Já passou pouco mais de um mês desde o último dia de aula. As férias já acabaram, e eu acabei de chegar do litoral da casa do meu pai.
Hoje é o primeiro dia de aula, eu estou um pouco nervoso em ver Michael. A última vez que o vi foi um dia depois do fim
das aulas, e foi bem rápido, assim como nosso último beijo. Rápido e nada intenso. Desde a nossa conversa, o clima ficou estranho entre a gente. Na verdade, eu fiquei estranho. Quase não respondia as mensagens dele durante as férias. Então, ele também parou de me envia-las.O que me deixa animado com esse ano que se inicia é o fato de eu ter conseguido passar por esse primeiro ano do ensino
médio. Agora faltam apenas dois pequenos anos para poder entrar em uma universidade. Ainda não sei muito bem o que quero para o meu futuro, não sei que área de profissão escolher, mas eu espero que até lá eu consiga me encontrar profissionalmente.Resolvi não fazer nenhum plano para esse ano, pois no anterior eu descumprir quase todos. Acho que não sou muito bom
com metas a cumprir, principalmente falando daquela de não se apaixonar.
Em algum momento da minha vida, eu espero que as coisas sejam menos complicadas. Que eu seja menos complicado. E que os caras que eu me relacione sejam menos complicados.No intervalo, Camila me chama para sentar com ela e mais um grupo de evangélicos de várias igrejas. Conheço alguns. Tem um menino que acho bastante interessante, Fábio o nome dele. Eu até me apaixonaria por ele se não fosse muita loucura da minha parte. Ele é totalmente da igreja, leva cada centímetro da bíblia a sério.
- Como foi a viagem? - Camila pergunta. - Nem tá tão queimado. Que praia é essa?
- Foi boa. Eu quase não sair de casa lá.
- Quem vai pra uma cidade que tem praia e não aproveita o mar? - Ela franze o cenho, balança a cabeça. - Você é a pessoa mais besta que conheço.
- Cala essa boca e vai orar, garota.
- Você nunca perde essa mania de mandar os outros calarem a boca, né?
Me aproximo do ouvido dela e finjo que vou contar algo super importante.
- Não - sussurro.
- Você é um palhaço.
- Só um pouco.
Camila se levanta e entra na roda de oração que acabou de se formar.
- Você não vem? - ela quer saber.
Encolho os ombros e nego com a cabeça.
Enquanto eu vejo a oração de longe, Estefany chega e me chama para assistir um jogo de futebol na quadra.Ao chegar no ginásio, meu estomago parece ter levado um soco e meu coração acelera ao ver Michael sendo um dos jogadores. Bem na hora em que me sento, ele faz um gol e percebe minha presença.
Eu não sabia que tava com tanta saudade dele.
É segundo ano contra o terceiro. Estefany grita loucamente torcendo para o time adversário ao nosso, pois ela tá pegando um dos caras que tá jogando.
Ela rasga suas pregas vocais, e eu só consigo prestar atenção em cada passo de Michael.
Perdido nos detalhes do corpo dele, estudo o formato de suas coxas torneadas que só se valorizavam com o short fino e branco de futebol. A camisa é vermelha escrito Michael 10 e cola em seu corpo suado marcando seu peitoral e seus bíceps que me deixam ligeiramente sem ar.
Quando ele levanta a blusa para limpar o suor que escorre da testa dele, atinjo o auge do meu devaneio, até que ouço Estefany gritar:
- Cuidado, Will!
A bola acerta em cheio minha cabeça me fazendo estremecer e cair no chão.
Michael corre em minha direção com as chuteiras gritando sobre o chão da quadra. Ele estende os braços e pede para que eu siga seu dedo com os olhos.
- Você tá bem? - pergunta ele, me levantando.
- Acho que sim - respondo meio zonzo com a mão na cabeça.
- Tem certeza? Deixa eu te lavar na sala.
- Não, não precisa. - Saio do apoio dele e cambaleio.
- Vai continuar me tratando assim? - Ele volta a me segurar, e eu nego com a cabeça.
- Não, desculpa.
- Michael, leva ele na sala que eu vou pegar um gelo - Estefany diz.
- Escuta tua amiga, se apoia em mim.
Confirmo com um aceno, me seguro nos ombros dele e Michael coloca o braço em volta da minha cintura.
Ele abre a porta da sala e me deixa até minha mesa. Não o vejo assim tão de perto desde as férias quando nós ficamos estranhos e calados.
O olhar dele encontra o meu, e um sorriso tímido surge em seu rosto. Um calor sobe por minhas veias até meus olhos, iluminando meu semblante.
- Obrigado - digo.
- Como foi de férias?
- Foi tudo ótimo. - Engulo em seco. - E a tua?
- Foi legal.
A gente quer conversar, mas não encontramos palavras. Parecemos dois estranhos se conhecendo pela primeira vez, ele nem parece aquele menino atrevido que puxou assunto comigo na igreja.
- Eu... - Falamos os dois ao mesmo tempo na tentativa de quebrar o clima.
- Pode falar - digo.
- Eu tava com saudades.
O jeito como ele fala me faz sentir aquelas borboletas no estomago do começo. É uma sensação tão boa poder ouvir isso dele que não consigo conter minha alegria em meu rosto, ela transborda entre meus risos suaves.
- Eu também, bastante pra falar a verdade.
- Então a gente vai ficar numa boa?
- É o que eu mais quero - digo, e ele pisca os olhos e comprime os lábios balançando a cabeça.
Ele parece bastante feliz com minha resposta. Michael vem por trás da minha cadeira e me abraça, sussurrando em meu ouvido:
- Se puder, eu tenho uma surpresa pra ti hoje à noite.
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Corpos em chamas: um clichê de romance adolescente
RomanceCom 12 anos, Willian Rodrigues se apaixonou pela primeira vez. O cara que fez seu coração bater mais forte era Daniel, nada mais além do que o namorado da sua melhor amiga; uma menina evangélica que acabou conseguindo convencer ele a entrar para a i...