Capítulo 10

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Acima das nuvens entre Brasília, Distrito Federal, e João Pessoa, Paraíba

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Acima das nuvens entre Brasília, Distrito Federal, e João Pessoa, Paraíba


     — Eu nunca tinha dirigido um conversível antes! — fala Lauren em uma empolgação que me faz sorrir amplamente.

      É claro que não! Adorei vê-la entrar no clima, pilotando mais rápido que eu, em uma estrada desconhecida na região central do Brasil. Voltamos a Brasília em tempo recorde, me dá até inveja de sua desenvoltura ao volante. Estou feliz por ela estar se soltando voluntariamente.

     Bastou eu descobrir o que ela curtia. Consegui fazê-la soltar palavrões inúmeras vezes enquanto a gente cantava "Não Uso Sapato" com Charlie Brown, contornando mais uma coisa que ela disse que não faria. O vento e o ronco do motor disputaram conosco quem fazia mais barulho. Gritamos com força para as montanhas ao nosso redor, como um hino. Tudo bem que eu não odeio gente chique, mas convenhamos que estamos bem longe de sermos tão superficiais, mesmo que eu ceda a alguns caprichos, como ter alugado esse jatinho particular para voarmos até João Pessoa com mais conforto.

     — Muito menos viajado espremido em um carro por quase dez horas só para ver um pôr do sol que dura cinco minutos! — Ela solta uma risada tão gostosa que me contagia.

     Amo nos ver trocando as posições. A adrenalina  o  faz  falar  sem  pausas  desde  que entramos no avião. Não que eu esteja cansada ou cabisbaixa, mas meu reencontro com Deus sobre aquela pedra cinzenta foi tão fabuloso que me faz querer conservar a sensação por mais tempo. Eu já fiz muitas coisas loucas, mas é a primeira vez que dedico tempo, energia e dinheiro em me reconectar comigo mesma, com minha essência e divindade interior. Acho que, no fim, a saída de Austin de casa me fez repensar alguns aspectos que deixei de lado por muito tempo. Curtir a vida também é aproveitar tudo o que temos de melhor ao nosso dispor.

     — Aquele pôr do sol valeu cada segundo! — digo intensamente, com um sorriso contido.

Ainda sinto o calor de seu corpo aquecendo o meu, sua boca umedecendo meus lábios e me abençoando em um momento glorioso. Não sei por que o Destino quis que eu fosse até a Chapada dos Veadeiros para presenciar as belezas do lugar, mas sei que não saí de lá apenas com aquela imagem presa na minha retina. Há algo mais pulsando dentro de mim e desejando se repetir, basta eu estar no instante certo outra vez, o segundo perfeito para ativar essa sensação maravilhosa e indescritível. Por aquele sentimento, eu repetiria a viagem trezentas milhões de vezes e gastaria cada centavo do meu prêmio.

     — Eu nunca tinha subido em um avião também. Esse trem não vai cair, não, né, Camila?

     Agora entendi! Lauren está falando pelos cotovelos para esquecer que estamos viajando pelas nuvens do céu brasileiro e não com os pés, ou as rodas, firmes no chão.

     — De jeito nenhum! — rebato com firmeza e confiança. — Sabe quais são as chances de nos envolvermos em um acidente aéreo? — Seus dedos apertam os braços da poltrona larga e confortável, que está na minha frente, do outro lado de uma mesa fixa. Ela balança a cabeça negativamente e engole em seco. Está com medo, judiação! — Uma em quase seis mil! — explico, buscando na memória minha fixação por estatísticas. Ela arregala os olhos, espantada. — De carro, a gente correria muito mais risco. Acidentes de trânsito são o terceiro motivo que mais mata pessoas no mundo.

Eu Nunca - Camren (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora