Capítulo 1

2.1K 120 54
                                    

     Itaú de Minas, Sudoeste de Minas Gerais

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


Itaú de Minas, Sudoeste de Minas Gerais

     Uma chuva torrencial está caindo lá fora e não faço ideia de que tipo de pessoa frequenta uma papelaria em um dia como este. Eu devia estar na minha cama, entre os lençóis macios, bebendo uma xícara grande de chocolate quente e mastigando os pães de queijo que a minha mãe certamente preparou. Dias de chuva, definitivamente, são impróprios para acordar cedo e ir trabalhar. Devia ser proibido fazer outra coisa que não seja prolongar o sono por mais umas cinco horas, no mínimo.

Encaro as poças de água da chuva que se
acumulam na calçada em frente ao estabelecimento. Solto um suspiro e tento visualizar uma manhã ensolarada. Apesar de gostar muito de chuva, entendo que ela não é favorável para um estabelecimento comercial. A papelaria não vai nada bem e eu preciso alcançar a minha meta se quero permanecer no emprego. No entanto, já são quase dez da manhã e ninguém pisou com os pés sujos de lama na cerâmica que custo a deixar branca. Eu a limparia com gosto se significasse uma venda, umazinha que fosse.

Como se escutasse os meus pensamentos, uma pessoa, toda coberta com uma capa de chuva preta, adentra a papelaria e, em menos de um segundo, consegue deixar o chão em uma coloração marrom que logo me dá nos nervos. Observo o possível cliente e acompanho sua dificuldade de se livrar da capa, até que percebo que se trata de uma linda mulher. Da minha linda mulher. Bom, pelo menos ela será um dia.

— Keana, o que faz aqui? — pergunto e saio de trás do balcão para ajudá-la a pendurar a capa de chuva em um aparador modesto, grudado na parede. Seus cabelos longos e castanhos permanecem intactos. Keana sempre parece ter saído de uma revista, não importa a circunstância.

— Papai não vem hoje — diz, sorrindo, analisando-me com seus olhos verdes naturalmente brilhantes, embora eles estejam opacos por causa do tempo frio. — Pediu que eu viesse verificar se você estava dando conta de tudo sozinha.

Abro os braços para que ela perceba que não há nada para dar conta, sozinha ou acompanhada. Ser funcionária do pai de sua noiva tem suas vantagens e desvantagens. Keana é um pouco mandona — às vezes acho que ela pensa que eu
também sou sua funcionária —, mas graças a ela tenho um emprego, além de certas regalias.

— A cidade está um deserto — comento. Keana faz questão de se aproximar um pouco, exigindo um gesto de carinho. Não gosto de beijá-la durante o expediente, mas acabo me inclinando e atendendo ao seu pedido. O beijo é rápido e estalado. — Não apareceu ninguém.

— Isso é ótimo! Vem comigo. — Ela segura a minha mão e me arrasta para os fundos da papelaria. Eu me deixo levar porque fico sem entender nada.

— O que está fazendo? Não posso deixar o balcão sozi...

— Preciso te mostrar um trem, vem aqui.
Atravessamos algumas prateleiras e estantes cheias de toda qualidade de papel, fita adesiva, itens para escritório e muita, muita cartolina. Tento puxar a minha mão a fim de me livrar de Keana, mas ela insiste e abre a porta de serviço.

Eu Nunca - Camren (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora