48. Você está terminando...

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Nihara Vitti

Tobias examina-me dos pés a cabeça, a sua expressão de repúdio, a toalha amarrada de modo frouxo, denunciando que um movimento brusco ela cairá ao chão. Nossos olhares fixos um no outro, posso imaginar o que ele deve estar pensando, pelo jeito que me olha em silêncio, os seus olhos faiscando de raiva. Os gemidos de Harrison, preenchendo o ambiente, inóspito.

    Desvio o olhar para mim e depois para o homem sentado na beira da minha cama, ajeito a toalha e peço:

    — Harrison pode nos deixar a sós? — com os braços cruzados, sustento o olhar ríspido de Tobias, que permanece imóvel no meio do quarto. O homem tenta se levanta, mas o rosnado que ele solta, faz-me desviar o olhar na sua direção e socorrê-lo com urgência. 

    — Não acredito que estou presenciando isso — ele diz por fim, por breves segundos volto a observá-lo e inspiro pesado, segurando o braço do Harrison e ajeitá-lo.

    — Por favor, deixa-me levá-lo ao hospital, não sabemos o que está acontecendo por dentro, pode ter uma hemorragia interna — revelo preocupada. No mesmo instante ouço os passos do meu namorado, saindo do quarto.

    — Tobias, por favor espere. Fique aqui, eu falarei com ele e depois eu te levarei ao hospital mesmo que não queira.

   Sigo o outro homem pelo corredor e o encontro já com as mãos na maçaneta da porta. Num movimento decidido, coloco minha mão no seu peito, bloqueando o seu caminho.

    — Tobias, por favor, você não está entendendo. É uma situação complicada, eu preciso explicar — murmuro, desesperadamente buscando palavras que amenizem o estrago.

Tobias me encara com olhos que queimam de raiva. Sua voz é carregada de mágoa e incredulidade.

    — Explicar o quê, Nihara? Preparei um jantar romântico para nós, esperei ansiosamente por você, e você me deixou pendurado para cuidar de outro homem. Confiei em você, Nihara — ele diz, um riso sarcástico cortando o ar, antes de voltar para a sala.

    As minhas palavras saem trémulas enquanto tento me defender.

    — Por favor, Tobias, você está sendo injusto. Não mereço isso.

    Ele se vira abruptamente na minha direção, seus olhos fixos em mim, cheios de decepção.

    — Injusto? Como você pode se sentir injustiçada, Nihara? Eu te implorei para ficar longe desse cara. Eu achando que cortou todo o contacto com ele, mas o encontro dormindo pelado na sua cama enquanto você se banhava? — A voz de Tobias ruge, sua paciência se esgotando rapidamente.

    — Entendo que essa situação pareça estranha, mas se você me deixar explicar, verá que não foi como parece… — Começo a dizer, mas sou interrompida abruptamente.

    — Chega dessa merda, não sou idiota! Sempre tem uma explicação para tudo, não é mesmo? Só me responda uma coisa: vocês transaram? Traiu-me com ele? Pode me dizer. 

   Encaro-o com olhos cheios de fúria, meu peito arfando de raiva. Minha mão voa em um tapa que acerta em cheio o seu rosto, mas ele permanece imóvel como uma estátua.  Afasto-me dele, sacudindo a mão dolorida. O coração afunda no estômago, incapaz de suportar mais uma rodada de dúvidas sem sequer ter a chance de explicar a situação.

Parece um déjà vu angustiante. As lágrimas brotam dos meus olhos e, com ódio, limpo-as rapidamente enquanto sustentamos nossos olhares, cada um lidando com seus conflitos internos.

    — Você está colocando em xeque o meu caráter mais uma vez, me julgando cruelmente sem sequer me ouvir. Entendo que esteja furioso com o que acredita ter visto, mas isso não lhe dá o direito de me ofender assim. Não pode simplesmente agir impulsivamente toda vez que fica chateado — grito, apontando o dedo em sua direção.

NÃO POSSO TE AMAR [Revisando]Onde histórias criam vida. Descubra agora