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Eveline

Acho que pela primeira vez desde que nos casamos, Matteo e eu tomamos café da manhã juntos. Nós sempre nos víamos no jantar e vez ou outra na hora do almoço, mas nunca no café da manhã, já que eu sempre saio mais cedo que ele para ir à fábrica.

Estávamos em lados opostos da mesa, sem muita empolgação para conversar graças ao horário, eu estava um pouco mais desperta, mas ainda assim sei como é irritante ter que conversar com alguém logo cedo, então não o incomodei. Apenas comemos e ao terminar de nos arrumar, saímos.

- Sabe que ainda dá tempo de desistir, não sabe? - ele perguntou quando estávamos a poucos metros da mansão.

- É só uma criança, Matteo, não pode ser tão ruim assim. - Podia ver que ele ainda estava relutante, mesmo com a minha insistência de que tudo correria bem.

O que não contei a ele sobre meu interesse em sair da fábrica, além das coisas que falei sobre minhas tias e as despesas, é que os turnos iriam mudar no fim do mês e, apesar de ter tentado de todas as formas, eu não poderia mais escapar do turno da madrugada, então, após pensar bastante e considerar minha atual situação, uma troca de emprego não me parecia uma ideia nada ruim.

- Bom dia! - Matilda nos cumprimentou, também havia acabado de chegar. - Tem alguma entrega aqui perto hoje, querida?

- Eu vim pela vaga de babá, na verdade.

- Ah meu bem, tem certeza? - Ela trazia o mesmo olhar de dúvida do Matteo, mas tentei não me abater por isso e apenas assenti.

Entramos e Matilda logo partiu para seus afazeres, Matteo pediu que eu esperasse na cozinha enquanto ele ia procurar a governanta, já que eu deveria falar com ela e com a lady Hudson.

Enquanto o esperava, olhei-me pelo reflexo da janela. A não ser pela franja, meu cabelo estava completamente preso em um coque, já que segundo as minhas tias cabelo preso dá a qualquer uma o ar de pessoa responsável. Eu estava usando uma das roupas novas do meu enxoval, uma saia ciano com pequenas flores brancas estampadas nela e uma blusa meio rosa com mangas até os cotovelos e babados.

- Você está ótima, não precisa se preocupar. - Podia ver Matteo alguns passos atrás de mim pelo reflexo.

- Bem, obrigada então. - Virei-me e passei a encará-lo de frente, é estranho como nunca sabemos nos portar um com o outro quando não precisamos fingir.

- Elas estão te esperando na sala de bordado da lady Hudson, vou te levar até lá.

O segui durante o trajeto, a sala de bordado ficava no lado esquerdo da casa, para conseguir chegar até ela era necessário passar pela sala de estar bem decorada e cujo os móveis e objetos deveriam custar muito mais do que eu poderia pagar na vida.

Matteo bateu à porta e ouvimos um "entre" abafado. Sentada em uma poltrona estofada de tecido requintado estava lady Raven Hudson, uma mulher elegante, de pele clara, cabelos loiros, olhos castanhos e feição agradável. De pé ao lado dela encontrava-se a governanta, Philomena Morris, uma mulher de estatura mediana e esguia, com cabelos pretos como a noite, pele pálida e o rosto marcado pelo tempo.

- Pode ir Matteo, obrigada. - Matteo assentiu e sussurrou que estaria me esperando fora da sala, logo depois foi embora como lady Hudson pediu. - É um prazer conhecê-la, senhora Castelo.

- Igualmente, milady.

- Consegue acreditar, senhora Morris? Matteo era praticamente uma criança quando chegou aqui e agora estamos diante da sua esposa?!

- De fato, milady. - a governanta tinha um sotaque diferente do nosso, parecia com o de algumas pessoas que conheci há muito tempo que vinham do sul. Talvez a senhora Morris estivesse com lady Hudson desde a juventude da viscondessa, quando ela morava bem longe daqui.

A Bailarina de NeveOnde histórias criam vida. Descubra agora