de roupas escuras...

Os plebeus, tanto eufóricos e outros desconfiados dispunham-se a responder suas perguntas. Nenhuma pessoa conhecia um homem com tal aparência descrita, mas indicavam que "Vossa Alteza" fosse a Casa Medicinal, onde aqueles de cabelo preto viviam.

JiSung achava que não o encontraria ali, mas por cada "não" que ouvia, pelas ruas que passava e não o encontrava, já tomado pelo cansaço e talvez, pela desesperança, decidiu naquele fim da tarde ir ao Lar dos Òrfãos.

— Olá! — cumprimentou JeongIn com um sorriso, que logo desaparecera ao ver o rosto abatido do outro. E quando o estômago de JiSung grunhiu alto, o Yang se quer deu oportunidades para ele falar, o arrastando para dentro e o colocando para jantar a refeição que sua irmã havia acabado de preparar.

JiSung se alimentou como se antes nunca tivesse comido em toda a vida. Enquanto terminava, buscando os últimos grãos de comida em um singelo e simples prato, JeongIn, com cotovelos apoiados na mesa, pôs para fora o que sua cabeça indagava:

— JiSung, você está procurando alguém?

Os boatos se espalharam rapidamente, e depois do ocorrido no casamento de HyunJin, muito se comentava sobre JiSung ter recuperado seus poderes, que a sua "Alteza", o príncipe que herdaria o trono, era de fato o jovem que vivia com o último dos Bang...

Uma morna e cansada voz ressoou: — Você viu... — e por uma última vez, JiSung descreveu a Min.

— Não há ninguém de cabelos pretos aqui com essa altura, pelo menos não no orfanato, a maioria dos que vivem aqui ainda são adolescentes ou crianças...

— Entendo... — JiSung se levantou, o corpo pesava-se sobre as pernas, seria difícil andar. Estava com sono.

JeongIn se levantou. — JiSung, acho que você não está bem. Fique aqui mais um pouco...

— Não, eu estou bem. Obrigada pela refeição.

O Yang suspirou, diante a teimosia de JiSung, apenas desejou que ele chegasse seguro em casa.

[...]

Quando voltou, JiSung correu para a cama e desabou por ali, dormiu instantaneamente. Logo acordou com a respiração pesada.

Se viu na cama, ao lado do espaço vazio do colchão onde se deitava. O coração acelerou e ofegante pelo pesadelo, o corpo encolheu.

Onde estava Min? Por que Min não voltava? Havia dito algo que o ofendeu?

JiSung puxou o travesseiro do fantasma, abraçou-o em busca de um conforto, até mesmo de seu calor. Mas estava fria.... Cada vez mais fria.

E agora JiSung não dormia.

Não só por causa dos coelhos, porque pensava em Min, e cada vez mais se sentia ansioso, preocupado. Não conseguia se concentrar. Não conseguia ler, escrever e mal se alimentar. Deixava a porta aberta, a janela e as luzes acesas, para que acordasse e visse Min ao seu lado da cama, ou para que se levantasse e visse Min no jardim.

Mas o fantasma nunca estava ali.

Agora as mãos de JiSung tremiam percorrendo a casa e o quarto, encarando todas as noites em pé sua cama vazia...

Não sabia o que fazer. Deveria pedir ajuda? Deveria tentar convencer que Min não era fruto de sua imaginação. De que o homem, também um fantasma, qual dividia o quarto havia desaparecido?

JiSung estava com medo, e se tornou maior quando em uma das noites saltou da cama: seus olhos diante das duas cadeiras postas na escrivaninha se encheram de lágrimas.

E enquanto as gotas inundavam o colchão e o coração se afundava pela angústia, as mãos trêmulas agarraram o lençol e o pânico o tomou por pensar na possibilidade... de que não conseguisse mais enxergar a Min.

Minsung - Espectro VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora