54. Te ajudar não foi o problema...

109 19 6
                                    

Nihara Vitti

Aquela noite de ano novo foi a mais sombria que já vivi. Enquanto o mundo celebrava resoluções e esperanças, o meu desmoronava diante de mim. O chão do hospital testemunhou a quebra de confiança, de relacionamento, e meu coração foi despedaçado, deixando um rastro de dor que se estendia até o lado de fora daquele lugar frio e impessoal.

O golpe final recebi, ao ouvir a revelação de que Tobias tem um filho com sua ex-namorada. Ele provavelmente soube disso enquanto estávamos juntos, a sensação de traição me inundou. Como ele pôde esconder algo tão significativo? A pergunta martela na minha mente, e a dor que eu sinto parece insuportável.

Um mês se passou desde então, um mês de silêncio que pesa como uma losa sobre nossas palavras não ditas. Harrison, após sua recuperação, retomou sua vida, mergulhando no trabalho. Leandra ainda descansa em casa, ajudou-a através do Harry, foi o único jeito que achei para estar perto dela e apoiá-la.

A empresa perdeu um pouco do seu ritmo e energia. Visto que os líderes, enfrentam seus problemas pessoais que acabam refletindo nos seus trabalhos. Já não alegria, mas a fofoca continua nos corredores da metamorfose, e eu como o assunto principal. Tobias, de todas as maneiras, tentou se aproximar, mas apesar de perceber — talvez tarde de mais, que sou a única responsável desta situação desoladora o mantive afastado.

Fui eu quem desencadeou a ruptura em nossa conexão, antes sólida, agora frágil e quebradiça, não tenho coragem de encará-lo.

Como desejava que Tobias reagisse ao encontrar um homem nu, repousando em minha cama, enquanto eu saía do banho? Fui uma hipócrita egoísta, menosprezando seus sentimentos, e sobrevalorizado os meus. Fui cega para as consequências de minhas ações

Não é surpreendente que minha relação com Léah também tenha sido afetada. Embora eu tenha tentado me reaproximar, ela, com toda razão, me rejeita. A tragédia da perda do bebê que tanto ansiávamos a fechou para mim. Agora, só me resta aceitar seu desprezo, mantendo-me a uma distância segura, cuidando dela à distância.

A dor que nos envolve marcou nossa relação, deixando-a congelada em um estado de tristeza. Mesmo que o tempo tenha cerrado as portas entre nós, continuo a zelar por ela, enquanto nossos destinos permanecem entrelaçados pelo luto que nos envolve...

James desapareceu, deixando para trás um rastro de destruição em nossas vidas. A esperança, mesclada com a raiva, faz-me desejar que ele tenha encontrado um precipício, com seu carro explodindo e levando consigo todo o caos que ele trouxe.

O peso emocional desta situação está se manifestando não apenas na minha mente, mas também no meu corpo exausto. Apesar do cansaço constante, tenho trabalhado incansavelmente, transformando o café em minha aliada contra o sono que insiste em me dominar durante o dia.

São apenas 10h da manhã, e já estou na segunda xícara de café preto, sem açúcar. Meus olhos, agora refletindo tristeza e armazenando fios de lágrimas, denunciam o peso que tenho carregado.

O choro frequente provavelmente contribuiu para a perda de peso, intensificando a sensação de fraqueza que me envolve. Pular refeições tornou-se um hábito, um reflexo da minha falta de apetite, enquanto luto para encontrar equilíbrio diante do turbilhão de emoções que me consome.

— Niah, trouxe isso para você — minha assistente, Natalie, coloca uma tigela de vidro na minha mesa, e me encara com seriedade, mantendo uma postura impassível.

— O que é isso? — pergunto destampando o recipiente. — Nossa, o cheiro é enjoativo, não é?

Natalie não responde. Em vez disso, ela se senta à minha frente, com o rosto fechado, não me dando espaço para recusa. Ela empurra a tigela na minha direção e entrega-me o talher, deixando claro que vai recusar desculpas.

NÃO POSSO TE AMAR [Revisando]Onde histórias criam vida. Descubra agora