Os discursos de Astarco

A tese de Astarco: o homem

Astarco foi até a academia de Athenas. Lá, ele estava com seus manuscritos, com seu trabalho e deveria apresentá-lo para uma junta de escolásticos. Eles já começaram a julgar Astarco pelo modo como se vestia, de maneira simples. O velho então foi ao púlpito e deu início ao seu discurso:

- Senhores mestres da academia e amantes do saber, venho por meio deste trabalho evidenciar meu objeto de pesquisa: o homem. Mas o que pode ser o homem?

- Sendo ele um animal pensante, um ser que racionalizou o instinto, dominou sua porção feral, eu digo que não tenho como definir o homem com uma única palavra. E creio que o homem é a mente pensante e atuante, o homem é um ser dotado de vontade, cheio de desejos. Não há barreiras para a humanidade, a não ser o próprio homem. Nós descobrimos muitas coisas, a razão e a capacidade de pensamento nos demonstram o perfeito equilíbrio. Afinal, já vi alguns que defendem a superioridade do homem em relação aos animais. Seguindo a lógica, tal informação é infundada, pois é cheia de incompreensões. O homem não é superior, ele é apenas um polo de uma corda, na qual podemos chamar de evolução. Seguindo o iniciado, a correspondência existe em tudo. Então, creio que as coisas se correspondem e se polarizam. Portanto, o homem pode ser o final ou um estágio inicial para algo maior.

Os mestres da academia apenas observam Astarco discursar. Eles esperam sua conclusão. Alguns defendem que Astarco seja removido dali. Porém, ele continua:

- Senhores, o homem como indivíduo é um ser bom. A bondade não é inata, mas sim um instinto. Ela adormece por conta do espaço social e do modelo de exemplo. O indivíduo é feito de comportamentos, e sua percepção é causal. Ou seja, quanto melhor for o estímulo e as faculdades mentais, melhor ele deve perceber a realidade que o cerca. Se um indivíduo não for estimulado, ou pior, tiver um ícone desvirtuado, ele terá um desenvolvimento incompatível, podendo ser até oposto à humanidade. Portanto, o desenvolvimento humano é imprescindível para o homem.

Astarco faz uma pausa, e um dos filósofos diz, desdenhando:

- Senhores, este homem não é um filósofo, é um tolo. Eu digo, o homem é um ser cujo é o ponto inicial do universo. Astarco então diz:

- De fato, mas na visão de quem? O homem permanece em silêncio e Astarco continua:

- De acordo com a ótica, o homem é o centro do universo. Porém, de acordo com o universo, quem seria o homem? Astarco olha para o líder da academia e pergunta:

- De acordo com o lobo, quem seria a ovelha? O líder então responde:

- O lobo vê como alimento, e a ovelha vê como predador. Mas quem seria o predador, o homem ou o universo? Astarco responde:

- Não existe predador, mas existem visões. Sabemos que o cosmos é infinito, mas digo que o universo encara o homem como uma peça, uma estrutura dele próprio. O homem pode se ver como referência a si mesmo, mas o sábio vê algo maior que o homem, podendo ser Deus ou as estrelas. Afinal, o objetivo desta primeira pergunta não é saber quem é mais importante, quem serve a quem, mas para onde o olhar olha quando está se desenvolvendo? O filósofo opositor então diz:

- Então todos buscam estrelas, deuses, devemos nos curvar à mitologia. Onde está a razão nisso? Astarco pede água, bebe e diz:

- Depende de qual homem estamos estudando. O homem comum tem o direito de acreditar nos deuses, mas quando ele se torna sábio, ele tem o direito de usar a mitologia como trampolim. Os deuses e os heróis são exemplos. A mitologia é o primeiro degrau. Alguns pensamentos nascem do senso comum, cabe ao grande filtro da razão refutar os excessos e evidenciar a síntese, o pensamento da arte humana da filosofia. Ele não pode cometer preconceitos, mas deve admitir que as ideias nascem de preconceitos. Porém, eu pergunto, qual o objetivo do homem? Seu opositor então responde tomado pela raiva: