Garotas

4 1 0
                                    

Ontem e hoje, foram os dias de se despedir de alguns lugares marcantes na vida delas. Condomínio, aeroporto, sorveteria, local de trabalho dos pais, pista de skate... haras. Eloisa cede algumas balas de pistola para Rafaela, ela ainda tem sua arma carregada, caso precise. Elas ultrapassam a divisa e chegam na área urbana de uma cidade próxima de Massaranduba.
Há muitos bloqueios de carros pelo caminho, alguns mortos vagando, mas não foi um grande desafio. Elas acham uma cabana, e passam a noite ali. Eloisa coloca Jerry, seu cavalo, no cercado.
Apenas roupas e latas no chão, pareciam usadas. Eloisa pega alguns gravetos e folhas, e com um isqueiro, acende uma fogueira. Está chovendo fino, os pingos não foram o suficiente para apagarem as chamas.
RAFAELA- *Eloísa se levanta* Onde vai?
ELOISA- Olhar ao redor, ver se há alguma coisa. Cuide do Jerry até eu voltar. *adentra o mato*
Rafaela fica sentada em frente à fogueira, pensando sobre tudo. Minutos se passam, Eloisa ainda está andando, ela escuta barulhos, mas ignora após não ver nada. Rafaela abaixa o fogo, até que vê algo, era um morto vagando sem rumo pelo mato.
RAFAELA- *em pensamento* Onde está você, Eloisa? *pega uma faca* Jerry, não faça barulho, por favor. *segura a faca* Ok... Venha bicho deplorável. *Jerry relincha forte* Merda! *o Zumbi parte para cima* Po... *o segura, mas vê outro indo até o cercado* Não, não!
ELOISA- *chega correndo e mata o Zumbi do cercado* Mas que droga! *tira o zumbi da Rafaela* Não posso sair um pouco e acontece tudo isso?!? *pisoteia ele até matar* Tudo bem, Jerry?
RAFAELA- *Eloisa abraça ele* Eu tô bem, valeu por perguntar. *se limpa* Foi culpa dele.
ELOISA- Quer saber? Dane-se aquela garota, se você passar mais algum tempo aqui fora não durará. *limpa a faca* Amanhã! Vamos voltar sem paradas.
Eloisa acalma Jerry, elas apagam o restante do fogo e entram para dentro da cabana. Nessa nova vida, passar dias andando por aí, se tornou uma escolha de vida, e aceitar, é uma tentativa de suicídio.
Eloisa acorda por primeiro, vasculha os armários da cabana, faz outra fogueira, agora para aquecer água que ela achou em um pequeno riacho mais à frente.
RAFAELA- *despreguiça* O colchão é muito bom, uma pena ter um fedor estranho... Bom dia!
ELOISA- É mesmo... Já comeu miojo de manhã?
RAFAELA- Guardou isso sem me falar?
ELOISA- Achei em um armário aqui, venceu... *serve*
Toma! Só para falar... acabou a comida.
RAFAELA- *degusta* Não estamos distantes de casa. *cara feia* Credo, tá podre! *engole*
Algo caminha pelas árvores e se aproxima delas. Jerry é o único percebe e começa a se mexer e relinchar.
RAFAELA- *olha para Jerry* Ele se assustou com algo. ELOISA- Deve ser algum Zumbi. Vou ir ver, pegue as coisas e fique pronta com o Jerry. *Rafaela cospe*
RAFAELA- Bleh. *arrumas as coisas* Que gororoba. *vai até Jerry* Ei, Eloisa! Pegou minha pist...
- *aponta a arma* Ajoelhe-se! Se não eu atiro. Vamos, se ajoelhe agora! *destrava e mira* Sua amiga já se ajoelhou. *Rafaela se ajoelha* Prazer, Helena.
ELOISA- É ela?!? *surpresa* Caraca, você é enorme.
HELENA- Sim, sou eu... Observei vocês todo o momento, eu estava escondida e ninguém percebeu, exceto seu lindo cavalo. *acaricia ele* Que lindo... crina preta, rabo grande. *Eloisa se enfurece* Ah, essa cabana é minha, pelo menos eu estava aqui nesses últimos dias.
RAFAELA- Tá na hora de um banho, Stalona. *risos*
HELENA- Estão admiradas com meu tamanho?
ELOÍSA- *olha Helena de cima a baixo* Perdeu uma parte da calça? Cadê a canela direita?
HELENA- Sua amiga não falou sobre o que aquele cretino fez? *mostra o ferimento*
RAFAELA- Falando nisso... Precisamos de você, para nos vingarmos. Mas você não aparenta ser muito confiável.
HELENA- Andam pela minha área, dormem na minha cabana e comem meu miojo... Sério?
RAFAELA- Sinceramente, tava uma merda. *Helena segura  arma* Desculpa, enfim... O Martin deixou que trouxessem uma horda para casa, escondeu de todos, mentiu. Eu vi o que ele fez contigo, eu senti pena... é sério. Ele merece o que fez.
HELENA- Eu conheço ele bem. Tudo que fez, não sei... algo mexeu com ele. Mas ele é perigoso. *se senta* Eu tinha uma amiga... ele deixou ela para morrer.
ELOISA- É pior do que eu imaginava... Por que?
HELENA- Todos tem seus motivos, mas ele não é o mocinho. Por isso quero que confiem em mim.
ELOISA- Confiariamos em você, se não apontasse esta arma para nós. *Helena guarda a pistola*
RAFAELA- Estamos voltando para casa, se quiser vir conosco, pode se resolver com o Martin...
HELENA- Eu estou começando a gostar de vocês. *sorri* Não seria uma má ideia. Ele matou minha família, eu sei o que ele merece. *levanta* Vamos, então? Eu fico com as suas coisas.
ELOISA- *fala baixo* Acha que podemos confiar nela?
RAFAELA- Queríamos encontra-la, estamos aqui agora... *sobem no Jerry* Ela merece uma chance.
Galopando lentamente e conversando depois de horas, o dia todo passa e chegam até a Cooperativa de Banana, onde os pais de Rafaela ficaram um tempo.
RAFAELA- Hoje tem reunião, se minha conta tá certa.
HELENA- Por isso os carros iam até a escola...
RAFAELA- Provavelmente Martin está nessa reunião, não em casa. Podemos chegar, falar com todos, montar uma recepção quando o mesmo chegar, às dez.
ELOISA- Que hora é agora? Temos tempo?
HELENA- *abre um caminhão* Os bananeiros deixavam relógios de pulso dentro do caminhão. *procura* Aqui! *tira o pó* Oito e trinta e oito.
RAFAELA- VAMOS, não temos mais tempo.
HELENA- *andam por minutos e chegam perto da escola* Que horas acaba a reunião?
RAFAELA- Um pouco depois das nove, os veículos irão passar nessa rua depois do sino tocar.
ELOISA- E que horas são?
HELENA- Eh... joguei o relógio fora.
RAFAELA- Droga estamos no escuro, literalmente!
Elas começam a andar, atravessando a rua, de repente, o sino toca, elas ficam em pane, chocadas.
RAFAELA- Os veículos vão iluminar, irão nos ver.
HELENA- Vamos voltar! *olha ao redor* Há alguns metros tem uma estrada pequena, subiremos até ali.
“Martin está desanimado, sentado ao lado da janela, olhando e olhando, a van chega até o mesmo ponto da estrada, onde está a rua que sobe o morrinho, a luz da van ilumina tudo ali, mesmo sendo por segundos, Martin enxerga uma pata de cavalo e rabo rapidamente. Ele olha para trás, mas não vê nada."
Segundos após a van passar, as mesmas se olham e conversam desconfiadas. Elas esperam a van ir.
ELOISA- Nos viram? *assustada*
RAFAELA- Teriam parado...
HELENA- Ou são bastante espertos... Vamos ficar mais um pouco. O plano caiu, vamos fazer um novo.
ELOISA- Se tiver um, fale!
HELENA- Se irmos daqui a pouco, pegaremos todos de surpresa, na madrugada.
RAFAELA- Há um homem que fica vigiando.
HELENA- Invadiremos o lugar, manter as pessoas boas seguras, e como já falei... o resto deixe comigo.
ELOISA- Vou andar, cuidem do Jerry, já volto.
HELENA- Ela é bem segura. Esperta... *olha para Rafaela* Sempre quando falo deixar o Martin comigo, você faz uma cara para baixo, gosta dele?
RAFAELA *nervosa* Não sei... São poucas as pessoas que eu gosto, mas ele, não... Apenas não acho certo que ele morra. HELENA- Não acha certo, ou não quer?
RAFAELA- Ele merece viver. *olha sorrindo para a lua*

Renascer dos Mortos PESADELOOnde histórias criam vida. Descubra agora