CAPÍTULO 7

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***

Ariane ajeitou a mochila nas costas e se dirigiu à escada que levaria ao segundo andar da mansão dos pais. Ainda era cedo e a casa estava silenciosa, ela torcia para não esbarrar no pai, que era o único que acordava antes das sete da manhã porque ia a empresa trabalhar.

Rezando à deusa para não encontrá-lo, ela abaixou a escada do sótão e desceu olhando para os lados freneticamente. Ao ver que o corredor estava vazio, empurrou a escada de volta ao lugar e caminhou apressadamente para sair dali.

No primeiro andar, ao passar em frente ao portal da sala de estar, seu pai surgiu de repente, esbarrando nela e a empurrando de encontro à parede oposta. Ariane engoliu em seco. Ele estava no telefone, mas encerrou a ligação no mesmo instante. Os olhos escuros como os dela a perfuravam de ódio.

— Ora, ora, ora... olha quem apareceu — ele disse se aproximando, Ariane se encolheu contra a parede, mas não adiantou. Ele segurou seu rabo de cavalo e a puxou até que Ariane caiu de joelhos.

No chão, ele chutou sua barriga e ela precisou de muita força de vontade para não vomitar o pouco conteúdo no estômago. Ela tentava respirar quando sentiu ele puxando sua mochila e a jogando em algum canto. Ariane viu o seu celular velho caindo no chão ao seu lado, a tela estava acesa. O número de Kiara aparecia na tela.

Ariane não pôde sequer pensar em encerrar a chamada que o aparelho velho havia feito acidentalmente para a doutora, porque seu pai tratou de puxá-la novamente pelos cabelos.

***

Kiara ouviu os gritos e gemidos de Ariane com as mãos na boca. Ela jamais, em toda sua vida, havia presenciado ou, no caso, ouvido, tamanha violência. Não sabia o que fazer. Quando tentou conversar com a garota sobre a violência do pai, Ariane foi curta e grossa: não queria que ela se metesse.

Mas Kiara não era uma filha da puta e não ficaria sentada sabendo que aquilo estava acontecendo. Ela não podia denunciar às autoridades humanas e sequer podia tentar denunciar ao homem que Ariane chamava de Alfa da sua alcateia, mas poderia tirar a nova amiga daquela situação.

Buscaria Ariane e a obrigaria a morar com ela, não ia deixar aquilo continuar acontecendo. Ela se formou, era uma médica, uma pessoa que dedicava a vida para cuidar de outras pessoas, nunca permitiria aquilo se pudesse fazer algo sobre.

Minutos depois a ligação caiu e Kiara tentou insistentemente ligar, mas Ariane não atendeu nenhuma das chamadas.

Angustiada, ela andou de um lado para o outro dentro do seu quarto. Tinha que trabalhar naquele dia, mas não teria a menor cabeça para tal. O pior é que não sabia nada sobre a garota, não sabia onde ela trabalhava, não sabia onde ela morava, não sabia se ela tinha redes sociais para tentar entrar em contato com qualquer parente dela e pedir informações.

Kiara não sabia nada além do nome e número de Ariane.

Determinada a não desistir, ela saiu de casa com o destino do hospital em mente, mas não iria trabalhar.

Ela estacionou o carro próximo ao hospital e percorreu os quarteirões ao redor em busca de uniformes semelhantes ao que sempre viu Ariane usando. Sua busca não foi de todo inútil, encontrou um restaurante self-service quase ao lado do hospital e as atendentes usavam a mesma roupa.

Kiara não pensou duas vezes antes de parar e pedir informações de Ariane, mas ninguém ali também tinha tido notícias dela desde o dia anterior e, como era de se esperar, Ariane não foi trabalhar.

Elas tinham combinado de se encontrar naquele dia para conversarem mais, mas Kiara decidiu ligar para a garota para confirmar o compromisso. Quando a ligação foi atendida, achou que se depararia com uma reclamação da garota loba, mas o que ouviu foi uma confirmação das lembranças que tinha acessado de Ariane.

