IV

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Eveline

Eu pensei muito antes de ir à mansão Hudson. A última vez que estive nas redondezas foi há semanas atrás, quando fiz uma entrega de tecido em uma das casas vizinhas, não foi um dia bom. Porém, a situação agora era diferente e eu precisava encontrar Matteo Castelo o quanto antes.

— Posso ajudá-la? — Uma mulher baixinha e gorducha se aproximou, ela carregava uma cesta com vegetais frescos, provavelmente estavam armazenados em um celeiro próximo.

— Ah, olá. Estou procurando o senhor Castelo. — omiti a urgência da questão e dei um sorrisinho amarelo.

A mulher me encarou por alguns instantes, talvez tentando saber se me conhecia de algum lugar... Eu sinceramente espero que não.

— Claro, ele deve estar com lorde Hudson agora, mas a senhorita pode aguardá-lo na cozinha. — Assenti e a segui pelo curto trajeto até o interior da mansão. — Sente-se querida, irei pedir a ele para vir vê-la assim que terminar o que quer que esteja fazendo.

— Tudo bem, obrigada.

Ela se afastou e deixou a cesta sobre um balcão antes de desaparecer pelos cômodos do lugar. Os outros funcionários mal pareciam notar a minha presença ali, todos estavam demasiadamente ocupados com suas próprias tarefas.

Em um determinado momento, tive a impressão de estar sendo observada. Virei-me para o arco que dava entrada para a cozinha a partir do corredor e vi uma menininha parada ali. Ela parecia me estudar com um olhar astuto, mas saiu correndo assim que viu a mulher que falou comigo e Matteo vindo para cá.

Levantei-me e nos cumprimentamos cordialmente. A mulher se despediu para ir cuidar de seus afazeres e deixou-nos em um silêncio estranho até que ele tomou a iniciativa de pedir que eu o seguisse para conversar em um lugar mais discreto.

Chegamos a uma pequena varanda nos fundos da mansão e ficamos de pé, frente a frente. Era possível ver a casa onde alguns funcionários da mansão moram daqui, mas se olhássemos mais a leste teríamos a visão do píer e do lago que fica ali perto, me pergunto se era possível me ver no dia que estive lá.

— E então, invadindo teatros outra vez? — ele perguntou com um sorriso amigável em seus lábios. Havia se passado dois dias desde o incidente.

— Eu não estava invadindo o teatro, tinha permissão para estar lá. — defendi-me, mas ele não precisava saber de todos os detalhes. — Bem, isso não importa. O problema é que, na manhã seguinte, estava na rua com minha tia e encontrei um dos guardas que presenciaram o ocorrido e ele fez questão de nos parabenizar mais uma vez pelo noivado.

O sorriso de Matteo desmanchou-se como sal colocado em água.

— A sua tia... Ela sabe o que realmente aconteceu? — Pelo visto ele sabia exatamente onde eu queria chegar.

— É claro que não, vai saber o que aconteceria a elas se eu contasse que quase fui presa. — disse em sussurro, com medo de que alguém ouvisse nossa conversa. — A questão é que a tia Jennifer foi correndo contar a novidade a tia Josephine e agora as duas estão me pressionando para conhecer meu noivo. Pensei dizer que ele é um militar e está bem longe daqui, mas o último regimento saiu há algumas semanas, então elas saberiam que é mentira já que o guarda nos viu há dois dias.

— Bem, se for ajudar, posso ir a sua casa, converso com elas, me apresento... — Neguei com a cabeça e o interrompi antes que sua ideia fosse ainda mais longe.

— O senhor não pode ir até lá, se for elas irão cobrar por mais visitas e pelo casamento! — expliquei — O que preciso é de um jeito para dizer a elas que o noivado acabou, entende?

A Bailarina de NeveOnde histórias criam vida. Descubra agora