XV

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Matteo

Desde a noite em que nos beijamos no teatro, as coisas parecem estar diferentes entre nós, mas não de um jeito ruim. Nossa rotina não mudou, porém parece mais leve agora, não sei se porque o beijo derrubou alguma barreira que havia entre nós, ou se eu apenas estou vendo tudo sob a perspectiva de alguém apaixonado.

— Certo, o que acha desse? — Eveline apareceu na sala outra vez, após a terceira troca de roupa da noite.

Dentro de alguns minutos iremos à casa de David e Isabel, o bebê está quase chegando e eles querem aproveitar para fazer um último jantar em família antes disso.

O problema é que mamãe adora implicar com Eveline, do mesmo jeito que fez com a pobre Isabel há alguns anos atrás, então agora minha esposa está quase enlouquecendo para encontrar uma roupa que cause uma boa impressão, mesmo que não haja necessidade.

— Tão bonita quanto nas duas primeiras vezes em que me perguntou. — Apesar da minha sinceridade, estava óbvio que ela ainda tinha dúvidas sobre a roupa. — Se me permite dizer, é um belo vestido. O modelo e a cor ficam muito bons em você.

— Não está dizendo isso só para me agradar, está? — Neguei.

— Por que eu diria que você está bonita se não achasse que é verdade? — Me aproximei e pus a mão em sua cintura, para mantê-la perto de mim.

— Porque, um: Você tem uma estranha tendência a tentar me agradar; Dois: Estamos quase atrasados...

Enquanto ela listava seus porquês, comecei a fazer cócegas para distraí-la, logo, o único som que saía de sua garganta eram gargalhadas.

— Tá... Bom... Já... Chega. — Parei as cócegas e lhe dei tempo para recuperar o fôlego. — Bem, irei com este então. — Ev sorriu para mim e olhei no fundo de seus olhos claros antes de receber um beijo delicado.

Apesar de saber que não deveria, acabei me acostumando a aos pequenos momentos como esse e, por consequência, os apreciava muito.

A verdade é que eu não conseguia mais distinguir se o fingimento se tornou natural a ponto de me iludir, ou se realmente algo entre nós estava crescendo à medida que baixamos nossa guarda.

— É melhor irmos, ou o jantar vai começar sem nós. — disse quando o beijo chegou ao fim.

Após alguns minutos, já estávamos na frente da casa do meu irmão. Bati à porta e o próprio veio nos atender.

— Ah, vocês chegaram, graças a Deus! — David nos puxou para dentro antes que pudéssemos entender o que estava acontecendo. — Isabel e mamãe estão no quarto, está demorando muito e eu não posso entrar lá porque a deixo nervosa, mas você pode ir cunhada. Por favor, eu preciso saber se ela está bem.

— O que? Como assim se ela está bem? — Por um instante acreditei que o nervosismo de David era algo contagioso e havia acabado de passar para mim.

— Isabel entrou em trabalho de parto. — explicou. — Eveline, por favor, vá vê-la e me traga notícias.

Eveline hesitou por alguns instantes e saiu andando rumo ao quarto, enquanto David me explicou, da maneira mais calma que conseguiu, sobre o parto precoce de Isabel, faltava apenas uma semana para a minha cunhada entrar no nono mês, mas o bebê se adiantou.

Passou-se uma hora e Eveline não voltou à sala, até mesmo meu pai, que já havia saído com Francisco e Marta, apareceu. Pedi a ele que levasse meus sobrinhos para dormir na minha casa para que não ficassem assustados com os gritos de minha cunhada e assim foi feito.

A Bailarina de NeveOnde histórias criam vida. Descubra agora