Caos

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Quando o áudio termina, olhamos para as centenas de pessoas se rasgando. O sangue, gritaria e desespero nos deixaram em estado de choque. Alguns nos viram, os que estavam normais, pediam socorro, os loucos... começaram a ir atrás de nós. Dentro das lojas, os funcionários sendo pegos e morrendo devagar. As mulheres no provedor sendo pegas de surpresa, a cortina branca sendo manchado por um puro sangue vermelho. Começou a sangria nos corredores.
MARTIN- Merda... DESCE, DESCE! *descemos pulando, Philip cai* Vem, Philip. *puxo ele*
JÉSSICA- *um louco agarra ela* RHAEL! *ele morde o pescoço dela* AAAAAHH!
RHAEL- NÃO! *Will puxa ele* SEU FILHO DA...
WILL- *se rebate* A gente tem que ir, A GENTE TEM QUE IR. *corremos* Por que as merdas das escadas tem que ser no outro lado?!? *escorrega na poça de sangue*
PHILIP- VEM! *ajuda ele, os dois se sujam muito de sangue* As escadas, vamos! *descemos*
No lado oposto, loucos subindo, eles tentam nos agarrar, mas conseguimos escapar.
PONTO- Parem quem estiver com sangue e comportamento ofensivo, não deixem passar.
SEGURANÇAS- Copiado. *seguram Will e Philip*
MARTIN- EI, ei! *eu e Rhael tentamos puxá-los* Soltem eles, deixem eles irem. *puxamos*
SEGURANÇAS- Contaminados, saiam. *nos batem*
PHILIP- NÃO DEIXA A GENTE AQUI. *são puxados para trás* POR FAVOR. *colocam grades e passarelas*
MARTIN- NÃAO! *Rhael me puxa* Não!
RHAEL- A gente precisa ir, cara. *saímos do shopping*
WILL- NÃO DEIXEM A GEN...
Nos espantamos ao olharmos a avenida, uma multidão de pessoas correndo apavoradas, em meio aos loucos. No fim da rua, centenas de aberrações vindo em direção ao shopping.
RHAEL- O ônibus ali, vamos! *corremos*
HELENA- Vamos, Elie!
ELIE- *cercada* Ah. não! *assustada* Me ajuda!
HELENA- *longe dela* Usa a bolsa! BATE COM A BOLSA NELES! *longe*
ELIE- Não, não! *bate em um com a bolsa* Martin, me ajuda! *eu olho* ME AJUDA!
MARTIN- Vamos, Rhael! *ele entra no ônibus*
ELIE- NÃO! *é pega* MerdAAAAA. *mordidas*
HELENA- *na porta do ônibus* Por que não ajudou ela? Seu merda! *me empurra e entra*
GUIA- GAROTO! * me levanta* Entra! *é mordido no braço* AAAH! *mais alguns chegam e o consomem*
MARTIN- *assisto* CARAL...
MOTORISTA- ENTRA, PO... *a porta se fecha* Ninguém mais entra ou sai. *acelera*
Vou até o fundo do ônibus, abalado. Me sento na beira da janela, e vejo as pessoas serem comidas vivas, em especial, a agonia de Elie, e também do Guia...
PROFESSORA- *ônibus saindo da zona de perigo* Você vai voltar com esse ônibus AGORA!
MOTORISTA- Eu que dirijo aqui! A gente vai voltar direto de onde a gente veio.
PROFESSORA- Tem pessoas lá ainda. *olhamos o celular* Ninguém mandou nada... sem nenhuma notícia de como estão as coisas em casa.
HELENA- Ninguém responde. *aflita*
MARTIN- *fico olhando Rhael chorando no banco* Sinto muito por ela. *ele olha* Deve ser horrível perder alguém que você amava desse jeito...
RHAEL- É... *cabisbaixo*
MARTIN- Eles também... nem dá pra acreditar com isso tudo tá acontecendo. Nossa...
RHAEL- A Jéssica era uma luz para mim. Você tinha alguém também, não é?
MARTIN- A Rafaela? A gente nunca teve nada, mas agora eu tô imaginando como ela está...
Seguimos viagem. Vinte e sete pessoas embarcaram hoje de madrugada, apenas oito restaram. A maioria morreu, os outros... não sabemos. A imagem é dor e sofrimento. Cada um em um banco refletindo no que cada um presenciou, no que cada olho enxergou, no que ouviram, no que viveram...
Não é fácil tirar isso da mente, refletir, refletir... refletir. Pessoas comendo pessoas, ferindo, mordendo, rasgando... sangue, sangue. Um trauma se criou. A paz e a calmaria dentro do ônibus me assusta, a viagem segue, mas tem pessoas ainda inconformadas.
PROFESSORA- Isso não está certo, não podemos simplesmente ir! Você...
MOTORISTA- EU POSSO! EU MANDO NESSA PO... AQUI! MEU ÔNIBUS. Eu não ligo se pagaram ou não, a questão não é mais essa. Não vou voltar.
HELENA- Volta agora! *trânsito* Tem gente precisando de nós lá, não podemos abandoná-los.
PROFESSORA- Eu paguei isso aqui, você segue as nossas ordens! Dá meia volta e...
MARTIN- NÃO VAMOS VOLTAR! É suicídio!
RHAEL-Nossa melhor chance é ir para casa.
HELENA- Tem pessoas lá, seus amigos estão pedindo socorro, e vocês não se importam? *congestionamento*
MARTIN- NÃO DIGA ISSO!
HELENA- Seus amigos precisam da gente, e vocês se recusam?!? Isso mostra bem o tipo que vocês são.
PROFESSORA- PARA A MERDA DESSE Ô... *soco*
MOTORISTA- CALA A BOCA, MERDA! *dá mais um soco nela* CHEGA!
HELENA- FICOU LOUCO? *parte para cima*
RHAEL- *segura ela* Fica aí, Helena. *joga ela no banco* Não piore as coisas.
MOTORISTA- Eu mando aqui. É as minhas ordens.
PROFESSORA- Escroto. *agarra perna dele*
MOTORISTA- SUA VADIA! *agarra ela*
HELENA- SOLTA ELA, solta ela! *tenta puxar*
O trânsito no lado de fora vira uma briga, todos querendo passar e tudo trancado, até que em meio disso, mais loucos se acumulam por perto. O Motorista consumido pelo ódio, abre a porta e joga a Professora.
HELENA- Seu louco! *porta se fecha e ela olha assustada para a Professora* ABRE ISSO!
PROFESSORA- *no lado de fora* Não pode me deixar aqui, NÃO PODE! *grita*
MOTORISTA- *ela bate nos vidros* Eu posso. Quero todos sentados. Ninguém vem falar nada para mim aqui na frente. *a gritaria dela vira sangue nos vidros*
HELENA- *todos olhamos* Deus...
MOTORISTA- É daqui para a Escola, e mais nada. ENTENDERAM? *concordamos*
MARTIN- *no fundo do ônibus* O que tudo se tornou?
RHAEL- *trémulo* Eu não consigo... *chora* É horrível.
MARTIN- *lacrimejo* Pessoas se matando, a sangue frio. Um caos nunca visto... pessoas violentas. Essa é a nova vida? Se matar?
RHAEL- *seca as lágrimas* Pelo jeito vai ser assim por algum tempo. *clima horrível* Tem sangue em tudo que eu olho. *horrorizado*
Seguimos viagem, sem nenhum pingo de esperança mais, apenas o silêncio do desespero, do medo, da tristeza... de tudo. As faces dos nossos rostos falam por si só, não há mais nada, como se tudo tivesse perdido a vida. Foi assim as longas horas de viagem até em casa.
MOTORISTA- Estamos chegando, obrigado por colaborarem. Boa sorte para cada um quando descerem na Escola.
MARTIN- *vou até Helena* Eu vi que você tentou me matar antes, sua... *aponto o dedo*
HELENA- Você deixou a Elie pra morrer seu raquítico desgraçado! *me empurra* Seu inútil.
MOTORISTA- O que tá acontecendo aí? SENTEM!
MARTIN- É bom que estamos chegando, não vou mais precisar ver esses seu rosto nojento.
RHAEL- Ei, ei! *me puxa* Esquece ela. A gente tá vivo e chegando. Pense nisso.
MOTORISTA- Beleza... Tem bastante carros. *estaciona* Peguem suas coisas e saiam. RÁPIDO. *saímos*
Descemos correndo, procurando nossos pais. A maioria terá que aceitar que seus filhos estão mortos.
HELENA- PAI, Pai! *abraça seu pai*
ADRIEL- Que bom que você está bem. Vamos, sua Mãe e Irmão estão em Gaspar.
MÃE DE PHILIP- Philip? Martin, cadê o Philip?
BRENO- Rhael, cadê o meu irmão, cadê o Will??
MARTIN- *abalados* Eles ficaram presos lá, ainda estão em Curitiba, desculpe. Tchau, Rhael! *corro até o carro do meu Pai* Que bom que está bem. *entro no carro*
ERNANI- Graças a Deus, preciso te deixar em casa, sua Mãe e a Vó estão presas no centro.
MARTIN- O que deu por aqui?
ERNANI- O Hospital lotou, parou... o trânsito fechou. A Mãe está trancada na loja, a sua vó... no hospital ainda.
MARTIN- E agora?
ERNANI- Você passou por muito hoje, as transmissões estavam mostrando as capitais o dia inteiro, Curitiba foi uma das piores. Você vai ficar em casa. Maycon vai junto agora de madrugada buscar elas.
Escuridão, pessoas vagando pelas ruas, tudo está estranho. O Pai me deixa em casa, e Maycon embarca.

Renascer dos Mortos PESADELOOnde histórias criam vida. Descubra agora