Eveen Berillar
Coloquei sobre o túmulo da Anora as suas flores preferidas, tulipas azuis. Era o mínimo que eu podia fazer por ela, depois de tudo o que aconteceu. Senti uma lágrima escorrer pelo meu rosto e abracei o meu corpo, tentando me aquecer do frio que fazia.
- Sinto sua falta, irmã. - sussurrei, como se ela pudesse me ouvir.
Dagna chorava inconsolável ao meu lado. Ela tinha vindo com um vestido azul claro e os cabelos soltos, como Anora gostava. Eu tinha optado por um vestido simples branco, sem nenhum adorno.
- Me perdoa, Anora. Eu não tive oportunidade de te dizer essas palavras. - Dagna falou e soluçou e se jogou nos meus ombros, procurando consolo.
- Você não precisa se desculpar, Dagna. - falei, massageando as suas costas. - Ela sabia que você a amava.
- Mas eu briguei com ela, não dei a bênção para ela se casar com o homem que ela amava. Ela deve ter me odiado. - Dagna continuou, entre soluços.
Beijei o topo da sua cabeça e tentei acalmá-la.
- Não, ela não te odiou. Ela nunca te odiaria. Ela te amava, assim como eu te amo. - disse, tentando aliviar a sua dor.
Ela balançou a cabeça e chorou mais.
- Eu fui uma irmã horrível, não importa o que você diga. - ela se afastou e olhou para a lápide da Anora, limpando o rosto com as costas das mãos.
Eu sabia que ela se sentia culpada, mas não era justo. Ninguém podia prever o que ia acontecer. Ninguém podia impedir a fera que assolou o nosso reino, levando tantas vidas inocentes. Os mortos pela doença não estão aqui, Não tiveram o mesmo fim que os outros. Foram todos jogados no mar negro e queimados, para evitar que o mal se espalhasse. As pessoas acreditavam que se enterrassem os contaminados, a doença iria subir para o solo e contaminar as verduras e os legumes e água, Essa era a única forma de a doença não voltar.
Os mortos por causas naturais, ou por outros motivos, eram trazidos para cá, para o cemitério que ficava fora da muralha do castelo, em um campo ao leste. Era um lugar bonito, com árvores e campos de flores ao redor. Um lugar onde se podia descansar em paz. Assim como a minha irmã.
Anora não tinha sido vítima da peste, mas de um destino cruel. Ela tinha sido escolhida como oferenda ao Deus do submundo, Precisava encontrar aquela senhora que vi no castelo antes da morte de minha irmã, Ela tinha sido sacrificada em nome de um deus que ninguém via, nem ouvia.
- Sinto muito, irmã, por não ter salvado você. - falei para a lápide de concreto no chão, onde estava escrito o seu nome. - Eu sempre vou te amar.
Olhei para Dagna, que também fitava a lápide com os olhos vagos. Ela parecia perdida em seus pensamentos.
- Será que ela foi para o inferno, como a Fera disse? - ela perguntou, ainda olhando fixamente para a lápide.
Balancei a cabeça, negando.
- Eu não acredito nisso. Ela era boa, pessoas boas não vão para lá. - disse, convicta.
- Mas ela era uma oferenda ao Deus do submundo, era para ela ir. - ela insistiu.
Fechei os olhos e soltei um longo suspiro.
- Ela não foi, ela falou, antes de partir. Ela disse que não importava o que a Fera dissesse, ela e Liam iriam se encontrar, de um jeito ou de outro. Isso quer dizer que eles irão se encontrar em um lugar bom, Você lembra? . - expliquei, lembrando das últimas palavras da minha irmã.
Dagna olhou para o meu rosto e sorriu.
- Espero que sim. - ela disse, com uma ponta de esperança.
Coloquei os meus braços sobre o seu ombro e a puxei, para sairmos dali. Caminhamos de volta para o castelo, deixando para trás as tulipas azuis que enfeitavam o túmulo da Anora. Agora, iriamos atrás daquela bruxa.
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A filha do Fogo - Livro 1
FantasyEveen Berillar é uma jovem de vinte anos que sonha com uma vida pacífica e feliz para ela e suas irmãs. Ela trabalha como acompanhante da rainha de Relvânia, e considera a monarca uma amiga leal. Porém, quando o rei morre e a rainha assume o trono...