agridoce

370 30 54
                                    

O odor característico do tabaco se mantivera impregnado no ar, assim como o amargor da cerveja que dançava pela minha garganta

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

O odor característico do tabaco se mantivera impregnado no ar, assim como o amargor da cerveja que dançava pela minha garganta. Que ano fodido dos infernos. Varri todo o ambiente com olhar, naquele ponto da noite estava praticamente sozinho, tendo praticamente apenas os funcionários como companheiros.

Havia os bancos rígidos e desconfortáveis, o balançar constante do trem que fazia a garrafa mover-se aos poucos, o maldito desinfetante que agora incomodava as minhas narinas, já sensíveis. A escuridão da noite fez com que o meu reflexo sobre o vidro fosse mais aparente, e mais uma vez encarei o quão fodido estava.

Imerso em decisões estúpidas, movidas por um emocional que eu havia aprendido a controlar tão bem, e agora, simplesmente se dissipava diante dos meus olhos. Naquele tempo, enquanto me afogava em álcool e lamentos, não fazia ideia do quão pior as coisas iriam ficar. Louise me odiava, eu perderia meu emprego e Samantha havia mentido para mim.

— Hey, você tem um papel e caneta? — ergui o olhar para um dos funcionários, uma garota jovem de longos cabelos dourados sorriu.

Espalhei os guardanapos sobre o balcão pequeno. Murphy e eu andávamos em uma corda bamba a cada minuto, enfrentando a insubordinação da CIA, o pouco caso do presidente, a antipatia dos policiais colombianos, os espiões. O coronel havia dito abertamente que haviam espiões, é que eles poderiam estar usando a sala de arquivos. Tínhamos provas dos laboratórios, segredos de triangulação, a ajuda de Noonan em relação à La Quica, Soárez que não deixava pontas soltas.

A caneta girou entre dos dedos à medida que minhas sobrancelhas se juntavam e o cansaço cobrava o seu preço. Caralho. O que eu estava perdendo? Gravações. Puta gravação!

"Posso fazer isso por quanto tempo eu quiser, não se preocupe", ela disse suavemente.

A luz, meio fraca, forçava a minha vista e o som do trem se locomovendo era um incômodo. Cada piscar de olhos, cada suspiro, era acompanhado pela dor latejante, fazendo-me desejar o silêncio e a escuridão. Paguei a porcaria da conta e afrouxei os botões da camisa, lembrando-me da grande merda que fiz há algumas horas.

Eu era completamente louco por Samantha Torres, uma maldição platônica que carreguei por tantos anos, me satisfazendo com flertes e seu sorriso. O motivo pelo qual nunca tentei ficar com ela — apesar de dizer abertamente o quanto eu queria fodê-la — era justamente o fato de eu saber que iria machucá-la das piores formas possíveis, e caralho! Eu estava fazendo a mesma coisa com Louise.

Samantha era como um abraço reconfortante e eu sabia que o que sentia por ela era puro, gentil e quase inocente. A porra de um amor inalcançável, e isso fazia com que eu a desejasse ainda mais. Engraçada, inteligente. Puta merda, Torres sempre esteve por mim desde o começo, éramos uma dupla antes mesmo de imaginarmos todas as merdas que viriam depois.

Por outro lado, Louise era uma chama ardente, que incendiava cada canto do meu ser. Visceral, pulsante, cheia de eletricidade e intensidade. Eu odiava e amava o fato dela ser tão parecia comigo, e nos confins da minha insanidade, eu sabia que era isso que me atraía nela. E nós quase tivemos um filho. Porra.

ULTRAVIOLENCE | PEDRO PASCALOnde histórias criam vida. Descubra agora