A Bailarina de Neve

XVI

Eveline

Matteo e eu ganhamos um dia de descanso após a ida ao litoral com os Hudson e não havíamos utilizado ele até agora, então escrevi dois bilhetes, um deles foi enviado à casa Hudson e outro às minhas tias. O segundo avisava que iríamos visitá-las após levar as crianças para casa para que conhecessem sua irmãzinha.

Chegamos a casa de minhas tias às três, fomos recebidos com toda alegria e os abraços apertados de Jennifer, enquanto a tia Josephine nos acolheu de forma mais contida.

— A que devemos a honra desta visita? — Jennifer nos serviu o chá com biscoitos que havia preparado.

Estávamos sentados à mesa na mesma disposição da primeira vez que Matteo veio aqui, eu e ele lado a lado, elas à nossa frente. Tanta coisa mudou desde então que parece que faz séculos que isso aconteceu.

— Eu queria conversar com vocês duas. — iniciei, reunindo toda a coragem do meu corpo.

— Ah meu Deus! — Tia Jen quase derrubou a xícara que estava em suas mãos ao me encarar com espanto. — Você está grávida, querida?!

— Não, titia. — garanti, antes que ela saísse espalhando pela vizinhança. — Não vamos ter um bebê. — Talvez não agora. — Nós viemos aqui porque eu preciso saber algumas coisas.

— Sobre? — Tia Josephine cruzou os braços na frente do corpo e encarou-me com os olhos castanhos desafiadores.

Josephine sempre fora realista e pés no chão, evitando qualquer tipo de sonho distante para não criar expectativas, ao mesmo tempo era protetora, cuidando de mim como uma águia cuida de seus filhotes, acho que por isso sempre evitou me dizer a verdade.

— Eu quero saber o que houve com meus pais... Com nossa família.

Tia Jennifer olhava para sua irmã com uma expressão preocupada, enquanto Josephine apenas deu um suspiro lento e pousou as mãos unidas sobre a mesa. A mais velha baixou a cabeça e começou a mexer nas pontas dos dedos, um costume que eu havia herdado.

— Essa não é uma história muito feliz, Ev, por isso nunca te contamos. — ela disse em um tom sombrio. — Tem certeza que quer ouvir? — Assenti.

O olhar triste da tia Jen encontrou o meu e ela segurou minha mão por cima da mesa, Matteo fez o mesmo ao perceber como o clima havia mudado.

— Bem, querida... — Josephine começou. — Como você sabe, eu sou a mais velha, depois vem a Jennifer e então a sua mãe. Ela nasceu quando eu e Jen tínhamos por volta de quatro e três anos e se tornou o xodó da família. Lilian sempre foi muito alegre e cheia de energia, era muito bonita também, você se parece muito com ela.

— Pareço mesmo?

— Ah sim, meu bem! — Jennifer sorriu. — As maiores diferenças entre vocês são seu cabelo escuro e olhos claros. Lilian tinha cabelos cor de mel e olhos castanhos, como nós.

Era a primeira vez que as ouvia falar tanto de minha mãe desde que me entendo por gente, não posso negar que estava emocionada por esse momento finalmente ter chegado.

— Enfim, é melhor eu prosseguir, ainda há muito que preciso contar. — Josephine continuou. — Nossa mãe morreu poucos anos após o nascimento de Lilian, então ela se tornou a protegida de nosso pai, já que agora éramos tudo que ela tinha. Aliás, acho que a falta de uma figura materna foi o que o motivou a se casar outra vez, o problema é que nossa madrasta não gostava nem um pouco de nós.

"Enfim, o tempo foi passando e chegou a época em que ela deveria ser apresentada a sociedade, eu e Jen já estávamos inseridas e a preparamos da mesma forma que nos prepararam. Era incrível como ela atraia todos os olhares por onde passava, a temporada mal havia começado e já haviam mais pretendentes para ela em nossa porta do que nós duas reunimos nos nossos primeiros anos."