Eveline
O senhor Castelo veio me buscar na tarde do dia seguinte ao nosso casamento, como disse que faria.
Não havia muitos pertences que eu precisasse levar, já que Matteo me informou que a senhora Richards, a que encontrei quando fui a mansão Hudson, cuidou dessa parte. Então, quando tia Jennifer o viu pegar a única mala que eu tinha, ela começou a chorar copiosamente.
Passaram-se uns vinte minutos até que conseguíssemos acalmá-la e depois mais quinze quando paramos para tomar um chá. No momento da despedida definitiva ela já estava se derramando em lágrimas outra vez, porém tia Josephine disse para irmos embora que ela a consolaria, apesar de estar mais emotiva que o normal também.
Matteo e eu caminhamos calmamente por algumas ruas até chegarmos a um bairro mais próximo a mansão Hudson.
As casas tinham fachadas parecidas, mudando um ou outro detalhe e suas cores, elas eram enfileiradas rua abaixo, dividindo-se ao chegar em uma pequena praça redonda mais à frente, onde outras ruas começavam.
Paramos quase no fim da rua enquanto Matteo procurava pela chave em seu bolso. Diante de nós estava uma casa pequena e precisando de alguns reparos, mas que talvez conseguíssemos aprender a chamar de lar um dia.
- Você está pronta? - Confirmei com a cabeça.
Matteo e eu subimos juntos os três degraus da escada e ele destrancou a porta, dando-me passagem para que eu entrasse primeiro.
A casa estava cheia de poeira e o cheiro de mofo não era nada agradável, mas ainda assim parecia o lugar mais aconchegante em que eu poderia estar no momento. Passei os dedos pela mobília coberta por tecidos brancos e tentei pensar na história que eles guardavam, afinal, havia uma família aqui há muito tempo atrás.
No total, haviam cinco cômodos: Uma sala de estar, a cozinha, um banheiro e dois quartos, há deduzir pelas portas no corredor. Da cozinha era possível ter acesso aos fundos da casa, a porta rangeu quando a abri e me deparei com um quintal cercado e cheio de neve, dispostos no pequeno espaço havia um varal e uma bacia de lavar roupas, além de algumas jardineiras em um canto ou outro.
De repente, a neve dentro de uma das jardineiras começou a se mexer e recuei alguns passos, com medo do que poderia ser, até que grandes olhos azuis e um focinho cinza voltaram-se para mim, mexendo as patinhas manchadas para se espreguiçar. Com cautela, aproximei-me do gatinho e ofereci minha mão para ele cheirar.
- Olá, pequenino. Você é lindo, sabia disso? - O acariciei com cuidado, seu pelo era bem macio apesar de estar um pouco sujo e molhado. - Você está sozinho?
O peguei no colo e ele ronronou ao ser afagado, levei isso como um bom sinal e voltei para dentro da casa. Matteo já havia tirado o tecido que cobria uma escrivaninha com sua cadeira e também de uma estante que não notei antes, ele estava indo para o sofá quando me viu.
- Onde você encontrou esse gato?
- Ele estava dormindo lá fora, acho que não tem dono. - Passei o bichano para ele e foi a mesma coisa, mais carinho e ronronados.
- Já escolheu um nome?
Não consegui conter o pequeno sorriso que brotou em meus lábios, nem ao menos precisei pedir para ficarmos com o gatinho, ele simplesmente o aceitou logo de cara.
- Pensei em Neve, mas acho que seria muito óbvio.
- Acredito que não terá problema algum em ser óbvio se ele gostar. O que você acha, Neve? - O gato miou como se concordasse e Matteo assentiu. - Bem, isso me parece um sim.

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A Bailarina de Neve
RomanceDizem que a primavera é a estação das flores e do amor, mas há quem discorde e veja mais encanto no frio do inverno. Talvez tenha sido esse encanto que uniu Matteo, um jovem valete, e Eveline, uma aspirante a bailarina. Para livrá-la de um problema...