Dentro do carro, Kiara encarava a rua atônita. Seu telefone começou a tocar, era Hiago. Já passavam das oito horas da manhã, ela tinha avisado que não iria trabalhar, mas provavelmente seu amigo só tenha descoberto naquele momento.

Com um suspiro, Kiara atendeu a ligação.

— Você está bem? Me disseram que você pediu para a Ana te cobrir no plantão porque não estava bem, o que você tem? — Hiago perguntou sem perder tempo ou dar bom dia.

Kiara suspirou.

— É, eu... — suspirou. — Não vou conseguir trabalhar hoje, estou resolvendo algumas coisas e tem muita coisa na minha cabeça, não ia trabalhar direito — finalizou e foi respondida com uns segundos de silêncio, antes de seu amigo falar.

— Kiara, o que está acontecendo? Por que não me conta pra eu te ajudar? Somos amigos há anos, por que...

— Uma amiga minha está sendo espancada pelo pai e eu não consigo encontrar ela. Eu não sei onde ela mora e isso está me preocupando porque estou com medo do cara matar ela, satisfeito? — disse rapidamente.

Hiago proferiu uma série de palavrões antes de respondê-la.

— Por que você não denuncia na delegacia? É aquela garota da biblioteca? — ele perguntou e Kiara bateu com a cabeça no banco do carro.

— Sim, é ela. Eu não denunciei porque... — se interrompeu, sem saber o que dizer. Não podia contar para ele que a garota era uma lobisomem, que os lobos escondem sua identidade dos humanos e por isso ela não podia denunciar numa delegacia humana. — É complicado. Íamos nos ver hoje, mas o pai dela... enfim, não sei o que fazer porque não sei onde ela mora e, mesmo que soubesse, não poderia ir buscar ela. Eu vou ter que... esperar.

Contou derrotada.

Ela não sabia em que situação a amiga estava, ela podia estar à beira da morte naquele momento e não sabia como chegar até Ariane.

Só podia torcer para que a garota resistisse até se verem de novo.

***

Quatro dias haviam se passado quando Kiara viu Ariane novamente. A garota não lhe respondia no celular e Kiara sabia que era por causa das perguntas que fazia sobre o pai dela. Por mensagem mesmo, Kiara sugeriu que a loba fosse morar com ela, mas Ariane somente visualizava as mensagens e não respondia.

Nesse dia Kiara foi trabalhar e, mais uma vez, saiu para almoçar com o restaurante em que a loba trabalhava como destino. Ariane não poderia ignorá-la para sempre.

Kiara escolheu uma mesa e esperou que alguém fosse atendê-la, quando uma garçonete chegou, avisou que queria ser atendida por Ariane, não demorou muito e a loba apareceu. Ariane deixou um suspiro sair quando lhe avistou.

Ela se aproximou da mesa e Kiara não perdeu tempo.

— Por que não responde as minhas mensagens? — soltou rápido. Ariane olhou para os lados antes de responder.

— Por que estou considerando a sua proposta — disse dando de ombros.

Ariane usava o uniforme de sempre: camisa polo vermelha com o logo do restaurante e uma calça leggin preta. Kiara a analisou de cima a baixo para ver se encontrava algum indício do que tinha escutado quatro dias atrás, mas a loba parecia intacta, apesar de saber que aquilo não era verdade.

— Considerando? — perguntou cruzando os braços.

A verdade era que Ariane já havia aceitado interiormente a ideia de que ia fugir da casa dos pais, só não tinha encontrado coragem para informar Kiara. A loba deveria esperar mais alguns meses, mas não sabia se conseguiria, não suportava mais lidar com os espancamentos do pai, que se tornavam mais frequentes e a deixavam mais debilitada.

— Ok, vou morar com você, mas me recuso que seja como favor. Vou ajudar nas despesas — Ariane disse, desistindo de resistir ao desejo de liberdade e esperança que aquilo lhe trazia.

Para a surpresa da loba, viu quando Kiara suspirou aliviada, não esperava que uma mulher que mal lhe conhecia se preocupasse tanto com ela.

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