quer se deitar comigo?

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A água gelada desceu pelas costas e eu me movi num súbito arrepio

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A água gelada desceu pelas costas e eu me movi num súbito arrepio. Confuso, olhei ao redor enxergando apenas uma sombra disposta à minha frente. Dedos firmes passeavam pela minha pele e eu senti o cheiro do sabonete invadindo as narinas. Era como um sonho distante. A entonação de voz tão cadente e serena ao mesmo tempo contrastava com o toque suave no meu rosto.

Me esforcei para ficar acordado, entretanto, cada piscada parecia mais longa e atrativa. Abri a boca para falar e um gemido sôfrego escapou entre dentes. Pisquei algumas vezes e notei estar sentado em uma das beliches. A claridade me causou fotofobia, levei uma das mãos ao rosto como reflexo e a sombra feminina dissipou a luz por um momento.

— Me admira que não tenha morrido no banho — A entonação de sua voz continuava suave como seda na pele e havia certa preocupação no olhar — Se sente bem o bastante para me contar o que porra aconteceu?

Usava uma das minhas boas camisas, a maior parte dos botões foram fechados e eu pude ver sua calcinha preta por baixo. Estava diferente. Os cabelos caiam abaixo dos ombros e seus lábios já não eram pincelados pelo rubro comum. As unhas longas foram cortadas e eu não fazia a menor ideia do que ela fazia aqui.

— Você não está aqui de verdade — Afirmei e voltei a dar duas batidas na minha face.

— Isso não é um bom sinal. Quanto você bebeu? — Tentou tocar minha testa, mas me afastei.

— Por que você está aqui?

— Dois anos sem dar um puto sinal de vida e é assim que sou recebida? Com vômito e perguntas soltas? — Ela riu, mas não parecia ser algo bom — Esperava pelo menos um "Senti sua falta".

Louise Noonan não era o delírio de um bêbado fodido. Os cílios longos e curvados tão próximos a minha face não eram fruto da minha imaginação. Fechei os olhos por um momento e instintivamente levei minha mão até a sua face. Apenas assim teria a certeza que não passava de um sonho distante. Sentir a textura aveludada de sua tez contra a ponta dos meus dedos fez o coração acelerar e eu me aproximei dela sem pudor, encostando nossos lábios em um selo demorado.

Não se afastou como eu supus que faria, mas tampouco deu formato para o beijo. Acredito que ela estava tão paralisada quanto eu. O seu perfume adocicado invadiu meus sentidos e eu quase gemi. O beijo se partiu, mas me mantive colado em sua face e um sorriso tímido surgiu.

— Você tá aqui.

Louise afastou-se, apressada. Pareceu tropeçar nos próprios pés e sentou na beliche ao lado da minha.

— Você não pode fazer isso.

A boca de Lou se comprimiu e ela desviou o olhar, mas eu pude ver as lágrimas lutando para descer. Demorou um tempo para elaborar alguma frase e eu senti como se a porra de uma eternidade tivesse passando diante dos meus olhos. As coisas iam de mal a pior e tudo o que eu não queria naquele momento fodido de ruim, era ter que lidar com relacionamentos, todavia, eu precisava fazer isso.

ULTRAVIOLENCE | PEDRO PASCALOnde histórias criam vida. Descubra agora