CAPÍTULO 16

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CONFIRA A ORDEM DOS CAPÍTULOS ANTES DE LER! O WATTPAD BAGUNÇA OS MEUS CAPS!

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Hiago se preparava para mais um plantão quando ouviu baterem na porta do seu quarto. Tinha passado o final de semana na casa do pai, era uma tradição antiga da família, por isso tinha acordado mais cedo para ir trabalhar já que o pai e o irmão moravam longe do centro de SP, onde trabalhava.

Ele não sabia quem era, mas tinha uma ideia. Nos últimos dias, seu pai tinha se tornado cada vez mais insistente em relação a sua iniciação. Segundo o velho, Hiago seria o único a fazer tal coisa com vinte e nove anos.

Dizia que ele já era velho para iniciar e Hiago não duvidava, considerando a idade que seus primos e sobrinhos entraram na irmandade da família para lutar pela Causa. Ninguém da família dele se formou na faculdade já que dedicavam a vida a ela. Hiago era o primeiro porque conseguiu adiar a iniciação com a desculpa de que seria bom ter um médico na família caso alguém se machucasse nas caçadas aos lobisomens e vampiros, o que acontecia com muita frequência, por isso, apesar das rígidas regras da família, permitiram que ele adiasse a iniciação para se tornar o único médico da Irmandade.

Agora, três anos depois de concluir o curso, o assunto voltou, e a insistência do velho lhe preocupava. Via nos olhos do pai e irmão que em breve não teria mais como adiar.

Hiago teve o azar de nascer numa família que caçava seres que deveriam existir somente nos filmes e livros. Ele nunca gostou de fazer parte da coisa, por isso inventou de ser médico mesmo querendo ser professor de história, já que medicina era a desculpa perfeita e lhe daria mais tempo.

Mesmo nove anos depois, ele ainda não havia descoberto uma forma de evitar a iniciação. Ele não concordava e não gostava de muitas coisas na família, caçar seres vivos — mesmo que não sejam humanos — era uma delas. Não era a favor de matar qualquer coisa, não acreditava que eram parasitas que queriam roubar e dominar o mundo. Não sabia por que existiam, mas precisava de um motivo?

Balançou a cabeça para afastar os pensamentos. Três batidas soaram na porta. Hiago fechou o último botão da camisa social e abriu a porta para encontrar Caio, seu irmão mais velho.

— Papai quer falar com você antes que você saia — disse autoritário, não deixando dúvidas de que era uma ordem. Caio saiu logo em seguida.

Com um suspiro pesado, Hiago alcançou sua mochila em cima da mesa bagunçada e cheia de livros e, antes de sair do quarto, pegou um jaleco limpo dentro do guarda roupa. Caminhou pelo corredor sem pressa de chegar ao escritório do Sr. Jonas no final do corredor.

Bateu na porta e esperou para entrar no lugar escuro e com cheiro de cigarro velho em que o pai trabalhava o dia todo.

— Achei que não viria de novo — o velho disse sem tirar os olhos dos documentos que analisava. Hiago franziu o cenho, fingindo não saber do que ele falava. — Não se faça de idiota, Hiago.

— Não tenho motivos pra te evitar, pai — respondeu. Na verdade, ele tinha muitos, mas não diria aquilo para irritar o velho.

— Nesse caso, vai comparecer hoje à noite pra sua iniciação — falou ainda sem olhá-lo diretamente. Hiago respirou fundo, tentando conter a explosão de raiva que subia pela garganta.

— Pai...

— Não me venha com pai! — ralhou apontando o dedo para ele, finalmente o encarando. — Você nos pediu tempo para se tornar médico para a nossa família, agora já é um. Pediu tempo para trabalhar até adquirir experiência, se passaram três anos. Agora vai fazer a sua iniciação.

— Pai, me escuta, eu... Eu sou médico, não sou como vocês, não luto, entende? Se eu começar a ir com vocês nessas caçadas tudo isso vai ser em vão, eu posso morrer nelas e vocês não vão ter mais um médico para ajudar — Hiago explicou, sua mente formando argumentos antes que pudesse processá-los devidamente.

O velho abaixou a mão com uma careta e a bateu na mesa com força, os objetos em cima pularam. Num segundo ele ficou de pé, seu rosto demonstrando o mais verdadeiro ódio. Os óculos de armação simples na ponta do nariz, os lábios torcidos numa careta.

— Você acha que me engana, garoto? Você era o melhor nos treinamentos com seus primos e tenho certeza que ainda é, e se morrer nas caçadas será sua culpa por ter negligenciado o dever que tem com a sua família e com a humanidade todos esses anos — acusou saindo de trás da mesa, expondo a prótese no lugar do pé esquerdo, perdido numa das caçadas.

— Você vai fazer a sua iniciação, chega de desculpas. Não vou deixar você estragar a reputação da nossa família por covardia, é isso o que você se tornou, um covarde, mas não vou deixar isso acontecer — decretou.

Hiago suspirou deixando os ombros caírem. Não encarou o pai para que ele não percebesse o que Hiago faria através do seu olhar.

— E se você desaparecer de repente... Caso tente, sugiro que não volte nunca mais, e que suma com a sua namoradinha, porque se fugir como o covarde que é e te encontrarmos, ou ela, darei vocês de comida aos lobos no porão — ameaçou e Hiago engoliu em seco, sentindo aquela promessa entrar em meu cérebro como um sedativo nas veias. — Agora saia.

Hiago voltou a respirar quando saiu no corredor. O ar pareceu mais fresco e limpo. Com a mente um turbilhão logo às seis da manhã, caminhou até sua caminhonete estacionada na frente da casa.

Ir embora dali sempre foi um dos planos dele, o problema, era que não podia levar Kiara e não estava disposto a nunca mais vê-la. Ela não iria com ele se explicasse que sua família era louca.

Mas não tinha mais escolha, precisava falar com ela, precisava tentar, ou então, as coisas ficariam feias. Seu pai não entendia que Kiara não era namorada dele, não adiantou todas às vezes que explicou, então sempre aparecia em casa com uma mulher diferente, mas o velho tinha cismado com a sua melhor amiga e não tinha quem tirasse da cabeça dele que ela era especial para o filho mais novo. O que não era uma mentira.

Durante o caminho até o hospital, ele se amaldiçoou por ter envolvido Kiara em seus problemas, Hiago devia ter previsto que o pai estava sempre lhe observando.

***

Não muito tempo depois de Hiago ter saído, Caio entrou no escritório do pai.

— E então? — Caio perguntou enquanto o pai colocava os pés em cima da mesa, expelindo a fumaça do cigarro. — Vai ter iniciação?

O velho sorriu.

— Prepare tudo, será assim que ele voltar do trabalho — disse satisfeito e Caio assentiu.

— Ok, o Lázaro já estava espalhando que o Hiago é um covarde — resmungou antes de sair.

— E eu não sei? — Jonas se arrumou na cadeira giratória. — Peça para prepararem os lobisomens que o seu irmão vai matar hoje.

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