1. Sol em Virgem

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23 de Agosto de 95. A primeira do sol em Virgem. Tendo como paraíso astral, Capricórnio. Complemento astral, Peixes. Inferno astral, Leão. Ele, 08 de Agosto de 95, Leonino. A primeira Red Flag que a gente costuma ignorar são os astros. Ainda que eles nos digam muito, preferimos tentar descobrir a complexidade de cada mente, desde seus mais profundos traumas à suas mais puras magias de êxtase.

Apolo, era o nome daquele rapaz que recebeu Exu Caveira quando visitei pela primeira vez aquele terreiro de umbanda. Minha amiga Milena me disse (quase tudo sobre ele). Mas eu não sou uma louca obcecada, apenas reparei naqueles olhos negros, graúdos... que pareciam querer me dizer algo.

Era uma segunda-feira, dia de consulta com Exu. Quando ouço chamarem meu nome, tirei os chinelos e quando abriram caminho pra mim, meus olhos foram de encontro com aqueles olhos... mãos cruzadas, beijei suas mãos e o saudei.

Anna: Eu nem sei por onde começar... (não conseguia nem pensar no que dizer, era estranho pensar que podia estar atraída por um Exu)

Apolo incorporado: Abre seu coração pra mim, minha florzinha...

Anna: (aí eu vou me enrolar, ok calma, concentra... fechei os olhos e comecei a falar) Seu Caveira, eu me sinto perdida, ainda que eu entregue meu melhor em cada área da minha vida, nunca parece ser o suficiente pra um bom retorno. Tenho amigos, mas não fazem por mim o que eu faria por eles, tenho família mas me maltratam como se fossem inimigos, tenho um bom emprego mas mal paga o que preciso e não sinto que tô satisfeita com a área, como se eu precisasse fazer algo inovador, mas não me sinto segura de arriscar e também não ser o suficiente.

Apolo incorporado: Na vida a família que a gente nasce nem sempre é amiga, se nem os amigos que a gente escolhe não são, imagine os que a gente é apenas forçado a conviver... meu conselho pra você é que não se entregue. Não faça por zé ninguém o que você não recebe, você pode ser intensa, mas com coisas que vão te trazer retorno intenso, como por exemplo, investigar essa inovação que arde no seu peito, sobre tudo sempre vamos ter inseguranças, mas a gente só vence ou perde arriscando, e perder não é ruim, é o primeiro passo pra saber o caminho, quando você erra, você aprende o que não fazer, e assim, pode tentar novas ideias, novos erros, até acertar.

Anna: Não acho que consigo mudar nada disso... é como se eu precisasse deixar de ser quem eu sou pra funcionar.

Apolo incorporado: Você sabe o que fazer na verdade, você é esperta, flor, você apenas ainda não decidiu isso. As coisas tem seu tempo, mas o tempo não volta, então não desperdice demais. (pegou em meu queixo levantando em direção seu olhar) Te ajudo em algo mais, minha florzinha?

Anna: N-não.

Eu não conseguia olhar nos olhos dele ainda que eu quisesse muito, era como se eu não pudesse... me sentia observada por dentro... saí às pressas e Milena ficou sem entender nada, foi uma consulta tranquila, eu que tava louca à toa ali.

Fiquei viajando na maionese um tempo, até que acabou a gira e fomos comer. Apolo ficava sempre num canto, porém nunca sozinho, e eu tentava não olhar, mas eu me sentia observada, e sempre que olhava disfarçadamente, ele tava fixamente me encarando nos entremeios das pessoas em seu redor.

Anna: Eu tô louca ou quele guri tá olhando pra cá esse tempo todo?

Milena: O Apolo? Mana, então, foi com o Exu dele a tua consulta né? O que foi que rolou ali?

Anna: Ah... eu tentei falar, mas sei lá, me perdi, o olhar dele, eu não conseguia olhar de volta, me senti estranha e saí, ele não falou nada demais...

Milena: Ué, que estranho, geralmente as consultas com ele são as melhores, são raras, mas duram bastante. As pessoas se danam a falar e ele atende muito bem, por isso ta sempre rodeado de pessoas, ele tem muita ligação com o Exu dele, tem muito axé.

Anna: Ta mas tu percebeu ou não? Ele ta olhando pra cá ou eu tô louca?

Milena: Pior que tá sim, por isso fiquei pensando que tinha rolado algo, desde a consulta foi estranho o que rolou, isso que tô falando... achei que fosse por isso.

Anna: Não, foi breve, mas foi uma conversa normal, não acho que tenha sido isso... mas ele é estranhamente atraente, né?

Milena: (risos) desencana mana, quanto mais axé menos disponibilidade pra flertar, a parada do Apolo é fazer macumba (risos).

Anna: Do que tu ta falando? Eu só comentei que ele é estranho, mas isso de alguma forma atraiu meu olhar pra ele, acho que talvez, foi o que atrapalhou um pouco a consulta, essa forma que ele ta me olhando, cara... não sei se volto aqui não, viu...

Milena: Relaxa, tô falando porque ele literalmente trabalha com isso, por isso não dá muita consulta, é muito pesado fazer tudo que ele faz, ele é meio famosinho na internet, faz consulta online e trabalhos, diz que ganha bem... mas realmente nunca vi ele encarar ninguém assim, ihhh mana, se eu fosse tu voltava sim viu, porque isso pode ser algo muito bom, ou pode ser algo muito ruim. Não sei tu, mas eu iria querer saber...

Anna: Ave Maria... não pera... (risos) ai mana eu sou novataaaa

Milena: (risos) ai ela é tão inocente, tão galera (risos)

Anna: Otária (risos)

Passou a semana, e eu tava estudando cada vez mais sobre a religião, era algo recente pra mim, mas eu sentia que tinha algo muito profundo que me chamava. Apesar de ainda ter medo, gerado pelo preconceito da antiga religião cristã. Eu mal podia esperar a próxima gira pra aprender mais... eu quase tava esquecendo aquelas inseguranças, parecia que me aprofundar na religião tava sendo bem mais proveitoso, eu não gastava energia com coisa à toa, isso me fortalecia e eu não me sentia rejeitada, sempre correspondida na mesma intensidade.

Dia de Gira:

Milena: Amiga, má notícia. Teu crush espiritual não veio pra gira hoje e ele sempre é um dos primeiros a chegar.

Anna: Ei doida, desencana (risos) eu nem tava pensando nisso. Tenho tanta coisa pra te contar...

Milena: No final me conta, já vai começar.

Quando começou a gira, o pessoal tava saudando as entidades, defumando, já estava rolando havia uns 20 minutos... quando senti um calafrio e uma sensação de ter alguém muito perto de mim, sendo que só estava Milena e eu no fundo da sala e eu perto da porta. Virei e meu coração gelou, me deparei diretamente com aquele maldito olhar que invadia minha alma, chegou o bendito cujo, Apolo, cumprimentou a todos, mas desta vez não entrou pra trabalhar, ficou assistindo ali do fundo, perto de mim.

Ele tinha um cheiro... eu não sei explicar, cheiro de homem gostoso que se eu me apaixonasse, iria precisar de psicólogo, não que eu já não precise. Mas que tipo de preceito ele quebrou pra não entrar pro trabalho? Aquilo me acelerou o coração, como eu podia sentir ciúmes só de pensar em que poderia ter sido relacionado a energia sexual? De alguém que eu nem conheço...

Apolo: Preciso falar com você.

(Ai meu Deus! Quer dizer, meu Exu... ai sei lá, travei).

Deixa Acontecer MacumbalmenteOnde histórias criam vida. Descubra agora