A voz estridente da embaixadora corrompia qualquer nível de raciocínio que meu cérebro cansado tentava formular. Todo puto progresso foi lavado pelas águas sujas de um córrego de rua, e ainda que nos esforçássemos, não era o bastante. Nunca seria. Encontrei o olhar do coronel por um momento, era nítido o seu descontentamento, todavia, limitou-se a me observar.
— Você tem alguma coisa a dizer em sua defesa, agente?! — Havia uma fúria sobre humana em seu olhar e naquele momento eu soube que, na melhor das hipóteses, a embaixadora me suspenderia por mais alguns meses.
— Meu parceiro precisava de mim.
Noonan me encarou fixamente, os lábios entreabertos e toda a incredulidade estampada na face madura. Por Deus, se eu não fosse tão crucial para a operação, decerto seria mandado de volta para os Estados Unidos e não havia dúvidas do quanto ela e o coronel ficariam satisfeitos com isso. 1989 foi banhado pelo caos.
Luis Carlos Galán, o candidato favorito às eleições presidenciais, foi assassinado naquela semana. A polícia havia sido notificada das ameaças que o senador sofrera por chamadas telefônicas, e como se já não fosse ruim o suficiente, folhetos foram deixados em sua caixa de correios, ameaçando a sua família. Nossa inteligência alertou sobre a presença de sicários em Bogotá, aconselhando que Galán não fosse para Soacha, preferindo a rota para Valledupar, tendo em vista que um jogo da seleção estava marcado e isso traria uma boa distração.
Estava tudo certo e parte de nossa equipe estava à postos o aguardando, pois sabíamos que Escobar tentaria algo, todavia, contrariando nossa decisão, Galán mudou de ideia e viajou para Soacha, sendo morto a tiros enquanto caminhava para o palanque.
Não era meu departamento, mas fui convocado para estar com o candidato e eu não compareci. Então dava para entender o motivo de todos estarem putos. Claro que eu apenas acabaria morrendo junto do senador, mas na cabeça oca dos meus superiores, eu faria alguma diferença.
— Apenas para que você se sinta ainda pior — O coronel levantou-se, apagando seu charuto e caminhando em minha direção — Torres foi convocada para uma missão muito especial. Todos os seus esforços, agente Peña, não adiantaram porra nenhuma, e se houver um Inferno, você estará conosco.
— Embaixadora...
— Sinto muito, Peña. Você mesmo causou isso.
— Não. Não, vocês não podem estar falando sério! — Foi como se meu coração pudesse simplesmente sair pela porra da garganta — Eu vou no lugar dela, que se foda o que fizerem comigo. Você não pode permitir algo desse porte!
A respiração quente do coronel ainda pousava em meu pescoço e eu sabia o quanto ele adoraria sorrir.
— O que você pretende fazer? Sequestrá-la?
Perdi a merda do controle, o gosto metálico da fúria surgiu na boca e meus punhos se fecharam. Antes que eu pudesse sequer pensar na grande besteira que estava prestes a fazer, me lancei contra ele, o acertando em cheio no meio da cara. A dor instantânea de um soco não planejado cobrou o seu preço, e quando o coronel se desequilibrou pela surpresa, apenas continuei.
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ULTRAVIOLENCE | PEDRO PASCAL
FanfictionApós meses de investigações incansáveis e confrontos brutais com o Cartel de Medellín, Peña encontra-se exausto, com sua mente e espírito desgastados pela violência constante. Em busca de alívio e um breve refúgio, ele encontra consolo mergulhando e...