Parte 11 - Greta Bonatt

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Greta Bonatt

Minhas costas bateram no colchão e um grito cortante saio pela minha garganta. Levantei-me rápido e me sentei na cama. Meus olhos se encheram de lágrimas com a dor dos ferimentos nas minhas costas. Papai tinha me batido com o ferro da lareira que usávamos para mexer o fogo. Ele disse que eu não tinha satisfeito os clientes na noite passada no bar. Não deixei que aqueles nojentos tocassem em meus seios ou em minha bunda por baixo do vestido, papai vendia meu corpo como queria, E eu não tinha voz e nem vontade ali. Quando soube que eu havia negado os toques, ele me bateu até eu perder a consciência. Meu coração estava acelerado no peito. Olhei pela janela aberta do meu quarto. Lá fora, nevava e um vento forte entrava, trazendo flocos de neve. Levantei-me com dificuldade, fazendo barulho no chão de madeira. Fechei a janela com um pedaço de madeira em duas travas nas duas extremidades da janela. A porta atrás de mim bateu na parede e eu me preparei.

- Sua vadia, você devia estar fazendo o meu café da manhã há uma hora. - Papai gritou da porta atrás de mim, respirando com dificuldade. Eu me segurei para não voar nele e arrancar seus olhos. - Vire-se para mim quando eu estiver falando com você. - Ele gritou com sua voz de velho.

- Desculpe. - Eu disse, virando-me para ele e caminhando em sua direção. Seus olhos azuis me olhavam com raiva e desprezo. Ele estava com uma camisa de linho cinza e uma calça branca e botas de couro marrom.

- Desculpe, desculpe, é só o que você sabe dizer? Você não serve para nada, nem para fazer um café da manhã decente. - Ele disse, pegando-me pelo cabelo.

- Por favor. - Eu disse, implorando, sentindo meus olhos se turvarem e meu couro cabeludo arder. Ele puxou meu rosto para perto do dele.

- Agora você implora, mas não pensa antes de fazer alguma coisa errada.

- Me perdoe. - Eu falei, soluçando. Ele me arrastou pelos cabelos até o outro cômodo e me empurrou com violência. Meu corpo magro não aguentou e meus joelhos bateram no chão.

- Levante-se e faça o meu de jejum. - Ele disse, com o peito subindo e descendo de raiva. Ouvi seus passos em direção oposta, imaginando que estava indo para seu quarto.

Com dificuldade, me levantei e limpei as lágrimas que insistiam em cair. Meus joelhos doíam como se tivessem saído do lugar. Apoiei-me na mesa. Meu corpo reclamava, e minhas costas ardiam como se estivessem pegando fogo. Caminhei até o balcão da cozinha e preparei um chá de ervas, esquentando a água em uma chaleira na lenha da cozinha. Tirei do armário de madeira preso na parede acima o pão que havia feito ontem. Ele ainda estava fresco e macio. Coloquei-o em cima da mesa de madeira. Tirei um pedaço do pão e coloquei na boca, sentindo a massa se misturar com as minhas lágrimas que ainda escorriam silenciosamente.

Eu me odeio por ser tão fraca. Por não ter coragem de fugir dessa vida miserável. Por deixar que ele me trate como um objeto, como um lixo. Eu me odeio por chorar, por implorar, por desculpar. Eu me odeio por não odiá-lo o suficiente para matá-lo enquanto dorme. Mas o que eu faria se não tivesse ele?

Eu me lembro da primeira vez que ele me vendeu para um homem. Eu tinha apenas treze anos. Ele me disse que era um amigo dele, que queria me dar um presente. Ele me levou para o quarto dele e me trancou lá dentro. Eu não entendi o que ele queria de mim, até que ele tirou a roupa e se jogou em cima de mim. Eu gritei, arranhei, mordi. Mas ele era mais forte e me machucou muito. Ele me fez coisas que eu nem sabia que existiam. Ele me fez sangrar, ele me fez chorar, ele marcou meu corpo e tirou a minha inocência. Desde esse dia, nunca mais vi aquele homem. Ele sumiu como as lenhas da lareira. Me pergunto se ele havia morrido e se teve uma morte dolorosa.

A filha do Fogo - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora