A viagem

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Sexta-Feira, dia cinco de março, acordei cedo, combinamos de sair de madrugada, me arrumei e pedi para o pai me levar, chegamos e já tem colegas esperando, não havia mais espaço nos bancos do posto de saúde que fica em frente a escola. Não demorou muito. e todos chegaram, fizemos a contagem e começamos a entrar no ônibus, está chovendo bastante.
Seguindo a fila, quando coloquei meu pé para subir, Helena passa a perna e me derruba, eu caio no chão todo molhado, isso foi motivos de risos, e ela apenas entrou sem culpa alguma e se sentou, seca e sorridente.
MOTORISTA- Molhado não entra no meu ônibus.
MARTIN- Eu tenho roupa reserva.
ELIE- Ele tinha que nos atrasar...
PROFESSORA- Um minuto para você se trocar. Ali, no posto, não vá se molhar de novo.
MARTIN- Onde é tudo iluminado e todos vão ver?
PROFESSORA- Então não vá. Já está pago mesmo...
Vou nos bancos do postinho, tiro e visto a roupa reserva, aos olhos de todos dentro do ônibus, risos, zoações... enfim trocado e seco, entro e partimos.
PHILIP- Tudo bem? *sento no lado dele*
MARTIN- Gastei duzentos e quarenta, tenho que ir...
Horas de viagem, pegamos as rodovias estaduais catarinenses, do meu estado, e as federais, horas e horas, o dia clareia, mas ainda estou manchado, igual o céu com as nuvens de chuvas, que admiro caindo e deslizando pelas janelas, ao meu olhar.
WILL- Curitiba, Paraná! O que tão mal pode acontecer?
MARTIN- Pior do que já está? *sorrio* Vai ser bom...
Chegamos na Capital Paranaense, pegamos a via para chegar até o belo Jardim Botânico, olhamos pela janela, o acostamento da rodovia, mendigos jogados e dormindo, fracos, famintos e drogados, sangue há uns metros à frente, e uma espécie de relação selvagem, um em cima do outro, com muitas tremedeiras e até gritos se ouve. O sangue continua.
Enfim chegamos, o guia está nos esperando, um senhor de idade, seguimos as ordens dele e da professora, descemos do ônibus, uma garoa fina cai, tiramos a foto da turma e todos foram liberados.
MARTIN- Sempre chove por aqui?
GUIA- Sim, mais um dia normal como qualquer outro. Vocês vão gostar desse labirinto de arbustos e flores.
WILL- Tem como se perder?
GUIA- É bom não se perderem...
Entramos nesse labirinto, vamos ver o que esses corredores botânicos nos esperam. Formamos grupos, eu, Philip, Rhael, Jéssica sua namorada e Will, cada um para um canto, no meio, um chafariz, o objetivo é chegar e voltar, se conseguirmos. Os arbustos são altos e estreitos, não há apenas nós cinco ali.
“Dentro da grande estufa, as gurias estão admirando um matagal, com corredores de pedras e um som ambiente de córregos pequenos de água.
HELENA- A gente saiu de uma cidade no meio do nada, interior, cheio de mato...
ELIE- Para ver mato. *tiram fotos* É bonito...”
RHAEL- *anda de mãos dadas* Ao mesmo tempo que isso traz paz, eu sinto uma angústia. *andam*
JÉSSICA- A qualquer momento algo pode...
WILL- Nos matar. *risos* O chafariz está perto.
Está confuso os corredores, mas Philip e eu estamos perto, ouvimos gritos curtos, mas ignoramos e seguimos, alguns arbustos tem espinhos...
MARTIN- O chafariz. *subimos* Ao mesmo tempo. *Will e Rhael sobem no outro lado* Dá pra se perder...
PHILIP- *olhamos as pessoas andando dentro do labirinto* Até estão correndo. *algumas pessoas se agarram e caem*
RHAEL- Bem selvagens... *descemos*
JÉSSICA- Está quase dando a hora, e não vimos a estufa.
WILL- E pra sair agora?
PHILIP- Vamos inverter, vocês voltam por onde viemos e nós vamos por onde vocês vieram.
Fizemos isso, nos perdermos, em um dos corredores, escutamos sons estranhos, Philip e eu pensamos que é algum casal fazendo... coisas. Rimos, mal sabíamos que alguém está sendo comido vivo nesse corredor fechado. Seguimos, um pouco mais à frente, uma mulher sai correndo no meio dos arbustos, assustada, estranhamos, ela apenas seguiu para a esquerda.
MARTIN- Maluca. *passo a mão no arbusto que ela atravessou* Sangue! *mostro meu dedo* Esses arbustos tem espinhos e a doida foi por eles.
PHILIP- Pra qual lado agora?
Seguindo para o lado esquerdo, a mesma rota que essa mulher fora de si foi, o caminho segue para a saída e liberdade, já o lado direito... leva para mais um corredor sem saída, com um canibal vagando esperando sua próxima vítima.
PHILIP- Ela tava fugindo de algo. Acho melhor ir pra esquerda. *concordamos e vamos*
Andamos com cautela, cada canto é um mistério, ouvimos as pessoas lá fora, mas não sabemos o quão perto estamos de sair. Em um cruzamento, ouvimos passos, um pouco de medo sentimos, de repente, algo na nossa frente aparece.
RHAEL- Finalmente! *assustados* O que? haha. Assustaram? *andamos* Estão piores que a mulher de agora pouco, deviam ver ela saindo correndo. *saímos do labirinto* Loucura, algo deve tê-la assustada.
MARTIN- Nós vimos... muito estranho. *desconfiamos*
Começamos a sair em direção ao ônibus para o nosso próximo destino. Entrando, o motorista falou algo de malucos correndo e brigando, estranhamos. Saindo do Jardim Botânico, dentro dele, a estufa virou o matadouro com flores e labirinto da morte.
O Museu do Olho, ou da Bailarina, é uma bela obra de Oscar Niemeyer, a visita foi agradável, o sol se abriu, a capital paranaense está linda. A fome bateu, o restaurante está reservado, chegamos para comer com a mesa toda pronta, e sem pensar duas vezes, enchi meu prato com tudo que eu via pela frente. Uma pena eles terem colocado salitre, a comida estar gordurosa e o suco muito doce. Eu tinha o dinheiro contado para o almoço, mas tive que pagar para de novo...
“ELIE- Eu almocei uma vez em um restaurante em Portugal, era uma comida maravilhosa.
HELENA- Eu como o que tiver pela frente, não é fácil manter um corpo estético tendo quase um metro e oitenta...
ELIE- É notável seus músculos, impressionante como você não engorda. *bebem*
HELENA- Pior é a magreza do Martin. *risos* Ele de cuequinha foi o incrível. *se limpa* Vamos pagar? *vão até o caixa* Peguei esse dinheiro de um otário. *risos* Certo, moço?
ATENDENTE- Pago, obrigado!”
Ainda temos mais duas paradas pela tarde, antes de encararmos a longa viagem para casa, o Parque Tanguá e o principal shopping, para finalizar essa bela visita. No parque, a gente ficou maravilhado com uma BMW estacionada, tiramos fotos, coisa de macho...
WILL- *olhamos o outro lado do estacionamento* Vejam! *algumas crianças correm* Ó, o cara atrás. *um homem torto e desajeitado vai atrás se tropeçando*
RHAEL- Deve ser um retardado mental. *andamos*
MARTIN- Ou um Pai que brinca até demais. *leio* Acesso restrito. Pelo jeito não olharam a placa e foram nessa parte de baixo. *não vemos eles*
RHAEL- É melhor a gente ir, deve ser bonito a vista.
Os bancos, as árvores nos lados, o lago artificial, essas belezas até chegarmos nas duas torres do parque, foram muitas fotos tiradas para registrar esse momento e dia. Subimos na torre, passamos pela passarela, a vista... o horizonte, nem há como descrever tamanha beldade que nossos olhos enxergam.
JÉSSICA- Tira uma foto nossa, Will. *ela e Rhael posam*
WILL- Ficou bonito. *olhamos o horizonte* Fumaça? *barulhos* O que está acontecendo lá?
GUIA- *olha* Ah... aquela área acontece manifestações, é a área precária da Capital. Algo deve ter esquentado.
MARTIN- *gritos vindos da serra* O que? *gritos de desespero* Isso tá muito estranho.
- AAAAH! AAI, MEU DEUS.*todos param para ouvir e olhar* AAAAHAHAAAA!
MARTIN- É melhor a gente ir pro shopping.
ELIE- Calma aí, cara, nem aproveitamos ainda.
HELENA- Se quiser ir, vai, ninguém vai sentir falta.
GUIA- Dez minutos, aproveitem! *descemos* Você não é muito querido, não é?
MARTIN- Só pelos meus amigos aqui mesmo. Eu não sei... Às vezes não entendo sabe.
GUIA- Não deixe a podridão amarelar seu sorriso, nem a trovoada tapar os seus raios de sol. *sorrio sem entender muito* Levanta a cabeça, você tem muito o que sofrer, sorrir... e viver. *tapinha nas costas* Hahaha... você vai entender.
As coisas começaram a ficar estranhas, o clima pesou um pouco, não só por causa das nuvens carregadas, mas ficamos esperando todos no ônibus, para enfim partirmos para a última parada, o tal grande shopping.
GUIA- O Shopping fica próximo dessa parte das fumaças que vocês viram, mas os manifestantes não atuam muito nessa área. Então fiquem tranquilos e aproveitem essa uma hora e meia de shopping,
PHILIP- A gente vai ficar igual bicho do mato nesse lugar, ficar maravilhado com a escada rolante, reclamar dos preços caros... *risos* Vamos aproveitar.
Conforme nos aproximávamos, o trânsito congestionava, pessoas nas calçadas batendo palmas, gritando, cantando, marchando, poucos com placas. Até batidas nos nosso ônibus, algumas bem fortes. Não demorou muito para ter uma correria, mas na rua da entrada do shopping, estava tudo bem.
Então descemos, entramos no imenso shopping e toda nossa turma se espalhou com seus grupinhos. Os raios de sol começaram a se abrir novamente, o teto transparente do shopping é bonito, andamos por todo o térreo, apenas olhando, é muito caro...
“ELIE- Olha só essa bolsa. *maravilhada* Que linda!
PROFESSORA- Tommy Hilfiger, é cara. *olham o preço* Mil e trezentos, só não é mais cara que uma gucci.
ELIE- Eu vou levar e pagar no cartão.
HELENA- Vai gastar mil reais em uma bolsa? Tem muitas roupas que vale a pena gastar, bem melhores.
ELIE- Meu pai é rico, querida! No débito. *aproxima o cartão* Comprei. *sorri*”
MARTIN- *subimos na escada rolante* Fazia anos que eu não pisava em uma dessas... *quase tropeço*
RHAEL- *andamos* Área de Games, aqui você se diverte até não aguentar mais. *lê* Finalmente algo bom. *entramos* Cada ficha por cinco reais.
PHILIP- Tá valendo... aqui tem cesta de basquete, pingue pongue, boliche, carrinho bate-bate...
A Jéssica apenas ficou olhando os quatro amigos se divertirem sem parar, duelamos no basquete, o Rhael e o Will amam, eles arrasaram. Will ficou de fora no carrinho bate-bate, a gente economizou, Rhael deu carona para a Jéssica, e Philip foi de copiloto comigo, ele passou a marcha para mim... Tinha mais algumas pessoas ali para os barbeiros se divertirem.
No boliche, percebemos que nossa pontaria era horrível, o único strike foi da Jéssica, algumas pessoas por perto até riram da nossa ruindade, está muito divertido esse momento, tudo está bem. Gastamos nossas últimas fichas no pingue pongue, aqui somos melhores, enquanto duelávamos e ríamos, as pessoas começaram a sair, nos corredores, uma correia, nós nem percebemos essa multidão de pessoas correndo.
PHILIP- Ponto decisivo. *saca* CASQUINHA. *risos* Bom jogo. *aperto de mãos*
MARTIN- *olho para os lados* Que silêncio, não tem ninguém. Nem o cara que cuida daqui.
Esse mesmo cara teve um mal estar, foi ao banheiro e enfartou ali mesmo. O pior foi quando um cliente também entrou ali e acabou sendo pego por ele.
MARTIN- Não tem ninguém nos corredores...
JÉSSICA- *algumas pessoas corremJ Eu vou no banheiro. *Rhael a segura*
RHAEL- Não! Tá muito estranho isso. *saímos* Ninguém. *andamos em direção as escadas rolantes*
PHILIP *pega o celular* Mandaram algumas mensagens no grupo. *subimos na escada rolante*
MENSAGEM- Venham, rápido, agora!
PHILIP- *uma mulher desce a escada rolante correndo assustada* Ei, moça, calma!
MARTIN- *vejo sangue nela* Tem áudios, bota aí.
PROFESSORA- Todos, venham para o ônibus AGORA! Tem manifestantes se acumulando, teve... pessoas brigando e se ferindo no shopping. Para a sua segurança... *viramos a cabeça, olhando para a área de alimentação* Eles mordem e rasgam.
Quando o áudio termina, olhamos para as centenas de pessoas se rasgando. O sangue, gritaria e desespero nos deixaram em estado de choque. Alguns nos viram, os que estavam normais, pediam socorro. Os loucos... começaram a ir atrás de nós.

Renascer dos Mortos PESADELOOnde histórias criam vida. Descubra agora