De quem é a culpa?

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“Eu fugi, não irei mencionar onde, mas tive que fazer isso. Descobri algo que... terão certeza que estou certa. A horda que veio... Martin estava por trás. Não confiem nele, há um Instituto, são perigosos. Eu irei voltar, não precisam ir atrás de mim.”
Está é a mensagem deixada por Rafaela, que foi lido por Fabrício, seu Pai. As revelações que vieram à tona quando todos escutaram, trouxeram desconfianças, olhares tortos, palavras pesadas, decepção, dúvida e medo. Dias já se passaram, nada está como antes, mas a poeira parecia ter se abaixado.
“GUEVEN- Martin... *todos chocados*
MARTIN- Eh... eu posso explicar.
LEM- EU SABIA! Avisei, mas duvidaram de mim.
GUEVEN- Isso não tem explicação...
MARTIN- Mas, estão todos bem, vivos!
MARISTELA- Minha filha sumiu, não estão todos bem. FABRÍCIO- Falando nela... precisamos ir atrás dela.
MED- *discussões, gritos e murmúrios* CHEGA! Deixem o garoto se explicar. E Fabrício... sua própria filha disse para deixá-la, ela foi porque sabe que consegue.
LEM- Não há mais conversas com ele!
MED- Lem, fique quieto, por favor!
MARTIN- Bom... *olha para todos* Eu sou o errado. *peço silêncio* Não tive escolhas, eu tive que fazer isso. Se não... isso iria acontecer de qualquer forma.
GUEVEN- Porque não teve escolha?
MARTIN- Encontrei conhecidos em um cemitério, eles falaram do Instituto, e falei com os mesmos pelo Rádio.
LED- E por quê trazer a horda aqui?
MARTIN- Nós desconfiamos, mas estava determinado, eles iriam vir de qualquer jeito. A outra alternativa era aceitar. Felizmente, até agoradeu tudo certo.
LEM- Viu, Med! o irmão mequetrefe dele também estava por trás. E por quê você não estaria mentindo?
MARTIN- *todos olham* Eu não posso garantir nada. *todos murmurando* Mas... se quiserem acreditar, acreditem! Eu não tenho mais nada para esconder.
MED- *passa alguns instantes* Eu... preciso falar algo! Além de Rafaela, Martin e Maycon... eu também sabia desse Instituto. Martin não é o único “errado” aqui.
LEM- *todos surpresos* Eu não sei vocês, mas eu iria embora. Maristela... *segura a mão dela* vamos atrás de sua filha. Este lugar não é mais seguro.
MED- Garoto... Eu não estou contra você, mas...
LED- Med, que história é essa de esconder isso de mim? *olha para Martin* Outra hora conversamos...
MARTIN- Está bem! Façam o que quiser, estão livres, nunca mandei em vocês mesmo. *fala alto*
Peguei o papel que Rafaela escreveu e li. Lem estava desafiando meus nervos, um soco na cara dele é o que eu mais quero. Todos falaram de mim, mas eu via que alguns estavam tentando acreditar. Med até me defendeu, ele deve ter ficado com peso na consciência, mas claro, depois de tudo que dei a ele, isso seria o mínimo. À noite, fizemos uma reunião na casa de Maycon, agora com o próprio presente.
GUEVEN- Como vai ser daqui pra frente?
LEM- Não temos o que discutir, o negócio é deixar esses mentirosos e irmos embora!
MAYCON- Por que não vai? A porta está aberta para você vazar, muleque! *discussõs*
MARTIN- Pensem! Aguentem mais um pouco.
LED- Não dá pra ficar tranquilo depois de tanta merda.
LEM- Você ferrou tudo, seu merda.
MARTIN- Eu cansei! *ando de volta para casa* Vocês não vão acreditar em mim, mas sabem que estou certo. *eles vão atrás* Sabem que não tive escolha.
G

UEVEN- Talvez, podia ter feito melhor... não esconder. MARTIN- *olho para Fabricio* Eu contei para ela, e nada de mal eu quero que aconteça com a mesma.

FABRÍCIO- *Med, Gueven e Led sobem o caminho* Eu sei, eu acredito em você! *fala baixo* Apenas mantenha a ordem, e as coisas irão se resolver, naturalmente...

MARTIN- *olha para Fabrício* Obrigado. Olha... não saiam daqui, deixe tudo se consertar.
Logo em seguida eu saio, Med e Led ficam sozinhos.
LED- Enfim a sós! Agora quero que me conte tudo.
MED- Martin decidiu me contar sobre esse Instituto, já que não iria conseguir esconder por muito tempo. Eu fiz chantagem com ele, pedi revistas e bebidas, em troca do meu silêncio, ele aceitou e me deu.
LED- Martin não é uma pessoa ruim, acredito nele, estava com medo, pressionado, queria manter tudo sob controle, acabou fazendo errado, e acabou nisso. Mas você é um aproveitador de merda. *aponta o dedo*
Deram uma folga para mim, estou pensando e me preocupando com Rafaela. Sobre onde está, com quem, quando irá voltar... Seus pais e irmãos imaginam que está pela região de Joinville, mas como na carta que ela escreveu, Rafaela pediu para não irem atrás dela. Até agora ninguém foi, mas a sanidade está piorando.
Fabrício, Led e Med discutiam sobre buscar e procurar Rafaela. Eles decidiram fazer algumas rondas diárias de carro pelas redondezas, para ver se acham algo. Os dias passam, e nada de Rafaela. Lem continuava tentando fazer a cabeça de todos. É Segunda-Feira, já temos energia completa, começamos a ter gasolina sobrando, mas vai acabar se não economizarmos. As rondas acabaram gastando, isso fez com que a frequência de distância diminuísse.
A esperança em acha-la está diminuindo com o passar dos dias, iria fazer quase uma semana que ela fugiu. Fiquei aliviado que ninguém foi embora... ainda. Palavras fortes e ameaças acabaram acontecendo. E se fossem embora, para onde iriam? Lá fora está um caos, ir muito longe desse lugar é suicídio. Seria andar no escuro, sem saber se há um lugar seguro.
No momento que estamos, não sabemos nada sobre os Centros de Refugiados. Essa semana tem reunião no Instituto, Gueven veio falar comigo, ele quer saber mais sobre, até quer participar das reuniões. Percebi que ele está do meu lado, e quer fazer parte disso. Falei que algum dia dessa semana poderia ir comigo.
Hoje vou sozinho, provavelmente pressionado. Passei por Gueven, depois Led, que me encarou e deu um boa tarde seco. Descendo a rua, Maristela e Lem conversando no portão, tive que engolir...
LEM- Cara de pau! Vai com suas mentiras. VERGONHA!
Perdi o encanto que Lucas tinha comigo, o próprio até me tacou uma pedra. Já Maristela... ela está preocupada com Rafaela, olha para mim como se tudo fosse minha culpa.  Quando sumi da vista deles, soltei forte a respiração e chutei de raiva algumas pedras pelo caminho. Cheguei desanimado e furioso no ponto. Med está apreciando as imagens da revista.
MARTIN- *tapa na lataria do carro* Mortos andando!
MED- *assustado* Minha nossa... quase que te ataco, garoto. *fecha a revista e joga para dentro do carro* Eu vi que tinha uma atriz que começou seus trabalhos aos dezesseis anos. *olho para ele* Isso não é crime? Bom, pelo menos ela foi na carreira certa, cruz credo, eu daria de tudo por essa gostosinha. *ajeita as calças*
MARTIN- Med... você tem um dever aqui, devia deixar essas coisas de lado, não fazem bem para você.
MED- *ri* Qual é... você devia ser um baita punheteiro com pornô. Haha. Cara, aqui é um saco, sozinho... parado, estou ficando louco. Essas musas me alegram.
MARTIN- Temos que nos alegrar com algo. *cabisbaixo*
MED- É apenas uma fase, irá passar...
MARTIN- Fases... Fases! *olha para os lados* Sempre falavam, vai passar... Assim foi com meus pais, aguentar brigas deles toda a semana, sempre a mesma porcaria de ofensas, eu falava para eles pararem, mas continuavam, sempre a mesma coisa. E isso só foi acabar, quando eles morreram... *lacrimejando* Eu fiquei mal por eles, mas... não igual ao Maycon. Depois de um tempo eu só aceitei que eles se foram e nunca mais iriam voltar. Eu acho que eu nunca amei eles.
MED- Eu queria ter tido uma Mãe, eu e Led crescemos apenas com o bruto do nosso pai, o lado bom... ele foi tão ruim que criou dois cascas grossas, única coisa que agradeço nele. *seco as lágrimas* Pode contar comigo. Sem mais chantagens, agora de verdade. *a van chega*
MARTIN- *entro na van* Obrigado, Maurício! *Diego fecha a porta* Aconteceu o que eu mais temia. Todos do meu grupo descobriram sobre o Instituto e a horda.
MIMI- É melhor assim. Eu falei desde o começo.
MARTIN- Se fosse eu que contasse, sim. Descobriram de um jeito que eu virei o vilão.
DIEGO- Sem você explicar, você realmente é um vilão.
Uma nova semana começa nas reuniões, está ficando repetitivo e chato. Eles tem regras que se alguém do grupo não comparecer dois dias na semana, irá ser retirado do Instituto, sem volta, também eram taxados como mortos. Hoje vamos receber nossas recompensas pelo imposto. De roupas até munições. Os membros do Instituto colocam em cada mesa das pessoas, mas a minha fica vazia, e eu questiono:
MARTIN- Ei, ei! Cadê a minha recompensa?
SEGURANÇA2- Você entregou banana podre, cuz...
INSTRUTOR- Isso foge das nossas regras, então sua punição é não receber. Simples assim.
SEGURANÇA2- E ainda vamos querer um imposto extra ainda essa semana! Ou sofrerá as consequências...
Eu não entendi, eu e Maycon cortamos as maduras, mas estavam no melhor ponto. E ainda por cima foram entregues com uma pesagem maior do que o pedido.
Vou embora bravo e indignado. Desembarco da van e vejo um papel com meu nome no capô do carro de Med. Está escrito, “Garoto, conte comigo para o que precisar, estou do seu lado”. Voltando no escuro, ao passar perto da casa de Maycon, sinto uma presença nas palmeiras.
MARTIN- Sei que está aí! *silêncio* Está bem... *puxa a faca* LEM- Vai me matar? *aparece nas palmeiras*
MARTIN- *alívio* Poxa, Lem, vá pra casa, é perigoso.
LEM- *passo à frente* Está me falando o que é perigoso? Você é o perigo aqui! *aponta o dedo*
MARTIN- Sempre com o mesmo papo, sempre do mesmo jeito. O que você quer, em?
LEM- Apenas... Diga a verdade.
MARTIN- Quer que eu diga? *joga a bolsa no chão* A verdade é que eu quero socar essa sua cara! *fala alto*
LEM- Caiu a mascará, é? Haha. Cai dentro!
LED- *chega correndo* Ei, vocês! Está tudo bem por aí? MARTIN- *olho para Lem, depois para Led* Sim, Led...
LED- Vão para casa, é melhor...
MARTIN- *pego a bolsa* Outro dia... *falo baixo*
Led sabe o que está acontecendo, veio na hora certa para impedir a briga. Eu dormi socando o travesseiro, mas consegui felizmente pegar no sono.
No começo, discutimos sobre matar um porco, finalmente vamos fazer isso, consumimos tudo que podíamos, exploramos e pegamos conservas de algumas casas, e o cultivo... poucos alimentos tiveram uma boa colheita, a época ainda virá, nossa comida está escassa.
LED- O Med vem daqui a pouco ajudar a limpar. *andamos até o chiqueiro* Fabrício e Maristela também vão ajudar. *tiram o cachaço do chiqueiro*
MAYCON- Sempre que matávamos um... *segura a espingarda velha do vô* Atirávamos com isso.
FABRÍCIO- Ele vai dar muita carne, uma semana sem preocupação. *amarram ele*
MED- *chega* E a porca, a gravidez tá indo bem?
