55. Audiência de custódia.

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Tobias Bernstoff

Hoje promete ser um daqueles dias agitados, porque finalmente chegou a tão esperada audiência de custódia da Sophie, um assunto que tem revirado minhas noites. Antes de seguir para o fórum, a advogada dará um pulo aqui em casa, e a gente repassará pela milésima vez a nossa defesa.

Entretanto, antes desse compromisso crucial, estou aqui diante do meu guarda-roupa, escolhendo uma roupa para enfrentar o dia na empresa. Não que eu esteja particularmente animado para trabalhar, muito pelo contrário.

Nihara está numa vibe de me ignorar, ignorar minhas ligações e mensagens, nem em casa ela quer me ver. Tentarei mais uma vez falar com ela, porque preciso muito que ela esteja ao meu lado, e da Sophie.

Minha menina tem sentido muito a ausência dela, mesmo com as duas horinhas que passam juntas quando Astrid volta da faculdade. A presença dela lá no julgamento hoje seria incrivelmente importante para nós.

Ao me olhar no espelho, percebo que escolhi vestir-me nas cores que Nihara mais aprecia: o azul, como um reflexo da serenidade de um dia de verão. No entanto, meu ânimo não condiz com a leveza das cores. Como poderia estar animado quando estou prestes a encarar o risco de perder a guarda da minha filha?

— Então, filho, como vão as coisas? Conseguiu falar com a Nihara? — pergunta minha mãe, observando cada movimento meu. Não consigo tocar na comida; fico remexendo-a no prato, com a mente longe e o coração dilacerado pela falta que a senhorita Vitti faz. Balanço a cabeça em sinal de negação. — Filho, não fiques chateado comigo, mas a tua namorada é uma mulher intransigente, presunçosa e hipócrita, que só se importa com...

— Heide... — meu pai a interrompe com um gesto, ela torce a boca contrariada e volta sua atenção para o prato. — Filho, vai lá, tenta falar com ela. Fará bem não só para ti, mas principalmente para a Sophie, ter o apoio dela.

— É o que tenho tentado fazer nos últimos dias, conversar, mas ela está tão magoada comigo que nem me quer por perto E se formos a analisar melhor, eu, sim, tenho motivos para estar magoado. — desabafo, limpando disfarçadamente o canto do olho. Eles me encaram em silêncio, suas expressões, tristes e angustiadas.

— Maninho, eu posso ir contigo, se quiser. Talvez ela... — sugere Astrid.

— Não, meu bem, obrigada. A mãe tem razão numa coisa — a senhora Heide larga os talheres, e levanta o olhar na velocidade da luz e foca em mim aguardando pelo que vou dizer. Olho-a por segundos antes de prosseguir —, a Nihara é intransigente, enquanto ela pensar que tem toda razão, não importa quem eu leve comigo, ela não vai ceder se não quiser. Talvez a Sophie, mas eu não faria isso.

— É bem compreensivo, depois da forma que a trataste --- contesta Hermann, me olhando bem nos olhos.

A minha família sabe em parte o que aconteceu, claro que ocultei a parte em que encontrei outro homem na cama dela.

— Hermann, o seu irmão precisa de apoio e não criticas... — nosso-pai o repreende. Ele encolhe os ombros e abaixa o olhar.

— Desculpe, eu não...

— Tudo bem, fiz besteira mesmo e estou arcando com as consequências.

— Pronto meninos, vamos focar no que realmente interessa, a audiência de custódia. Precisamos levantar este ânimo, principalmente você, meu filho — ela olhar para mim. Essa batalha exigi que sejamos fortes e corajosos. A família Lehmann vem com tudo. Temos de mostrar confiança que o veredito final será a nosso favor.

Depois do lindo discurso da minha mãe nos levantamos, cada um em direções opostas na mansão. Antes de sair, pego o centro da minha vida ao colo e afagos seus cabelos, que vão ganhando um tom mais escuro.

NÃO POSSO TE AMAR [Revisando]Onde histórias criam vida. Descubra agora