Astarco estava na porta da biblioteca de Alexandria, ele lia um livro quando um homem o abordou:
- Senhor, eu preciso de ajuda para entrar na biblioteca, tu pode me ajudar ? Astarco olhou para suas vestes simples e modestas, um pouco rasgadas pelo tempo, e viu as roupas da pessoa que pedia ajuda, eram roupas nobres, ele se levantou e disse:
- Sim, eu vou ajudar-te, vamos. Ele cruzou os salões e um guarda o abordou.
- Mestre Astarco, este homem não pode entrar. Astarco franziu a testa e perguntou:
- Guarda me responda, porque este distinto senhor não pode entrar no templo do saber, e eu um velho pobre e singelo, posso entrar?
O guarda disse olhando para o jovem:
- Seu pai foi banido, pelo faraó, portanto não deve entrar aqui. O jovem retrucou:
- Meu senhor, meu pai está morto, eu quero estudar para não ter um destino como ele.
Astarco então olhou para o jovem e para guarda e disse:- O senhor pode me levar para o curador da biblioteca, eu desejo conversar com ele. O guarda então perguntou:
- E o garoto? Astarco olhou seco e disse:
- Não está comigo! Eles proceguiram, Astarco era lógico, se ele quisesse ajudar o jovem deveria resolver tudo isso, então deveria dançar conforme a música.
Chegando na sala, Astarco lançou um olhar no velho, carrancudo, e de olhar sério o velho fala para Astarco:- Seja bem vindo, eu conheço você, Astarco de Roma, eu sou Andrago de Tebas, o que te traz em minha biblioteca. Astarco então percebeu, e disse:
- Proponho que deixe o garoto que está lá fora entre. Astarco apontou para o garoto pela janela, o velho então respondeu:
- Ele não é indicado, seu pai usou o conhecimento, para ensinar escravos, por isso bani ele da biblioteca, você compreende, estou seguindo as tradições. Astarco sentiu o gosto amargo do senso comum, não que ele deva ser combatido, mas para o velho filósofo, ele deve ser transformado em racionalidade, então Astarco retrucou:
- Como podemos agir neste caso, de maneira em que todos possam se beneficiar, afinal, tu está perdendo? O velho Andrago respondeu a acusação com violência:
- Como posso estar perdendo? - Sou dono de uma biblioteca infinita, sou aquele que tem acesso a história humana, como posso perder, ao não deixar aquele moleque entrar? Astarco respondeu olhando nos olhos do velho:
- Simples, tu tens a sabedoria, mas ela não te tens, pois o homem mais sábio, tens compromisso com a humanidade, ele não pode cercear o conhecimento, senão deixa de ser sábio, passa a ser um acumulador de livros, o sábio obrigatoriamente tens que ser o mais empático dos homens, ele deve se solidarizar com as moléstias da sociedade, por isso eu digo, tu estás perdendo. Andrago então pensou e disse:
- Já sei, tu queres me confundir, Astarco tu não é o primeiro, eu digo que o conhecimento não deve ser para todos. Astarco retrucou:
- Concordo, de maneira racional, o conhecimento é destinado a mãos capazes, o maior tirano da terra, se tivesse o conhecimento nas mãos seria muito perigoso, seria bom que apenas os justos e verdadeiros tivessem a chave da sabedoria, eu pergunto, como sabemos quem realmente é bom ??? Andrago então gritou:
- Eu não sei, não me importo com isso, todos somos tiranos, basta uma oportunidade, e o homem mostra suas garras. Então Astarco calmo e sereno, retrucou:
- Tu não é mais sábio que aquele garoto, pois de que adianta o homem ter mil livros, se não prática uma linha, eu te explico dono da biblioteca de Alexandria, o homem e dotado de humanidade, quando ele deixa de estimular tal humanidade, ele se exime de sensibilidade, e portanto não pode ter o conhecimento, pois pode causar danos a si ou a todos, quanto mais sabedoria e conhecimento se tem, mais empatia e sensibilidade de deve ter, o sábio no fim é servo da humanidade, e está em compromisso de elevar todos a um patamar mais sublime. Andrago então tomado pela colera respondeu:
- Não serei humilhado, o conhecimento não me torna servo, eu tenho a chave da biblioteca isso me faz dono, o sábio deve governar os ignorantes, você não tem empatia pelo porco que come, ou tem Astarco? O velho então respira, para tal, falar no mesmo padrão vibratório e o que Andrago quer, no fim Astarco sabe que ele está perdido, então ele diz:
- Me perdoe, não foi de minha intenção, eu não quero jogar verdades em sua face, quanto a chave, tu não eis dono, eis o porteiro, pois o conhecimento não é objeto, e sim um fardo, e tu ainda não dominou o conhecimento desta biblioteca, pois ele só será dominado quando tu praticar, o sábio age e pensa em uma única via, quanto a empatia, se eu matar o porco com violência, sua carne e contaminada pelo medo, fica dura e o gosto muda, se eu não tiver humsnidade com minha comida, serei eu o animal, e o porco seria exemplo de humanidade. Andrago, ainda irritado com Astarco não respondeu, então o velho tornou a falar:
- Não estou aqui para convencer, mais para fazer pensar, não vou tomar mais seu tempo, só desejo uma coisa de ti, é que não leve por mal minhas palavras, se puder refletir, pensar um pouco sobre tais ações, verá a verdade, se ainda sim manter tais ações, então será atos lúcidos. Astarco fez uma reverência e saiu, ao cruzar o corredor ele começou a chorar, um guarda o olhou e perguntou:
- Está bem? Quer ajuda ? O velho disse ao guarda:
- Muito obrigado, não precisa, este velho é sentimental, eu sei o caminho. Astarco sentiu, algo amargo, aqueles que não estão preparados para acordar do sono da ignorância lutaram com todas as forças para permanecer inertes, pois no fim ser ignorante e fácil, e viciante.
Ao chegar no pátio Astarco vai até o jovem e diz:- Garoto, venha comigo eu vou te ajudar, tu serás sábio, mais só se me dizer, o que é empatia ? O jovem confuso, e surpreso disse:
- Empatia e tomar a visão do outro, e se permitir sentir as inquietações e os desabores do outro, e ainda sim manter lúcido, a fim de ajudar, e o que aproxima os homens, e juntos vamos nos tornando uma comunidade, afinal o problema do outro pode me afetar.
Astarco sorriu e disse ao garoto:- Sábias palavras, venha vamos praticar um pouco.
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Os discursos de Astarco
Short Storyuma coletânea de discursos filosóficos em formato de contos, onde o personagem Astarco, vive como um mendigo na era de Roma, questionando o sistema e o pensamento da época, com muitas metáforas, será que seus discursos podem ser usados hoje em dia ?