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Jenna

Minha mãe estava a um tempão tirando as coisas da cozinha no lugar e arrumando novamente.
Já estava de noite e ela não trocou nenhuma palavra comigo.

Cheguei devagar perto dela na cozinha. Ela me olhou, mas voltou a mexer nas louças.

- Mãe, desculpa. - Falei a primeira coisa que veio a minha cabeça.

- Por que está pedindo desculpa? - Ela perguntou sem me encarar.

- Por não ser a pessoa que você pensou que eu fosse. Por não ser uma garota que gosta de garotos, e por não ter te contado antes.

Meus olhos se encheram de lágrimas. Eu não sei se ela está me odiando, se vai continuar me amando.

- Ta bom. - Ela está indiferente.

- Você está me odiando agora? - Perguntei. - Se quiser posso sair de casa...

- Jenna, que mãe você pensa que eu sou? - Pela primeira vez ela olhou nos meus olhos. - Alguma vez eu te julguei, mandei você ir embora de casa?

- Não, mas é que a senhora não trocou nenhuma palavra comigo, então...

- Eu só preciso me acostumar com a ideia de que minha filha gosta de garotas. Preciso de um tempo para processar que eu peguei você e sua "amiga" se beijando na sala.

- Se quiser posso ir pra casa do Hunter ou da Emma, ai você tem seu espaço para pensar. - Falei.

- Não é isso filha.

- Então por quê ficou aqui, não quis conversar comigo?

- Eu não queria falar nada na hora que eu vi vocês lá na sala porque poderia me arrepender das coisas que iria falar.

- Não entendo.

- Jenna, eu não poderia falar nada naquele momento. Não podia correr o risco de falar besteira pra você e pra Emma, não iria me perdoar se falasse algo errado e você não quisesse mais como mãe.

- Mãe...

- Olha, só me dá um tempinho pra me acostumar com isso. Não vou te julgar ou apontar o dedo, não sou assim.

- Eu sei.

- Eu nunca te abandonaria por causa da sua sexualidade.

- Eu fiquei com medo de você me odiar, de não me querer mais por perto.

- Eu te amo, filha, nada no mundo me faria te odiar. - Ela veio até mim e me abraçou.

Nesse momento eu não segurei, acabei chorando. Eu escondi minha sexualidade por tanto tempo que não consigo acreditar que agora minha mãe sabe.

- Você vai me dar o tempo para eu me acostumar? - Ela perguntou segurando meu rosto.

- Não vou fazer nada perto de você, prometo que vou respeitar seu espaço. - Falei abraçando ela novamente.

- Na verdade eu comecei a desconfiar ontem quando vi vocês na piscina, mas achei que era coisa da minha cabeça.

- Você não vai mudar com a Emma, né? Tipo, não vai tratá-la mal, certo?

- Alguma vez eu tratei o Hunter mal? Eu tratei ela mal quando soube que ela era lésbica?

- Não.

- Você está me julgando muito mal, Jenna, nem parece que é minha filha.

- Desculpa, só não quero que a senhora a trate mal.

- Vocês estão namorando?

O que eu diria pra minha mãe?

Que sim, ou que não?

Mas ela nos viu no maior amasso lá na sala, se eu disse que não, o que ela iria pensar de mim.

- Sim, namoramos. - Merda, a Emma vai me matar.

- Agora entendi o grude, o tempo todo juntas. Nem o Hunter vem a essa casa igual a Emma, e olha que o Hunter é seu amigo a quase 3 anos.

- Pois é.

- O que você quer falar? - Ela perguntou ainda me olhando.

- Posso ir pra casa da Emma? É que ela ficou preocupada com você e comigo.

- Eu nem te mando mais, esqueceu que passou dessa fase? - Minha mãe falou rindo. - Mas por mim, pode ir, também vou sair daqui a pouco.

- Pra onde vai?

- Lá no bingo.

Aqui perto de casa tem um salãozinho de eventos, todos os dias tem bingo, e alguns prêmios. Geralmente só vai pessoas mais velhas.

- Ta bom. - Abracei minha mãe mais uma vez. - Eu te amo, obrigada por me aceitar como sou.

- Eu que te amo muito, meu amor. Você é meu maior orgulho. - Ela deixou um beijo na minha testa.

Eu sorri e fui para o meu quarto.

👍🏽

Você mandaOnde histórias criam vida. Descubra agora