O baile de formatura

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Meu estomago está embrulhando de nervoso com a noite de hoje. Depois de três anos cansativos de aflição; paixão; desilusão; provas; vestibular e muito choro, eu venci. Consegui chegar ao final do ensino médio vivo. E agora só me resta apenas uma pequena noite de cerimônia para estar oficialmente formado.

Minha mãe buzina para me apressar enquanto ainda estou na frente do espelho dando os últimos retoques no visual. Me visto com um terno azul marinho brilhante, uma gravata da mesma cor e um sapato social preto. Meu cabelo está cortado nas laterais e em cima cheio, formando cachos que caem sobre minha testa.

Minha mãe veio da capital apenas para me ver formando. Meu pai não é muito ligado nessas coisas, e mesmo que ele fosse, só pode um acompanhante. E mamãe não perderia por nada minha colação.

Quando chegamos em frente a escola, a rua está cheia de carros e motos. Quase não conseguimos lugar para estacionar. Ao descer, sinto um frio na barriga por estar tão próximo do meu adeus ao Santa Inês.
Passos antes do portão, mamãe me para e ajeita minha gravata.

— Uau, como eu tenho um filho lindo.

Lanço os braços em volta dela, dando-lhe um sorriso largo, e entramos direto para o ginásio, onde será a cerimônia.

A escola está cheia de gente por todos os lados. O ambiente totalmente diferente e transformado. Tudo muito lindo. Um pequeno palco com balões azuis e dourados ocupa o lugar da trave. Na frente dele tem várias cadeiras cobertas de panos de cetim da cor rosa salmão para os alunos formando se sentarem.

Murphy e Estefany já estão posicionados. Minha mãe senta-se em uma mesa, fora da área dos alunos, e eu passo entre as fileiras estreitas de cadeira em direção aos dois. Estão lindos, mas minhas pupilas se dilatam ao me sentar e ver Michael chegando.

Ele usa um terno cinza chumbo, que torneia sua cintura, seus bíceps e o peitoral. Puta que pariu... A calça contorna suas cochas e bunda, e a grava preta valoriza ainda mais seu pescoço. O cabelo arrumado como sempre, cortado dos lados e levantado na parte anterior da testa todo fixado em laquê. Michael me fez apaixonar em um nível tão alto que meus pelos se arrepiam só em bater os olhos nele.

Nossa relação ainda não está tão boa. Depois do trabalho que fizemos na casa dele algumas semanas atrás, voltamos
nos falar, mas não como antes. Sinto bastante falta do Michael mais ousado.

Camila chega e se senta ao lado dele, uma pontada de ciúmes me faz remexer na cadeira. Repuxo o maxilar em reprovação.

A cerimônia de colação se inicia, o que é bom e triste ao mesmo tempo. Mal vejo a hora de estar longe do ensino médio, mas eu vou sentir falta de tudo aqui, principalmente de Michael. O que vai ser da gente ainda é muito incerto. Eu provavelmente vou estudar em uma universidade na capital, e ele vai escolher alguma coisa aqui perto.

Minha mente não para de gritar:
Você e ele nunca darão certo.

Eu me sinto caindo dentro de um poço e ficando cada vez mais distante da pessoa que fez meu colegial ter sentido. Minha mãe com certeza diria que o melhor ainda vai vir, que ciclos se encerram para começar um outro melhor. Mas eu quero
que Michael continue nesse meu novo ciclo.

Vestimos uma beca azul e colocamos capelo na cabeça. Somos chamados um por um para pegar nosso certificado e no final todos nós nos reunimos em cima do palco para tirar a foto oficial da formatura. Pulamos com o canudo de diploma na
mão e bem na hora o click é tirado.

Ando em direção a mesa onde está minha mãe. Uma mulher com cabelos ondulados e claros, e com uma saia tipicamente evangélica, está junto a ela. Quem é ela? E por que senta em nossa mesa? Até onde sei mamãe não tem amigas da igreja.

Sento-me na mesa e ergo os olhos, minha expressão é claramente de susto quando percebo que a tal mulher é ninguém menos que a mãe de Michael.

— Irmã Cristina. — Cumprimento ela, tentando disfarçar minha surpresa.

Eu não fazia ideia que nossas mães se conheciam.

— Bom, esse é o meu filhote — minha mãe diz, quase que se vangloriando. — Cadê o seu menino?

Cristina olha ao redor procurando por Michael, e ele aparece bem ao seu lado.

— Ah, aqui está meu garotão — diz ela, o puxando para que se sente.

— Meus parabéns, ele é lindo — minha mãe diz, e eu concordo plenamente.

Corpos em chamas: um clichê de romance adolescenteOnde histórias criam vida. Descubra agora