Parte 22 - Na floresta encantada

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Pela manhã, Elas acordaram um pouco mais tarde do que desejavam. O sol já se espalhava pelo horizonte, pintando o céu com tons dourados e rosados. As três jovens montadas em seus cavalos, seguiram pela estrada de terra, deixando para trás a pequena vila onde haviam passado a noite.

Os aldeões, ao vê-las partir, acenaram com entusiasmo e desejaram-lhes boa jornada. As saudações calorosas ecoaram em seus ouvidos enquanto os cascos dos cavalos batiam no solo irregular. Os campos se estendiam à frente, cobertos por flores silvestres e árvores de maçãs carregadas de frutos. Os pinheiros altos lançavam sombras longas sobre o caminho.

Alguns servos trabalhavam nos campos, colhendo flores ou cuidando das árvores. Pareciam não se importar com a presença das viajantes. Os cavalos relinchavam, talvez cansados da longa caminhada desde o amanhecer. Eveen, com seu olhar atento, sugeriu que parassem para descansar e oferecessem água e comida aos animais. Mas Dagna, sempre prática, disse que já estavam próximas da próxima vila e que poderiam esperar um pouco mais.

Ela acariciou o pescoço de Duna, seu fiel égua. Duna era a única lembrança viva que restava de sua irmã. Ela se lembrava da vez em que seu pai apareceu com o cavalo de pelagem branca e cabelos longos elegantemente trançados, da mesma cor de sua pele. O sorriso de seu pai ao presenteá-la com Duna ainda aquecia seu coração. Era o presente de seu décimo primeiro aniversário, em uma época em que o sol se mostrava mais exuberante e cheio de luz e calor.

Era uma cena bela e nostálgica: sua irmã crescendo ao lado do cavalo, cavalgando pelos campos que circundavam o reino. O vento acariciava seus cabelos enquanto os cascos do animal batiam ritmicamente no solo.

Mas sob a superfície daquela imagem idílica, havia uma teia de emoções complexas. Ela não nutria ódio pelo pai, mas sim uma sensação de desapontamento. Ele, que havia prometido protegê-las e amá-las, mostrara-se fraco e egoísta. As filhas enfrentaram as agruras da vida por conta própria, sem o apoio que esperavam.

A falta da mãe pesava em seu coração, e o pai parecia distante, como uma sombra do passado. Eveen guardava a dor como um segredo, trancando-a a sete chaves em algum recanto de sua alma. Não podia fraquejar naquele momento, não quando a morte da irmã a assombrava.

Aquela irmã, aquela cuja vida ela teria dado para tê-la de volta. Sua partida deixara um vazio profundo, como se o chão tivesse sido arrancado sob seus pés. A consciência de Eveen agora vivia apenas para a outra irmã, a única âncora que a mantinha no mundo.

Às vezes, seus próprios pensamentos e sentimentos eram um enigma. Ela os escondia, como se fossem segredos perigosos, enterrados em algum recanto obscuro de sua mente. E assim, carregava o peso de cem mil sacos de farinha de trigo uma carga invisível que moldava sua existência. Que talvez, pudesse ser comparados mas não entendido, apenas ela sentia e mais ninguém.

Eveen e sua companheira caminhavam pelas ruas de concreto, firmes sob seus pés. Os capuzes dos mantos protegiam-nas da chuva fina que caía, enquanto os olhares curiosos das pessoas as acompanhavam. Eveen, por um breve instante, fixou seus olhos em uma jovem de cabelos acobreados, cujas tranças lembravam as suas próprias. A moça vestia um simples vestido lilás, surrado pelo tempo, e comprava pães de uma velhinha na beira da rua. A velhinha parecia simpática, e o coração de Eveen acelerou quando a jovem se virou para sair.

Eveen relaxou sobre a cela da égua, observando atentamente a mulher. Ela era bem mais jovem que sua irmã Anora, e sua expressão inocente tocava o coração de Eveen. A habilidade dela em perceber a personalidade das pessoas apenas pelo olhar era impressionante. As duas mulheres à sua frente conversavam e riam, admirando a aldeia de Valinor.

Valinor era diferente do reino e da aldeia dos pescadores. Suas casas eram predominantemente construídas em pedra, com telhados escuros e inclinados, cujas beiras se estendiam para fora. Cada casa tinha uma chaminé, conferindo-lhe uma beleza rústica e natural. A vegetação ao redor da aldeia era exuberante, e dali era possível avistar as majestosas montanhas que se estendiam no horizonte.

A filha do Fogo - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora