Sozinha, mas com companhia

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Sozinha na estrada por dias, se escondendo e correndo dos famintos. O destino é certo, Joinville. O resgate foi há um mês, agora... Rafaela está de volta para saber como tudo está, para ter um momento só para ela.
Ela chega até o portal de Joinville, e entra em uma das salas, se fecha dentro e liga a lanterna, atrás de um móvel, está um Zumbi deitado, podre e preso. Vendo que à curto prazo ele não é uma ameaça, ela senta no outro lado do quarto para descansar. Deprimida, ansiosa e exausta, depois de minutos, ela quebra o pé de uma mesa e sem olhar para o Zumbi, espanca-o até morrer. Com sangue dele em seu tênis e muito no antigo pé da mesa, ela decide abrir a porta.
Com o pedaço de madeira na mão, abre a porta lentamente e fica atrás da mesma. Segundos se passam e Rafaela não sente a presença do Zumbi, cautelosamente sai e olha ao redor, se alivia, porém escuta passos atrás dela, o Zumbi dá o bote, mas no reflexo, ela quebra o pé da mesa nele, e começa a correr, fugindo dele, como foi nos últimos três dias...
Horas se passam, Rafaela chega no bairro onde morava e tinha seus amigos e familiares. Próximo do anoitecer, ela procura um lugar seguro para dormir, suas últimas camas foram carros abandonados. Vasculhando, ela entra em uma odontologia, não estava trancada.
Quatro cômodos, recepção na entrada, banheiro, escritório e a sala do dentista. O escritório está trancado, a sala do dentista há barulhos. Rafaela move uma fileira de bancos da recepção até a sala do dentista, para o que estiver lá dentro não sair.
Joinville está um deserto de vivos, a cidade está quieta. Em relação ao começo, a cidade não está lotada de doidos, eles parecem ter se espalhado e saído do grande centro, estão se infiltrando no interior aos poucos.
RAFAELA- *pega a foto do garoto* Estou em Joinville... Espero que você também esteja. *abraça a foto*
Ela pega no sono, deixa a lanterna cair e ilumina a sala do dentista. Ela adoece e o ser que estava lá dentro começa a se rebater na porta. Com um lugar “seguro” e exausta, Rafaela cai profundamente no sono e dorme por horas. Treze horas da tarde, Rafaela acorda desesperada, Zumbis batem na porta do imóvel, após isso, ela olha para trás e vê a porta da sala do dentista torta e abatida, não estava assim quando ela dormiu.
RAFAELA- Droga! *pega a lanterna* Acabou a bateria das pilhas. *coloca dentro da bolsa* Vamos ver o que está aí dentro. *faca em mãos*
Os Zumbis começam a socar a vitrine do imóvel, mas Rafaela ignora. Estressada, ela abre um pouco a porta e chuta, é um Zumbi, ele cai no chão e está de costas para ela. Ele levanta e gira que nem um bêbado e se olham.
RAFAELA- Enrique?!? *boquiaberta* Não, não! *lacrimeja* POR QUE?!? *grita desesperada*
Enrique anda lentamente até ela, ele cai e se rasteja até ela. Ela recua até a vitrine e vê os Zumbis trincando o vidro. Debilitada, ela pega a pistola dentro da bolsa.
RAFAELA- *chora* Me desculpa! *dispara*
Os tiros chamam a atenção. Atrás dela, o vidro se quebra, e ela corre até a sala do dentista e vê que não pegará mais sua bolsa. Ela fecha a porta para atrasar os Zumbi, ela vê um papel no lado de um esqueleto de cachorro, que ainda tem pele e carne, porém apodrecidos. Ela pega o papel e pula a janela.
Pelas ruas que ela corre, famintos em todas. Depois de minutos fugindo, entra em um beco com um portão, e se esconde atrás de tijolos.
Depois de ficar em silêncio, ela pega o papel e o abre, “Fui arranhado e meu cachorro mordido, meu nome era Enrique. Obrigado Paola, minha Mãe. Meus amigos queridos, Victor, Fernando e Natasha. E finalmente Marlene, a garota mais linda que amo." Rafaela fica sem chão, o garoto que ela gostava, nem ligava para ela, e ainda por cima morreu...
Horas se passam, a noite se aproxima, o rumo que restou foi o aeroporto, um lugar que visitou muitas vezes para viajar pelo país à fora. Cercada, ela decide que é hora de usar novamente sua pistola, e começa a atirar. Acertando e errando, ela fica mais encurralada, até que cai no chão e suas balas acabam.
-Ei! CORRE. *acerta o cano na cabeça de um Zumbi* Doeu? *cavalo acerta coice em outro* Sua vez agora. *empurra contra a parede, e o esfaqueia* Está bem?
RAFAELA- *se vira e olha* Sim, obrigado...
-Espera, Rafaela?
RAFAELA- Si... Sim! *olha* Eloisa? *surpresa*
ELOISA- Meu Deus... *a abraça* Eu te achei! *sorridente* Vamos sair daqui, tenho um lugar seguro.
As duas sobem em cima do cavalo e saem do aeroporto, galopando no escuro. Se afastando um pouco dos prédios, elas chegam no destino, em uma garagem. Eloisa a abre, e as duas entram com o cavalo.
ELOISA- *fecha a garagem* Que dia... *acende velas*
RAFAELA- Está muito tempo sozinha? *senta*
ELOISA- Há algumas semanas. O centro de refugiados, em São Francisco do Sul, caiu... os sobreviventes fugiram ou foram movidos para outros lugares.
RAFAELA- O começo foi um caos, meus pais falaram.
ELOISA- Você não estava junto? *alimenta o cavalo* RAFAELA- Eu fiquei sozinha. Não havia alternativa... ELOISA- *se senta no lado* Conta tudo, eu estou aqui.
RAFAELA- Bom... Eu saí da sua casa, e eu voltei para a minha. Aí... tudo começou. O condomínio foi invadido, teve... brigas e sangue. Me tranquei no AP por dias.
ELOISA- Nossa... e como saiu, o que aconteceu depois?
RAFAELA- Fui resgatada, e fui para um lugar onde está a minha família, é um lugar bom, eles ainda estão lá...
ELOISA- Tem um lugar então? Seu pai te resgatou?
RAFAELA- Martin Rietter. Lembra dele? *Eloisa se surpreende* Estamos na casa dele agora.
ELOISA- O mesmo chato? Aquele que eu mandei o audio?!? *ri* O mundo é pequeno. Me diz... como ele é?
RAFAELA- Ele parecia bom, gentil... atencioso. Mas ele é o que achávamos. Trouxe uma horda desses bichos apenas para entrar em uma sociedade, e essa sociedade é perigosa. Agora minha família está em perigo. Acho que se eu tivesse matado aquele dia teria sido melhor...
ELOÍSA- C... como assim matado ele?
RAFAELA- Ele ficou mal depois do resgate, e... estava deitado, eu quase o matei com uma faca. *Eloísa se choca* El... ele tinha chance de morrer. Eu não queria que ninguém se machucasse, ele a qualquer momento podia se levantar, as coisas são assim agora. *nervosa*
ELOISA- CALMA! Precisamos fazer silêncio... Vai tentar matar ele de novo? Parece que está com raiva dele.
RAFAELA- Não... eu não tenho coragem de fazer isso com ele. E ele não merece morrer, isso não.
ELOISA- Então algo que o abale, algo nesse sentido, não sei... Precisamos livrar sua família dele e aquele lugar.
RAFAELA- Eu deixei uma carta para todos verem a verdade, não sei como estão lidando com isso... Eu sei de uma coisa, mas é melhor irmos dormir agora.
Martin aparentava ser o vilão, algumas verdades e dúvidas vieram à tona. O dia amanhece e Eloisa já está acordada, fazendo café em um lugar mais afastado. Rafaela acorda meio desligada, Eloisa oferece um copo de café, Rafaela fica surpresa por estar quente, se impressiona mais quando queima a língua, está pelando. Eloisa cozinhou um porquinho da índia, Rafaela sente repulsa, mas come.
RAFAELA- Nunca vi alguém comer porquinho da índia. *come devagar* Não é muito bom...
ELOISA- *ri* Sabe onde eu peguei? *Rafaela mastiga* Eu fui na casa da Natasha, era dela. *come rindo* Ela estava lá também... *Rafaela dá o resto para o cavalo* O Jerry gosta, não é, garotão? *acaricia* Depois do refúgio cair... voltei para cá e fui até o haras, ele estava lá. *sorri* Somos só eu e ele.
RAFAELA- Que bom. *acaricia* Ele é lindo.
ELOÍSA- Vamos. *sobe em Jerry* Vamos galopar um pouco. *Rafaela sobem, e galopam* Por que voltou?
RAFAELA- Eu precisava de um tempo, enfrentar meus medos, dúvidas... saber como tudo estavas, e o Enrique.
ELOISA- Entendo... já o achou?
RAFAELA- Morto, matei ele como Zumbi. Ele deixou um bilhete... ele nem ligava para mim.
ELOISA- *galopa mais devagar* Sabe... eu nunca fui com a cara dele, e... foi melhor assim. Mas me fala agora, o que tem em mente sobre o Martin.
RAFAELA- Uma conhecida dele, Martin a odeia, ela desastrou a vida dele. Bom... criei pena dela, já que os familiares dela foram... mortos por ele.
ELOISA- Espero que ele tenha tido um bom motivo..
RAFAELA- Eles atiraram também, esconderam as armas, mas... quero ouvir o lado da história dela. Vamos voltar, e salvar a minha família, seja o que for.
ELOISA- *para o cavalo* Sair daqui? *fala alto*
RAFAELA- Amiga... tá chamando a atenção.
ELOISA- Eu tenho uma base aqui, até chegarmos lá, você acha que estaremos vivas?
RAFAELA- Estamos vivas até agora, vamos conseguir! *Eloísa pensa* Não tem mais nada aqui, por favor... Lá tem um pasto pro Jerry. *Eloísa sorri e aceita*
De manhã no outro dia, elas comem uns restos e partem para Massaranduba. Seria uma jornada de dias, até chegarem ao destino e possivelmente achar Helena.

Renascer dos Mortos PESADELOOnde histórias criam vida. Descubra agora