CAPÍTULO 8

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***

ARIANE

O dia amanheceu nublado, frio e com chuva fraca. Seu horário de trabalho começava dali duas horas, mas seu corpo não entendia isso. Ariane se mexeu na cama e gemeu de dor. Seus ferimentos tinham se curado, inclusive o tornozelo torcido, mas ainda sentia as costelas doloridas devidos aos chutes do pai, cinco dias atrás.

A desculpa que daria para o seu chefe? Não fazia ideia, só lhe restava dizer que não tinha acordado bem, e sem um atestado seria descontado um dia do salário.

Ela suspirou.

Estava cansada, preocupada, triste. Cinco dias depois da explosão de seu pai, estava ali, na casa da Kiara, uma garota que conheceu não faz nem uma semana. Uma desconhecida, que teve a bondade de se preocupar com ela e levá-la até a própria casa.

Ia ser franca, Ariane estava considerando o convite. Para falar a verdade, o aceitou quando guardou as coisas no guarda roupa vazio do quarto que a doutora cedeu. Não pretendia morar de favor, ia ajudar a pagar as despesas. Conversariam sobre isso quando a médica voltasse do expediente de trabalho, só restava a Ariane ir trabalhar também.

Ariane preferia viver como uma loba solitária a voltar para os pais. Não poderia informar ao seu Alfa sobre o seu sumiço porque ele a encontraria e, provavelmente, a mandaria de volta para o pai. Os machos são responsáveis pela família e pelas fêmeas, podem tratá-las como bem quiser e Ariane não voltaria aquela vida, mesmo que para isso tivesse que viver entre os humanos.

Depois de pronta, foi à academia, ia se exercitar antes de trabalhar porque precisava extravasar sua energia acumulada, algo que ela teria que encontrar uma solução em breve, pois precisaria se transformar.

O lugar estava diferente se comparado aos últimos dias, ela funcionava somente como academia de Box, Muay Tay e Jiu Jitsu. Não costumava ser vazia, mas estava ainda mais cheia, turmas novas de cada modalidade enchiam o salão principal de treino.

Ariane passou por várias pessoas antes de chegar ao vestiário, e depois de se arrumar, fez seu alongamento e começou o treino sozinha. Uma hora e meia depois já estava suada e pingando, quando voltou ao vestiário para um banho, várias carinhas novas lhe encararam.

Ela ignorou os olhares e ignorou que o assunto morreu quando entrou, tomou um banho e quando saiu, mal notou a única garota que havia ficado no vestiário.

— Oi! — ela disse e Ariane reprimiu um suspiro.

— Oi... — respondeu para não ser rude, já que a garota parecia animada por estar ali.

— Você dá aula aqui? — perguntou e Ariane, de costas para a outra, revirou os olhos enquanto lançava uma prece a deusa para que lhe desse paciência.

— Não.

— É aluna?

— Quem quer saber? — Se virou para a garota, que era mais baixa e de olhos e cabelos castanhos claros, a pele clara ressaltava os lábios rosados e carnudos. Não usava nenhuma maquiagem, o que ressaltou sua beleza inocente.

Se repreendendo internamente, Ariane desviou os olhos da inspeção que fazia ao corpo da colega de academia. Sempre recriminou os machos por atitudes como aquelas e estava fazendo o mesmo. Desviou os olhos para o seu armário no vestiário.

— Meu nome é Beatriz — a garota disse chegando mais perto, bem mais perto que o recomendado.

Ariane então focou sua atenção na garota. Como tinha acabado de sair do banho, usava somente um top e tinha uma toalha enrolada na cintura. Devido a proximidade, se incomodou com a invasão do seu espaço pessoal.

Arqueou uma sobrancelha, mas a garota não se sentiu intimidada.

— E o seu? — perguntou a Ariane.

— Por que quer saber? — rebateu, ela sorriu maliciosamente e se aproximou mais.

— Porque preciso de aulas extras, se estiver interessada em me ensinar... — ela murmurou sem tirar os olhos dos lábios de Ariane, que finalmente havia entendido o que estava acontecendo.

Algo cutucou seus seios e Ariane deu um passo para trás, nervosa com a situação.

— Se tiver interesse nas aulas, me liga — sugeriu entregando um pedaço de papel com o que Ariane deduziu ser o número de telefone dela.

Satisfeita, Beatriz deu uma piscadela e saiu rebolando.

Ariane permaneceu parada por pelo menos dez segundos, repassando toda a cena na cabeça. Encarou o papel em suas mãos, não tinha a intenção de ligar, mas hesitou antes de jogar fora e por fim, não o fez.

***

Hiago da Silva Santos finalmente levantou da própria cama para se arrumar para o plantão. Os olhos fundos e escuros denunciavam a falta de sono, seu corpo estava dolorido devido aos treinos com o pai e os irmãos na noite anterior, e já faziam três dias que não ia para a academia.

Cambaleante de sono, esbarrou na escrivaninha ao lado da cama e derrubou os livros empilhados nela. Com uma maldição os pegou do chão e os pôs de volta ao lugar.

Eram alguns dos vários que sua mãe tinha para estudar sobre os lobisomens e vampiros. Depois que conheceu seu pai, ela estudou tudo o que pôde sobre os sobrenaturais, contudo, mesmo sendo muito dedicada A Causa, uma organização especializada em matar sobrenaturais, não conseguiu se salvar quando a casa deles foi atacada por uma alcateia de lobisomens.

Hiago e seu irmão, Caio, ficaram órfãos de mãe na adolescência, e seu pai viúvo. Após a morte de Marisa, o pai dele se tornou cada vez mais obcecado pela caça aos sobrenaturais, principalmente os lobisomens.

Depois de arrumado, ele saiu do quarto. Morava em uma uma quitinete pequena, casas grandes não o atraíam, davam a sensação de que não estava protegido o suficiente, de que não estava em segurança.

Ele andou pelo estreito corredor até chegar a pequena sala, ocupada por uma mesa mediana, coberta de livros de anatomia e fisiologia. Se dirigiu à minúscula cozinha, dividida por um balcão, e preparou seu café da manhã enquanto refletia sobre os livros de lendas que viu na mesa da melhor amiga.

Sempre soube que Kiara gostava de lendas, mas, desde que a conhecia, nunca tinha encontrado ou notado tamanho interesse dela no assunto, e ele tinha a impressão de que o interesse repentino se devia a alguma coisa. Sua intuição gritava que algo tinha acontecido com ela, porém, ele nada poderia fazer se ela não confiasse nele e lhe contasse.

Temia que sua amiga tivesse sido transformada, e se isso tivesse acontecido, não sabia o que faria. Sua família caçava e matava sobrenaturais há décadas, seu pai jamais poderia imaginar que Kiara havia se transformado numa lobisomem, senão a mataria sem pensar duas vezes. Hiago não estava disposto a perder a amiga.

Concordava com A Causa, sabia que sobrenaturais eram perigosos, mas não perderia sua amiga para eles. Kiara fazia mais parte da sua vida e família do que o pai e o irmão, não deixaria eles encostarem nela.

Com um suspiro resignado, jogou a caneca parcialmente cheia de café sobre o restante das louças sujas. Antes de sair de casa, ele parou na entrada com o olhar perdido no chão.

"Por que ela não quer contar? Eles eram amigos desde sempre, sempre compartilharam segredos, o que impedia ela daquela vez?"

Ele empurrou as dúvidas para o fundo da mente, do contrário não chegaria ao trabalho a tempo.

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