Camila está sentada ao nosso lado quando sem querer Marty e eu nos chamamos de Michael e Pablo; seus olhos se estreitam, sua testa se franze e ela pisca alguma vezes. Em seu rosto surge um sorriso de dúvida.
É claro que ela está se perguntando o motivo de nos chamarmos por esses nomes. E por que esses nomes são de Michael e Pablo, os meninos que ela provavelmente sabe que temos uma quedinha. No meu caso, um tombo completo.
- O que significa isso? - Ela questiona.
- Nada - digo.
- Como assim - ela usa aspas no ar - "nada"?
- É só uma brincadeira nossa, relaxa. - Dou um tapa no ar.
Camila não se contenta e vira-se para Marty. A cadeiradela se arrasta abruptamente estridindo no mármore da cantina da escola. Ela o encara.
- Marty, me diz que brincadeira é essa.
Ele me olha de canto de olho, não sabendo o que fazer. Marty não consegue resistir aos investimentos de Camila e então começa a contar. Ele fala que já nos chamamos assim há algum tempo, que é apenas zoação pela forma que eles tratam a gente. Camila repuxa no nariz, ela acha que esse tipo de brincadeira não pega nada bem. Marty conta que é só uma piada interna, que ela não tem que se preocupar.
- Espero que tomem cuidado com isso, quem escuta de fora pensa que vocês são gays. - Ela dá uma pausa. - E vocês sabem que o diabo usa nossas palavras pra transformar em realidade. Então, cuidado com esse tipo de gracinha.
Amo Camila, ela é minha melhor amiga, mas quando ela quer, ela é insuportável. Tudo é demônio, é diabo, é pecado.
- Já acabou com o sermão? - Meu tom de voz é ligeiramente sarcástico.
Ela balança a cabeça completamente séria.
- Cuidado viu, Will. Vai brincando.
- Ué? - Dou de ombros.
Estefany chega me abraçando e me contando do novo carinha que ela tá pegando. O sinal de início das aulas toca, ela e eu voltamos abraçados para sala e Marty e Camila caminham logo atrás.
Próximo à entrada da classe, Michael vem até a gente. Estefany se afasta, nem percebo para onde ela foi. Somos só eu, ele, seu abraço e o olhar de reprovação de Camila vindo do meio do corredor.
- Que tal dar uma voltinha hoje? - Ele diz no meu ouvido.
Afasto Michael de mim, desviando meu contato visual com Camila.
- Não posso, tenho que estudar pra prova de amanhã.
- Estuda depois, de madrugada.
Apesar de ser uma proposta tentadora, me lembro que estou me arrastando para passar na matéria de física. Sair com
Michael é bom, mas ficar pagando matéria ano que vem é horrível.
- Sinto muito, mas não vai dar não. Preciso enfiar minha cara nos livros, você deveria fazer o mesmo.
O professor Leonardo entra na sala e nós entramos atrás. A aula agora é geografia, minha matéria preferida, embora eu ache o Leo um saco.
- Camila disse que é melhor a gente acabar com aquela nossa brincadeira - Marty cochicha, assim que me sento ao lado dele.
Viro-me para ele com uma expressão de interrogação.
- Ela ainda tava falando disso? - pergunto, e ele assente.
- Sim. Ela acha que a gente pode acabar confundindo as coisas.
Não sei o que incomoda tanto Camila. O fato simplesmente ter amigos gays, ou a sensação de estar perdendo seus amigos para o pecado sem poder fazer nada.
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Corpos em chamas: um clichê de romance adolescente
RomansCom 12 anos, Willian Rodrigues se apaixonou pela primeira vez. O cara que fez seu coração bater mais forte era Daniel, nada mais além do que o namorado da sua melhor amiga; uma menina evangélica que acabou conseguindo convencer ele a entrar para a i...