Matteo
Estava sentado na escrivaninha há um tempo e ainda não sabia ao certo o que escrever, fazia quase uam semana que não recebia notícias de Eveline e a preocupação estava me matando. Ela me pediu tempo e espaço para si e eu dei isso à ela, mesmo que seu pedido fizesse meu coração triste, sinto que não seria capaz de lhe negar nada.
Frustrado, levantei-me da escrivaninha apenas para me jogar no sofá segundos depois.
Enquanto o mundo caía do lado de fora, aqui dentro parecia ainda mais frio, nós não tínhamos o relacionamento mais correto se comparado ao de outros casais, mas ainda assim gostaria que ela estivesse aqui. Eu não me importaria com o silêncio se tivesse que fazê-lo para que ela se concentrasse em sua leitura, nem com passos ecoando pela casa pequena se fosse ela dançando. Pela primeira vez em muito tempo, entendi como é a sensação de ter alguém com quem dividir os dias e agora tudo que tenho é a saudade.
Batidas ecoaram do lado de fora e pensei estar ouvindo coisas, mas elas se repetiram algumas vezes.
Com um certo esforço peguei minha bengala, que estava jogada longe, e fui abrir a porta, sendo surpreendido ao vê-la parada a minha frente.
— Podemos conversar? — perguntou-me.
Levei alguns segundos para recobrar meus sentidos e perceber que ela estava encharcada e tremendo devido a chuva, a deixei entrar antes que piorasse.
— Melhor você se esquentar antes. — Ela piscou algumas vezes e olhou para si mesma, acho que somente nesse momento percebeu o estado em que se encontrava. — A água da banheira ainda deve estar quente, vou separar roupas secas e fazer um chá enquanto você se banha, está bem?
— Sim, obrigada.
Eveline andou pelo caminho que já conhecia e eu a segui alguns passo atrás, ela saiu do meu campo de visão ao chegar ao pequeno espaço privativo onde fica a banheira e eu comecei a remexer em sua cômoda a procura de algo que fosse o mais quentinho possível, a conclusão que cheguei com isso é que as damas possuem muitos tipos de roupas e eu não faço ideia de para quê a maioria delas serve, mas acho que consegui encontrar o que precisava.
Retirei-me do quarto para que ela tivesse toda a privacidade necessária e fui preparar o chá, imaginando o motivo dela ter aparecido do nada em meio a uma tempestade.
Quando a água ferveu, servi o chá para nós dois e sentei-me para esperá-la, poucos minutos depois, Eveline apareceu na sala e sentou-se comigo no sofá. Sua aparência estava bem melhor agora, apesar do nariz vermelho e das bochechas coradas, ela provavelmente acordará resfriada amanhã.
— O chá está ótimo, obrigada. — ela disse para quebrar o silêncio.
— Não há de que.
— Sinto muito por aparecer do nada, mas não queria ter que esperar mais um dia para te pedir desculpas. — Tentei falar, mas fui interrompido antes mesmo de começar. — Eu te conheço bem o suficiente para saber que você vai dizer que eu não preciso me desculpar por nada e que está tudo bem, mas eu preciso sim.
Ela pousou a xícara na mesinha a nossa frente e virou-se para me encarar enquanto falava, parecia calma por fora, mas o modo como mexia na ponta de seus dedos indicava que por dentro havia uma bagunça enorme precisando ser arrumada.
— Eu fui egoísta, Matteo, foquei tanto no que eu estava sentindo que deixei os seus sentimentos de lado. Você sempre foi tão gentil e bondoso comigo e sem esperar nada em troca porque de algum jeito sabia que eu não poderia retribuir, mas mesmo assim não desistiu de mim. Pensei que eu nunca conseguiria me apaixonar por alguém devido a tudo que já vi e vivi, mas quando percebi que esse sentimento realmente existia e que ele era seu... Não sei, minha única reação foi fugir porque fiquei assustada. — Seus olhos estavam marejados, a sinceridade de suas próprias palavras a atingiu em cheio. — Só que eu não quero mais fugir.
Não precisei dizer nada, eu entendia tudo e ela sabia disso, então, ao invés de falar, a tomei em meus braços e dei-lhe o abraço forte que achei que ela precisava, podia sentir suas lágrimas escorrendo e molhando a minha camisa enquanto eu afagava seu cabelo ainda um pouco úmido. Se dependesse de mim, nada no mundo a faria mal outra vez.
— Obrigada por me salvar, Teo. — ela disse em sussurro quando as lágrimas cessaram.
— Obrigado por me amar, Ev. — respondi e acariciei seu rosto.
Unimos nossos lábios em um beijo morno, terno e doce, mas que continha todos os sentimentos que nós dois merecíamos.
Acordei com o som de espirros na manhã seguinte, pareceu um pouco estranho até as lembranças da noite anterior começarem a se encaixar. A tempestade, Eveline, a conversa e nós dois...
Sentei-me com as costas apoiadas na cabeceira da cama e Eveline virou-se para ver o que estava acontecendo, seus cabelos estavam bagunçados, as bochechas coradas e o nariz vermelho, ainda assim, eu tive a certeza de que ela é a mulher mais linda que já vi em toda minha vida.
— Bom dia.
— Bom dia. — Ela sentou-se ao meu lado e sorriu. — Dormiu bem?
— Sim e você?
— Sim, tirando os espirros agora cedo.
— É, você enfrentou uma tempestade e tanto ontem.
— Enfrentei, mas acredito que valeu a pena. — Ela sorriu e me deu um beijo na bochecha, mas acabou tendo um pequeno ataque de espirros segundos depois.
— Acho que é a primeira vez que não vou ter que mentir no trabalho essa semana. — comentei e a ouvi rir baixinho.
— O que você teve que inventar esses dias?
— Bem, eu disse que uma das suas tias estava doente e precisando de cuidados constantes, por isso você teve que passar alguns dias longe...
— O irônico é que eu quem estava mal e elas cuidaram de mim. — Ev suspirou e depois ergueu o rosto para me encarar. — Mas acho que agora estou bem melhor.
Eveline aproximou-se um pouco mais e seus lábios encontraram os meus com o misto de delicadeza e ardor que somente ela possuía.
Não sei ao certo por quê é ela quem quase sempre toma a iniciativa para os nossos beijos acontecerem, mas eu secretamente gosto disso, pois me mostra que ela se sente confortável comigo ao ponto de querer esse tipo de carinho, e eu me sinto o homem mais feliz e sortudo do mundo inteiro por isso.
Desde o momento que entendi quais eram os meus sentimentos, passei a acreditar que meu destino seria reprimi-los até o fim da minha vida, mas agora tenho outra perspectiva: Meu destino é amar Eveline até o fim dos meus dias, porque ela merece todo o amor que eu puder lhe dar.
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A Bailarina de Neve
RomanceDizem que a primavera é a estação das flores e do amor, mas há quem discorde e veja mais encanto no frio do inverno. Talvez tenha sido esse encanto que uniu Matteo, um jovem valete, e Eveline, uma aspirante a bailarina. Para livrá-la de um problema...