FABRÍCIO- Muito bem. *Led pega a espingarda*
LED- Bom... vamos lá. *barulho de carro* Mas o que?
LEM- Só o que faltava... *veículos estacionam*
GUEVEN- Mas que merda é essa? *eles saem dos carros apontando suas armas* Pu... merda.
MARTIN- É o Instituto... *olham torto* O... que?
LEM- *cochicha para Maristela* Estamos condenados.
CLAUDEMAR- *ajeita a calça* Eu soube que não andou contribuindo certo. *andam até nós* Que baita lugar.
MAYCON- Houve um engano, nossas bananas estavam...
SEGURANÇA1- Calado! Viemos cobrar.
MARTIN- Eu pensei que era apenas na escola.
CLAUDEMAR- Dívidas são pagas fora.
GUEVEN- Ei, calma! Podemos resolver isso. Em paz.
CLAUDEMAR- *olha ao redor* Aqui dentro do galpão tem bastante panelas e facas... sabe, quando meu Pai matava uma criação, minha família limpava. Iam matar algum bicho? *ficamos calados* Homens... avante. *andam até o pasto*
MARTIN- Pera aí, Chefe! Os Zumbis que você mandou é um baita pagamento. Considere isso. *me olha*
CLAUDEMAR- Obrigado! Vocês fizeram um bom trabalho. *palmas* *o porco grita* Como ele tá gordo.
SEGURANÇA1- Daria para alimentar muita gente. 
CLAUDEMAR- *tapinha no porco* É nosso agora.
LED- ESPERA AÍ, SEUS IMU... *sofre uma coronhada*
MED- Meu irmão, seus... *apontam a arma*
CLAUDEMAR- Quietinho aí! *pega o revólver* Nós vamos limpá-lo e matá-lo, seremos gentis.
FABRÍCIO- Estamos sem comida, esse porco...
CLAUDEMAR- Ah, eu não quero saber. *entrega o revólver para mim* Vai lá, garoto! Mete bala.
MARTIN- *medo* Não, não. *o porco me olha*
CLAUDEMAR- *ri* Ele tá com pena, rapazes. *risos*
SEGURANÇA1- *segura Maycon* Se tentarem nos impedir, vamos atirar nele. *murmúrios*
MARTIN- NÃO PRECISA DISSO! *pego a espingarda*
Eu senti pena do porco, ele é inocente, a carne é gostosa, mas isso é difícil. Eu senti remorso com ele, mas com pessoas que matei não. Os animais são puros, as pessoas são más.
CLAUDEMAR- *atiro* UAU! *ri* Foi limpo na cabeça. Vamos, homens, carreguem ele.
GUEVEN- Não pode levá-lo! *suplica*
SEGURANÇA1- *solta Maycon* Obrigado pela atenção.
CLAUDEMAR- Dívida paga. *sorri* Valeu pelo porco. A gente se vê na escola. *vão embora*
LEM- EU FALEI, EU AVISEI. *lacrimejo*
MAYCON- Você não vai mais nesses merdas.
LED- *dor* Saia desse Instituto.
MARTIN- NÃO DÁ MAIS! Vai ser pior se não formos.
GUEVEN- Vamos embora, então. Há lugares melhores.
MARTIN- *murmúrios* NÃO! Ninguém vai embora. *discutem* Fabrício... sua filha ainda tá lá fora.
MARISTELA- ELA SUMIU POR SUA CULPA!
LEM- Vamos logo embora. Você só está nos atrasando.
MARTIN- Logo eu vou fazer você ir embora, pau no c...
FABRÍCIO- EI, PAREM! Vamos... continuar os serviços, é uma decisão forte, é preciso pensar. *todos vão indo*
LEM- Eu tô tentando avisar. *fala no ouvido* Vamos antes que seja tarde. *nos encaramos*
MARTIN- VAI LOGO, LEM! SUMA.
GUEVEN- *murmúrios* CALEM A BOCA! É como o Fabrício disse, precisamos pensar muito até irmos embora. Não vai ser da noite pro dia. *discussões*
MARISTELA- Eu vou arrumas as malas.

Renascer dos Mortos PESADELOOnde histórias criam vida. Descubra agora