XVIII

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Eveline

Às vezes eu sinto que estou vazia, como se há muito tudo aquilo que sou tivesse ido embora e somente um monte de carne e ossos tivesse sobrado. Às vezes dura um hora, em outras um dia, mas, dessa vez, eu me sentia vazia há quase uma semana. A pior parte disso é que eu não sabia quando me sentiria preenchida de novo, nem como faria isso acontecer, e, em meio a essa busca, machucava quem estava ao meu redor.

Eu percebia a preocupação de Matteo cada vez que ele olhava para mim, sempre ouvi que os olhos são a janela da alma e tinha certeza que a dele estava inquieta, buscando entender o que houve com a minha.

Senti bracinhos pequenos me envolvendo e isso tirou-me de meus devaneios, levei alguns segundos para entender o que estava acontecendo, mas retribui o abraço de Emanuelle. Era quentinho e macio como somente abraços de crianças são. Senti meus olhos encherem de água, mas não derramei nenhuma lágrima para não assustá-la.

— Por que você me abraçou?

— Não sei. — Ela deu de ombros. — Eu só senti vontade de te abraçar.

Sorri por um momento e desejei que Emanuelle preservasse essa pureza de criança para sempre, crescer é cruel demais.

— Obrigada, Manu.

A jovem dama apenas sorriu e me convidou para brincar, mas fomos interrompidas quando o sino que anunciava o almoço soou e tivemos que descer. Deixei-a com sua mãe e irmã na sala de jantar e segui para a cozinha, não encontrei meu marido então comi sozinha, voltando ao trabalho poucos minutos depois.

Encontrei Camille com sua irmãzinha nas escadas logo após o almoço, mas a mais nova esqueceu um de seus brinquedos na sala de bordado da lady Hudson no dia anterior, então fiquei responsável por ir buscá-lo enquanto as duas subiam para a brinquedoteca e assim o fiz.

Estava prestes a subir quando meu braço foi puxado com força, me assustando instantaneamente.

— Não precisa ter medo, senhorita, quero apenas conversar. — a voz de Alfred era como um sussurro baixo.

— Solte-me. — pedi, tentando parecer o mais firme possível em minhas palavras e expressão. — Solte-me e pensarei se desejo ou não conversar com o senhor.

— Se bem me lembro, na última vez que a soltei a senhorita praticamente correu para longe de mim. Não deixarei que isso aconteça outra vez.

Não havia uma única alma viva além de nós naquela região da mansão quando Alfred pôs uma das mãos em minha boca para tapá-la e saiu me arrastando para a varanda dos fundos, meus pés não tinha estabilidade na neve e me debater contra alguém maior que eu era quase inútil, só estava ajudando a deixá-lo mais irritado comigo.

Quase no fim da propriedade, surgiu diante de nós uma pequena casinha, a qual a porta foi empurrada e aberta com um rangido alto. O homem me largou e caí sobre o chão gélido, sentindo meu antebraço arder, deve ter sido cortado por algo sem que eu percebesse.

— Receio que a senhorita não possa mais fugir. — Tentei engatinhar conforme Alfred se aproximava, mas acabei batendo as costas na parede e agora a distância entre nós era mais curta que nunca. — Não entendo por que me rejeita, por acaso lhe fiz algum mal?

— Afaste-se de mim!

A raiva em minha voz não era suficiente para fazê-lo desistir, então comecei a mexer minhas pernas na tentativa de atingi-lo forte o suficiente para fugir. Em meio a suas investidas para me manter parada consegui chutar sua barriga, mas isso me rendeu um tapa forte no lado esquerdo do rosto, fiquei tão desnorteada que a minha única reação foi arregalar os olhos com espanto.

A Bailarina de NeveOnde histórias criam vida. Descubra agora