A Bailarina de Neve

XI

Matteo

Duas semanas haviam se passado desde que Eveline começou a trabalhar na mansão Hudson, o que nos fazia, de fato, passar o dia juntos. Ainda era um pouco estranho, mas também tinha suas vantagens, já que isso nos deu mais assuntos para conversar e fez a nossa convivência se tornar mais fácil e agradável.

- Me sinto mal em deixar a Matilda e o Leo sozinhos assim. - Joseph disse em certo momento da viagem.

Ele conduzia a carruagem que levava lorde e lady Hudson até o litoral e eu ia ao seu lado, caso o visconde precisasse dos meus serviços.

- Eles vão ficar bem, não se preocupe.

- Bem, pra você é fácil falar. Sua esposa também veio e vocês não tem um filho pequeno. - Ele deu de ombros.

Dessa vez a família inteira veio ao litoral, de modo que Eveline estava na carruagem de trás para tomar conta de Emanuelle. Apesar de serem uma família unida, toda essa mobilização para uma viagem não é muito comum, talvez algo grande estivesse prestes a acontecer.

O percurso demorou cerca de cinco horas, então quando finalmente vi a grande casa de praia surgir por entre a paisagem nevada senti todos os meus músculos reclamarem de passar tanto tempo na mesma posição.

Quase imediatamente o cheiro característico da maresia chegou até nós e, logo depois dele, veio o som das ondas quebrando uma após a outra, não é exatamente a melhor estação para vir ao litoral, mas possui um tipo esquesito de beleza.

A carruagem sacolejou e parou na porta da grande casa de praia. Desci do coche ao mesmo tempo que funcionários que eu não conhecia vieram até a porta para receber seus chefes, lorde Hudson foi o primeiro a descer, ajudando a viscondessa logo em seguida, ao mesmo tempo que suas filhas e suas respectivas acompanhantes saiam do veículo de trás.

- Gostaria de repousar um pouco ou tem algo a fazer, milorde? - perguntei, mas August apenas acenou com a mão.

- Não se preocupe, rapaz. Precisarei repousar um pouco, mas pedirei que o chamem caso eu precise de algo. Peço apenas que ajude a senhora Morris a acomodar nossos convidados caso eles cheguem mais cedo.

- Que convidados, senhor?

- Nossos vizinhos, os Floyd. Raven achou que seria uma boa ideia convidá-los para o fim de semana e eu concordei. - Apenas assenti e os dois subiram os degraus rumo ao interior da casa.

Os empregados retiraram as malas das carruagens e as levaram para dentro, enquanto os cocheiros direcionaram os veículos aos fundos da casa. Acompanhei Joseph e entramos juntos na cozinha, bem a tempo de ouvir a senhora Morris em mais um de seus intermináveis discursos.

- Por fim, aos que vieram da casa da cidade, não há quartos o suficiente para todos, já que alguns outros funcionários também ficarão na casa, então organizei vocês em duplas para dividir os quartos.

Ela começou a listar vários nomes enquanto entregava chaves e direcionava onde os quartos ficavam, porém, em nenhum momento citou o meu nome, nem o de Eveline.

- Senhora Morris, não sobraram duplas para mim e nem para Eveline. - A governanta me encarou com uma perfeita expressão de confusão em seu rosto.

- Corrija-me se eu estiver errada, senhor Castelo, mas você e a sua esposa são obviamente a dupla um do outro, estou certa?

- É, claro que somos... ainda me esqueço às vezes.

A governanta apenas ignorou meu breve comentário e entregou a chave em minhas mãos, indo embora em seguida.