O Criado, YongBok. II

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[ Para o passado ]

YongBok estava encolhido sobre o chão frio do quarto, as perninhas abraçadas pelos próprios braços tentavam lhe aquecer. O sangue escorria de seu nariz e sua barriga brunia de fome.

Havia perdido a noção do tempo. Sem janelas, não poderia saber se o sol já havia chegado ou se a noite ainda estava por vir. Mas após tanto esperar, a porta rangeu, abrindo-se, revelando a claridão do outro lado e iluminando as costas o pequeno YongBok.

— Venha.

YongBok se virou e ao ver o outro menino, correu para o corpo dele. O abraçou desesperadamente.

— Soube que você conheceu o príncipe. Nosso pai ficou muito bravo — calorosamente afagou os cabelos escuros de YongBok.

O menino mais velho levou YongBok para seu quarto, onde o ergueu sobre a cama. Sentou-se ao lado... Abriu uma caixa onde estavam guardados frascos marrons... Molhou um pedaço de algodão...

— Vai arder um pouco, tente não se mover muito.

ChangBin o viu fechar os olhos, apertá-los com força. O remédio agia na ferida de YongBok.

Ele estava muito machucado. Ele era tão frágil.

— Me perdoe — ChangBin se levantou. A culpa recaia, por deixar YongBok sozinho novamente, de não poder impedir que ele apanhasse. — Você pode dormir no meu quarto, essa noite...

— Mas... — suplicou YongBok.

— É uma ordem.

A criança abaixou a cabeça, envergonhada. Deitou-se, puxou o cobertor em seu próprio corpo, então sentiu o incomodo, de algo que não vinha do colchão, mas de seu pequeno coração.

Não era correto deitar-se ali, mesmo que fosse confortável, mais quentinha que a de seu quarto, não parecia certo usar aquela cama. Não era certo usá-la, porque de certo YongBok incomodava, tanto a ChangBin como aos outros criados, e sempre estava com suas mãos muito sujas, escurecendo os lençóis.

Não, era porque era sujo, de corpo e alma. E ChangBin de certo não gostava de estar perto de alguém de sua natureza. YongBok sabia, pela madrugada quando abria os olhinhos; via atrás das cortinas a sombra de ChangBin andando para fora, na sacada.

ChangBin não dormiria por sua causa? Por quê?

Medo, era o que fazia ChangBin passar a madrugada em claro, caminhando pela sacada com algum livro na mão. Às vezes rodeando o quarto, garantindo que ninguém aparecesse de surpresa, incomodando o sono de seu pequeno YongBok...

Pela manhã, quando YongBok viu ChangBin á escrivaninha, rapidamente saiu da cama e tratou de tirar os lençóis, toda a roupa de cama.

Diante a um livro, o menino mais velho espiou ligeiramente a criança, o viu com certa com dificuldade colocar uma nova roupa de cama.

YongBok correu para abrir o quarto, as cortinas.

— Deixe para as criadas fazerem isso. Venha aqui.

Obediente, YongBok soltou as cortinas, andou para de frente para a mesa onde ChangBin estava.

— Vá para a cozinha e traga meu café da manhã.

O pequeno balançou a cabeça, para cima e para baixo.

...

Voltando da cozinha, YongBok segurava uma bandeja, equilibrando-a com cautela com seus braços tão curtos e mãos tão pequenas. Mas a colocou na cama, embora a dificuldade.

ChangBin levantou. Perto da cama, da bandeja, pegou uma maçã, mordiscou um pedaço de pão. — Você pode comer o resto — voltou para a mesinha.

YongBok apontou para um prato, a combuca ali: — Mas eu não gosto dessa sopa de aveia.

— Você está reclamando?

YongBok pegou a bandeja, a pôs sobre o tapete onde sentou-se também. — Estou. Você poderia ter mandado deixarem aqueles biscoitinhos de chocolate.

ChangBin sorriu. YongBok estava de volta. — Você só come esses biscoitos, nem toca nas frutas.

— Mas você também gosta deles. Você também come bastante — abocanhou um pedaço de pão.

De cima, a escrivaninha, ChangBin observava a criança comer. — YongBok... Você conversou com o príncipe?

Com as bochechas cheias, e um pão maior que suas mãos, YongBok balançou a cabeça, confirmou.

— E o que ele disse para você?

YongBok terminou de engolir o que mastigava. Olhou para baixo, envergonhado mais uma vez. — Ele... Ele disse que somos amigos — as bochechas de YongBok estavam vermelhas.

— Você quer ver ele de novo?

— Sim! — YongBok ergueu o rosto. — Eu quero, sim!

Minsung - Espectro VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora