Parte 3- Eveen Berillar

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Eveen Berillar

Eu caminho segurando a saia do meu vestido azul nas mãos, e olho para o céu azul que abraça Relvânia. Algumas crianças brincam na praça e alguns pais estão sentados em bancos da praça no centro da vila. A praça de Héstia é como se fosse o coração do reino, ali nós nos reunimos, adoramos a Deusa, e sua imagem esculpida em mármore no centro da praça, com chão de paralelepípedos. Existem sete caminhos que se dividem a partir da estátua, as três ruas do lado esquerdo são de nobres, e as quatro ruas do lado direito são de classe baixa, lá é onde há feiras, artesanato, comércios, restaurantes, e onde vive a maioria das bruxas adoradoras de Héstia.
- Há muito tempo atrás, a profetiza Zilin, antes de morrer, revelou ao povo uma profecia dos deuses. Que uma donzela nasceria e morreria pelo povo. Que acabaria com a fome e as pestes e doenças. Ela também disse para o povo ficar atento que quando a donzela se sacrificasse faltaria pouco para a chegada da rainha escolhida. A rainha que curaria a terra dos homens maus e dos monstros que comem as suas crianças.

A senhora conta a algumas crianças na praça da cidade. Eu fecho os olhos e continuo a minha caminhada para o castelo. Minha irmã morreu há seis meses e ainda não encontrei o culpado de tudo isso. Dagna não é a mesma, sinceramente, eu também não sou. Minha irmã luta para sorrir e cuidar de alguns negócios da família que eu lhe dei para passar o tempo. Avisto o palácio e o soldado na entrada me cumprimenta com um sinal rápido de cabeça. Começo a subir alguns lances de escadas. O corpete aperta minhas costelas e pulmões, paro de respirar por dez segundos enquanto subo os degraus. Liam está em pé à minha frente. Eu mostro os dentes para ele. Liam desvia o olhar para além de mim.

__ Não mostre a mim o que realmente não está sentindo, senhorita. - ele diz com um tom frio.

Eu ajeito minha coluna em uma postura reta.

__ Desculpe, se lhe desagrado ao sorrir. - eu respondo com ironia.

__ Achei que a senhorita não viria hoje. - ele continua, sem me olhar nos olhos.

__ E por que não viria? - eu pergunto, curiosa.
- Não importa, você não se importou com a morte dela. - Ele cospe as palavras com desprezo, olhando fixamente para o meu rosto. Sua postura está alinhada com sua cabeça, ele endurece sua mandíbula.
Eu não consigo acreditar no que ele acabou de dizer. Como ele pode ser tão insensível, tão cruel? Ele sabe o quanto eu sofri com a perda dela, o quanto eu ainda sofro. Ele sabe que ela era tudo para mim, minha melhor amiga, minha confidente, minha irmã

Eu sinto uma onda de raiva me invadir. Eu não posso deixar que ele fale assim dela, que ele me acuse de algo tão horrível. Eu levanto a mão e dou-lhe um tapa em seu rosto. Ele recua, surpreso, e depois ri. Um riso amargo, sarcástico, que me fere mais do que qualquer golpe.

- Não ouse dizer que eu não a amava. Você não tem o direito! - Eu grito, encarando-o com fúria. - Você não sabe de nada.

- Você não fez nada, para impedir. - Ele retruca, com um olhar de desafio. - Você só ficou parada, assistindo ela se entregar. Quer que eu acredite que você a amava?

Eu sinto meu peito inflar com ódio, e meus olhos arderem. Eu quero chorar, mas não vou dar esse gostinho a ele. Eu quero gritar, mas não vou desperdiçar minha voz com ele. Eu quero bater nele, mas não vou sujar minhas mãos com ele.

- Você está sofrendo? Eu também estou sofrendo, ela era minha irmã, você não tem ideia do que eu sinto. - Eu digo, com a voz embargada. - Você não tem ideia do que ela significava para mim, do quanto eu a amava, Eu fiz tudo o que podia. Eu pensei rapidamente no que acabava de dizer. Lanço-lhe um olhar de nojo e me viro. Eu não quero mais olhar para ele. Eu caminho em direção à porta de entrada do castelo, deixando-o ali, com dor em seu olhar. Ela que se foi para sempre, e que levou um pedaço de mim com ela. Ela era a minha irmã, a minha única família. Ele era o seu marido, o rei do norte, que a matou sem piedade.

A filha do Fogo - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora