Eveen Berillar
As bruxas negras, as criaturas mais terríveis que já assolaram estas terras. Elas eram trapaceiras, mentirosas e vorazes. Comiam tudo que encontravam pela frente. Mamãe costumava nos contar histórias sobre elas antes de dormir, para nos alertar dos perigos que nos cercavam. Elas tinham talentos incríveis, como cantar ou tocar qualquer instrumento. Com esses dons, elas seduziam as suas vítimas e as levavam para seus covis, onde as devoravam sem piedade.
Dagna tinha vasculhado seu guarda-roupa inteiro por alguma roupa que nos desse mais mobilidade do que os vestidos que usávamos. No fim, ela conseguiu encontrar uma calça antiga de couro preto, que pertencera ao nosso pai, Ela também encontrou algumas armas que ele guardava escondidas em um baú, no porão da mansão. Eram adagas de prata, que brilhavam à luz das lamparinas a óleo que acendemos para iluminar o caminho. Eu tinha umas ou duas calças que comprei de um mercador que veio de Emberhold, no início do inverno, há três meses. Eu as usava por baixo dos vestidos, para aquecer as pernas. Também calcei botas sem salto, em caso de precisar correr, e Dagna fez o mesmo. Vestimos blusas de linho com mangas e coletes pretos, para nos camuflarmos na escuridão.
Estávamos prontas para enfrentar a bruxa negra, ou pelo menos tentar. Pegamos as adagas e as lamparinas, e saímos da mansão, guardando em mochilas no cavalo.
Eu estava nervosa enquanto cavalgava ao lado de Dagna, Nós duas usávamos mantos pretos com capuzes para esconder nossas vestimentas e armas. O guarda que fiscalizava a entrada e a saída do reino nos lançou um olhar cauteloso, mas não nos impediu de passar. Ele devia estar se perguntando por que duas mulheres viajavam sozinhas naquela hora do dia.
- Boa viagem, irão voltar logo? - ele perguntou com bom humor, seus olhos caramelos brilhando sob a armadura prateada. Eu sorri para ele de cima do meu cavalo.
- Amanhã estaremos de volta. - eu respondi, e vi que ele olhava de uma para outra, curioso.
- Tomem cuidado, passem longe da floresta sombria. - ele nos aconselhou com preocupação.
- Claro. - Dagna disse, simpática. Ela era melhor do que eu em fingir.
- Ainda lembro da Hellhound. - ele disse, se arrepiando. - Ele era uma fera terrível, com pelos negros e olhos de fogo.
- Ele não era da floresta, ele veio do inferno. - eu informei, sem pensar. Eu tinha visto aquela criatura de perto, O guarda arregalou os olhos, assustado.
- Isso é ainda mais assustador. - ele afirmou, engolindo em seco.
- Soube que morreram muitos soldados. - Dagna comentou, olhando para a muralha de pedras acima de nós.
- Cerca de dois mil soldados. - ele disse, com tristeza. - Apenas eu e mais cinco sobrevivemos. Ele suspirou, e continuou: - A criatura queria matar meu amigo, mas eu me coloquei na frente. Ele me olhou com aqueles olhos pegando fogo e desistiu. Ele disse, olhando para algum ponto distante, lembrando da cena.
- Nossa, você foi corajoso. - Dagna disse, elogiando-o. Ela sabia como fazer as pessoas se sentirem bem. Ele olhou para nós duas, sorridente.
- Continue assim, o mundo precisa de pessoas como você. - eu disse, lançando-lhe um sorriso. Eu também sabia como manipular as emoções alheias. Ele estufou o peito, orgulhoso.
- Agora temos que ir. - Dagna disse, apressada. Eu assenti, e esporeei meu cavalo. Nós tínhamos que chegar ao nosso destino antes do anoitecer.
- A propósito, meu nome é Teodoro. - ele disse, corando. Ele devia ter se encantado por nós.
- Foi uma honra conhecê-lo. - eu disse, acenando com a cabeça.
Nós deixamos o guarda para trás, e seguimos pela estrada de terra. O sol se punha no horizonte, tingindo o céu de laranja e vermelho. Nós tínhamos que ser rápidas, pois a noite era perigosa naquelas terras. Havia muitos, monstros e criaturas malignas à espreita, e nós não queríamos encontrar nenhum deles.- Você acha que ele desconfiou de alguma coisa? - Dagna me perguntou, baixinho.
- Não. - eu respondi, confiante.
Eu e Dagna estávamos na frente da floresta sombria, prontas para enfrentar o nosso destino. Descemos do cavalo e ligamos as nossas lamparinas, tentando iluminar o caminho. Ao nosso redor, ouvíamos rugidos, uivos e farfalhar das árvores. Os cantos das corujas ecoavam na noite, e os nossos pés quebravam galhos enquanto pisávamos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A filha do Fogo - Livro 1
FantasyEveen Berillar é uma jovem de vinte anos que sonha com uma vida pacífica e feliz para ela e suas irmãs. Ela trabalha como acompanhante da rainha de Relvânia, e considera a monarca uma amiga leal. Porém, quando o rei morre e a rainha assume o trono...