Matteo
Nunca esperei tanto a chegada das seis horas como esperei no dia de hoje, já que lorde Hudson passou o dia inteiro entrando e saindo de reuniões em vários lugares e, como seu valete, tive que acompanhá-lo durante todo o dia. Em uma situação normal eu não teria reclamado, mas, desde a bolada que levei no litoral venho sentindo mais dores na perna do que de costume.
Com o pensamento de chegar logo em casa, subi as escadas rumo ao quarto da senhorita Emanuelle, para ver se Eveline estava pronta para ir embora. Quando me aproximei, percebi que a porta estava meio aberta e pude ouvi-las conversando, também conseguia ter uma vaga visão das duas lá dentro, pareciam estar dançando.
- Consegue imitar a posição dos meus pés? - Ev perguntou. - Isso, muito bem! Agora flexione um pouco os joelhos.
- Parece que vou pular igual a um sapo. - Emanuelle comentou e logo em seguida ouvi risadas.
- Tem razão, lembra um pouquinho. Agora vamos saltar para a direita e tentar parar na mesma posição que estamos agora. Está pronta? Um, dois, três, já!
Não consegui distinguir muito bem o que estava acontecendo, mas as duas conseguiram saltar ao mesmo tempo, Emanuelle com um pouco menos de facilidade que Eveline.
- Você está aprendendo bem rápido, Manu. Mais alguns dias e vai estar dançando melhor do que eu.
- Acha mesmo, Ev? - Acredito que Eveline tenha concordado, mas não consegui ouvir sua resposta.
Afastei-me da porta e decidi esperá-la na cozinha mesmo, as duas estavam se divertindo, mas sabia que não iriam demorar muito. Além disso, não queria que Eveline me visse ali e pensasse que eu estava bisbilhotando.
Pouco mais de meia hora depois, estávamos na sala de nossa casa, esperando o jantar ficar pronto. Ev estava na escrivaninha com Neve deitado em suas pernas, escrevendo uma carta para suas tias, enquanto eu estava sentado na poltrona, tentando me concentrar no livro em minhas mãos.
Algo que me intriga desde a nossa primeira semana juntos é o que Eveline faz em seu tempo livre, lembro-me de dizer a ela que não a impediria de fazer nada que quisesse ou gostasse quando a pedi em casamento, mas isso também não me proibia de ficar curioso. Agora, após vê-la ensinar o que pareciam ser passos de dança à senhorita Emanuelle, a minha curiosidade só aumentou.
- Posso te fazer uma pergunta?
- Pode, claro. - Ela guardou a carta em um envelope e voltou-se para mim, esperando para saber o que eu tinha a dizer.
- Você é bailarina?
Eveline piscou duas vezes e endireitou-se na cadeira, para tentar se recompor.
- Como você sabe?
- Bem, eu não tinha certeza, pelo menos não até agora, mas acho que isso explica os passos que ouço de madrugada. Aliás, fico feliz que não seja uma assombração. - Eu sorri e ela deu uma risadinha.
Como o jantar ficou pronto antes do fim do assunto, continuamos a nossa conversa à mesa. Eveline me contou que dança ballet desde sempre e que ensaia quando pode, inclusive foi uma promessa de ensaiar alguns passos à senhorita Hudson que fez a garotinha gostar dela. Ela também me explicou algumas outras coisas, como o porquê de estar no teatro na noite em que tudo começou e as vezes em que foi até lá escondida depois que nos casamos.
- Gostaria de ter te contado antes, mas não sabia como abordar o assunto. - ela disse ao fim da explicação.
- Você nem ia precisar contar se não quisesse, privacidade também faz parte do nosso acordo, lembra? - Ela assentiu. - Só peço que me avise quando for ensaiar lá, posso te acompanhar para você não ter que voltar sozinha tarde da noite.
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A Bailarina de Neve
RomanceDizem que a primavera é a estação das flores e do amor, mas há quem discorde e veja mais encanto no frio do inverno. Talvez tenha sido esse encanto que uniu Matteo, um jovem valete, e Eveline, uma aspirante a bailarina. Para livrá-la de um problema...