Capítulo 2

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Itaú de Minas, uma cidadezinha do interior de Minas Gerais

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Itaú de Minas, uma cidadezinha do interior de Minas Gerais

Chuva! Isso só pode ser um bom sinal. Não entendo quem não gosta. Eu amo! Parece que o tempo para quando está chuvoso, tudo fica desacelerado e posso ver de verdade o que acontece a minha volta. Sou da terra da garoa, estou acostumada a ver o céu nublado e a receber o orvalho — ou gotas torrenciais — no cabelo rebelde. Chapinha? Para quê? Meus cabelos precisam ser tão livres quanto eu! Soltos, bagunçados, espetados para todos os lados, ao sabor do clima.

Não gosto de ter pressa, mas em São Paulo, a capital dos apressadinhos, era impossível. Se eu não acelerasse, perdia a condução e chegava atrasada ao trabalho, o que era uma rotina cansativa. Gosto de calma para observar, de vez em quando, e refletir sobre tudo o que estou vendo. Decidir me mudar para Itaú de Minas, uma cidade mil vezes menor que minha terra natal — sem nenhum exagero —, não foi difícil. Eu precisava de mudança e, quando uma oportunidade se apresenta, basta colocá-la na balança junto com meu momento atual, então fica fácil chegar à melhor decisão.

Austin, meu ex-namorido bissexual, havia deixado nossa casa há quinze dias para viver uma paixão com nosso amigo gay, assumidíssimo. Como é que eu, Karla Camila Cabello, uma mulher liberal, que acredita em liberdade completa, poderia lhe negar a felicidade ou julgá-lo por seus sentimentos? Quem é que escolhe por quem vai se apaixonar?

Nossa relação acabou bem e continuamos amigos, é claro, mas eu estava em um daqueles momentos em que devia seguir em frente. Como acredito que nada acontece por acaso, naquele mesmo dia, meu chefe me apresentou uma proposta irrecusável para assumir o Departamento Pessoal da filial da empresa em uma cidadezinha mineira. Ele me falou com um pouco de receio, como se eu fosse rir da cara dele e sequer pensar na proposta de deixar a metrópole onde nasci para me enfiar em um cantinho esquecido do mundo. Mal sabia ele que aquela oportunidade era tudo de que eu precisava! Na maior empolgação, aceitei o cargo e cuidei da transferência com um carinho enorme. A vida é uma mãe coruja que adora me mimar.

Cá estou, na terrinha do "uai, sô", em meu
primeiro dia efetivo na empresa. A mudança veio no fim de semana e, quando cheguei, já estava tudo pronto na minha nova casa. O escritório administrativo da Votorantim fica no centro de Itaú de Minas, por isso largo meu carro estacionado em frente ao moderno prédio da empresa. Chega a ser pecado dirigir em um município tão pequeno, mas como estava chovendo forte e eu não queria chegar ensopada na filial, optei pelo automóvel ao sair de casa pela manhã.

Caminho apenas algumas quadras até a lotérica que Allyson, minha nova assistente, me disse que é a casa de jogos mais próxima. Quero tentar a sorte! A Hiper-Sena está acumulada em nada mais, nada menos, que trezentos milhões de reais e aposto meu rim que este prêmio já é meu! Não foi à toa que o assunto entrou em nossa conversa durante o cafezinho.

Sou uma garota de probabilidade e sei que as
chances não são boas — uma em cinquenta milhões! —, mas basta que exista umazinha para que eu acredite. Se eu fizesse um bolão, minhas chances aumentariam muito, mas dividir o prêmio com uma galera que nem conheço direito não parece o mais sensato a fazer. Afinal, o que eles fariam com tanta grana? Isso diz muito sobre uma pessoa, e eu sei exatamente o que vou fazer.

Eu Nunca - Camren (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora