Vermelho

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[Quinta – 31/05/2007]

Aurora: Eu posso saber o porquê de você estar faltando as aulas?! – ela brigava comigo dizendo que a escola ligou pra ela pra reclamar que fazia um mês que eu não ia pra aula.

S/n: Não tenho nem ideia do que a senhora ta falando. – disse eu à dois quilômetros e meio da escola, na livraria "patinhas leitoras" enquanto um filhote de labrador dormia em meu colo e eu tomava suco de manga e lia "Batlle Royale".

Aurora: Ah, jura?! Então onde você tá agora que não é na aula? Porque se estivesse na aula não estaria no celular, não é? – minha mãe sempre foi minha melhor amiga, isso nos momentos bons e ruins. E agora não era um dos melhores momentos...

S/n: To só te atendendo, a senhora me ligou e eu vim pro corredor pra atender.

Aurora: Sua cara nem treme pra mentir pra mim, não é?

S/n: Mas eu não to. – eu tava sim.

Aurora: Se continuar mentindo vai voltar pra Califórnia. – meu coração deu um salto e eu fiquei calada – Onde você está?! – continuei calada e meu coração começou a acelerar. – Porque não está na escola?! – lembranças encheram minha cabeça e eu senti os olhos queimarem. – Quero que vá pra escola agora! Não deixei que você ficasse na Alemanha pra ficar sem estudar!

Talvez esteja um pouco confuso, eu entendo.

Vou explicar um pouco melhor...

[Segunda – 07/05/2007]

Tom e Bill não estavam de novo na escola por estarem ocupados com a banda.

Assim que passei da porta de entrada comecei a receber olhares de quase todo mundo e de todos os lados. Senti minhas mãos começarem a soar e os pés formigarem a cada passo.

Era a primeira vez que eu estava pisando na escola depois que aquele vídeo foi publicado.

Cochichos de um lado, olhares de outro. Eu não queria continuar ali.

Todos tinham papéis em mãos e enquanto olhavam para mim, apontavam para o papel que seguravam. Tinham papéis espalhados pelo chão e eu me obriguei a ignorar cada um. Imaginei que se tratavam de fotos minhas com rabiscos então nem me dei o trabalho de agachar para ver.

Fui andando até meu armário para pegar o livro da primeira aula e assim que eu chego, vejo vários papeis colados no metal vermelho.

Eram fotos.

Fotos de frames do vídeo.

Meu corpo estava por toda parte colada no meu armário. Círculos vermelhos em meus seios, outros em minha bunda, outros em meu rosto e várias setas com frases sobre eu ser a puta preferida do Tom e do Bill, ou sobre eu ter dançado pra quem filmou.

- É sério que ela pagou o Tom pra eles ficarem?

- Foi o que eu ouvi.

Tentei o meu máximo pra não me mostrar abalada por isso – o que estava sendo impossível, meus olhos já estavam ardendo – então apenas arranquei algumas folhas e coloquei a senha para abrir o armário, o que eu percebi que foi um erro assim que puxei a portinha.

Fui pega de surpresa quando algo molhado... molhado não... gosmento espirrou em mim.

Assim que abri os olhos – depois de passar a mão para tirar deles o que tinha jorrado em mim – vi que estava coberta por alguma coisa vermelha, e senti que ia morrer quando meus pulmões começaram a queimar.

Barulhos de pessoas se assustando soaram. Estavam tão surpresas quanto eu por me verem daquele jeito.

Fechei o armário devagar e vi que tinha algo escrito por trás daquelas folhas, então fui tirando os papéis e consegui ler "PUTA DOS KAULITZ USA VERMELHO!" e meu coração despencou ali mesmo.

Eu sabia quem tinha sido, não sou idiota, mas não conseguia me mexer. Meus pés estavam cravados no chão e todas as vezes que tentava mexê-los, eles doíam.

Eu estava presa ali.

Eu estava me prendendo ali.

Natália: Caramba, S/n, o que aconteceu com você? – sua voz ecoa pelo corredor, mas eu não me viro para olhá-la.

Priscila: S/n?! – eu continuava encarando aquela frase, tentando juntar os pedaços do meu coração.

Peter: Minha nossa...

Susy: Caralho, essa foi foda.

Kim: Foi você que fez isso?

Susy: Quem me dera ter pensado nisso antes, quero dar um prêmio pra pessoa.

Cassie: Natália, foi você?

Natália: Foi tão bom assim que parece que fui eu que fiz? – ela ri.

Jennie: Sua filha da puta doente, qual é o seu problema?!

Natália: Quem você pensa que é?!

Priscila: Que tipo de animal você é?!

Alex: Meu Deus... S/n? – ele entra na minha frente, ficando entre eu e o armário, eu continuei com o olhar fixo, como se ainda pudesse ler todos os detalhes daquela frase. – Vem, a gente vai sair daqui...

Peter: Toma. – sinto algo ser colocado sobre o meu corpo e logo mãos encostaram no meu braço coberto, então uma pressão é feita ali como se Peter estivesse me puxando ou empurrando de onde eu estava. – Vem, a gente vai pro vestiário.

Jennie: Tenho roupas limpas no armário, vou buscar pra você. – ela saiu correndo e eu não faço ideia de como estava andando já que não sentia minhas pernas.

Priscila: Ai minha nossa. – ela coloca as mãos em meu rosto e começa a passar os dedos ali, na tentativa de tirar aquilo do meu rosto. – Vocês pegam a toalha e eu levo ela pro chuveiro.

Priscila e Jennie estavam do lado de fora da cabine onde eu tomava banho e Peter e Alex estavam do lado de fora do vestiário.

Jennie: Eu trouxe shampoo, toma. – ela me passa por cima da portinha e assim que molho meu cabelo, sinto que o que tinha espirrado em meu corpo e rosto também estava no cabelo.

O chão começou a ficar vermelho. A água escorria pelo meu corpo e eu pude ver caminhos se abrindo em minha pele, onde a tinta vermelha estava deixando meu corpo.

Não sentia tristeza ou raiva ou agonia ou desespero. Eu não sentia nada.

Encarava o chão que ficava cada vez mais vermelho e sentia o cheiro forte subir, minha barriga embrulhou e meus olhos queimaram novamente.

Meus pulmões doeram e meu coração parecia ter parado de bater.

[Quinta – 31/05/2007]

Uma lágrima caiu e eu sorri rente ao telefone.

S/n: Mãe, eu quero voltar pra Califórnia.

FAMOUS • Tom KaulitzOnde histórias criam vida. Descubra agora