Parte 15 - Greta Gagliardi

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Greta Gagliardi

Eu acordei com a luz do sol entrando pela janela, que a criada havia aberto. Ela era uma senhora bonita, de cabelos castanhos com fios grisalhos, vestido azul desbotado, avental amarelo e badana branca na cabeça. Ela andava de um lado para o outro, pegando roupas e sapatos dos armários e arrumando ao pé da cama enorme em que eu dormia.

- Vamos, menina, levante-se - ela disse, colocando as mãos na cintura. - Temos vinte minutos para arrumar você para o café da manhã com o rei.

Eu me sentei na cama, ainda enrolada nos lençóis, confusa se estava sonhando ou acordada. Era aquela a minha realidade? Eu seria a mulher do rei?

- Vamos, menina bonita - ela insistiu, puxando-me pelos braços para a frente da cama.

Ela tirou o meu vestido branco de linho que eu usava para dormir e limpou o meu corpo com uma esponja molhada com água morna e algumas ervas com cheiro doce. Depois, me vestiu com as primeiras roupas de baixo e, em seguida, o vestido verde escuro com mangas bordadas em renda preta. O corpete apertava demais a minha cintura. Eu nunca havia vestido algo tão fino e elegante.

Ela viu as marcas nas minhas costas, mas não disse nada, nem perguntou. Ela calçou os meus sapatos. Eu tentei protestar que sabia calçá-los sozinha, mas ela fez uma cara feia de repreensão.

- Depois de amanhã é o meu casamento - eu disse, mais para mim do que para ela.

Ela suspirou e me olhou com uma mistura de pena e admiração.

- Sim, minha querida.

Ela me levou até uma cômoda com um espelho pendurado sobre a parede coberta de tapeçarias. Ela penteou os meus cabelos, reclamando que havia pontas irregulares. Ela pegou uma tesoura e cortou o meu cabelo em um corte reto, sem me perguntar se eu queria. O meu pai costumava cortar o meu cabelo como castigo, quando eu o desobedecia ou não tratava bem os homens do bar, já fazia semanas que ele não cortava meus cabelos, ele optava em me surrar até desmaiar. A mulher terminou o penteado, era uma trança embutida que começava no início da minha cabeça e terminava no meio das costas, até onde o meu cabelo ia. Ela sorriu satisfeita e me puxou para fora do quarto com cuidado e rapidez.

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Eu estava feliz, ajudando minha mãe a fazer o pão de nozes que nós adorávamos. Ela estava linda, com um vestido azul claro e as mangas bordadas em renda. Seus cabelos negros estavam em uma trança longa, e seu rosto coberto de farinha. Eu perguntei a ela: _Mamãe, posso jogar as nozes?_ Ela me olhou ao seu lado e sorriu. _Vou abrir a massa, e você pode jogar, está bem?_ Eu assenti, pegando o pote em cima da mesa de madeira cheia de nozes picadas. Mamãe Lozelli abriu a massa com as mãos, e eu joguei as nozes. Ela fechou a massa, misturando as nozes em toda a extensão da massa, e depois enrolou em formato de um pão redondo. _Pronto, agora vai ao forno._ Ela sorriu para mim e depositou a massa sobre uma bandeja e em seguida levou para o forno feito a lenha no fundo da parede. _Pronto, seu pai está quase para chegar._ Ela me carregou nos braços e me rodopiou no ar, eu ri. E paramos assim que papai entrou pela porta. _Onde estão as minhas meninas mais lindas?_ Mamãe sorriu para ele, ele jogou o casaco de pele de urso sobre uma cadeira de balanço, e andou até nós. Com as botas cheias de neve, seu nariz estava vermelho pelo frio. Ele chegou perto de nós, abraçou-nos duas e beijou nossas bochechas, fazendo-nos rir. _Amo vocês._ Beijamos seu rosto. _Também amamos você._ Disse mamãe alegremente.

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Eu me pergunto se ele alguma vez realmente nos amou, ou se foi tudo encenação. Ele disse que matou mamãe por traição, mas eu me recuso a acreditar naquele homem. Ele se tornou um patife e louco por dinheiro. Meu estômago revira só de pensar nele. Olho para uma criada ao meu lado, segurando um guarda-chuva sob o sol das dez horas da manhã. Estou conhecendo o jardim do castelo, onde ele vive agora. Ela é jovem e muito bonita, tem olhos negros como de corvos e cabelos loiros ondulados. Ela disse que se chama Sofí ou algo assim.

A filha do Fogo - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora